No atual contexto da Igreja do SENHOR,
orações como esta estão cada vez mais raras de serem feitas. Num contexto
geral, nossos momentos de oração têm sido marcados por nossos pedidos cada vez
mais egoístas, pedindo a Deus que conceda bênçãos como prosperidade física,
financeira, intelectual, emocional e etc., sempre visando obter dos céus graças
que aumentem nosso conforto material, diante dum mundo caótico, onde as pessoas
estão cada vez mais cheias de problemas e insatisfação, seja no emprego, nos
estudos, na vizinhança onde moram, nas igrejas que congregam independente do
credo que assumam e, principalmente, no seio familiar. Diante de tais
situações, muitas vezes até legítimas, nossas orações são quase sempre
egocentristas, pois visam apenas à melhoria do nosso bem estar e a resolução
dos problemas, ou mesmo para que apenas alcancemos satisfação na situação em
que estamos vivendo.
Olhando para o contexto de perseguição que
viveram nossos irmãos do passado, na igreja primitiva, principalmente os
apóstolos, percebemos que os problemas e dificuldades deles eram extremamente
diferentes dos nossos, pois seus problemas acarretavam na perda de suas vidas
por causa do Santo Evangelho que abraçavam. Não era fácil ser crente naqueles
dias. Olhando para o episódio da primeira prisão feita aos apóstolos, a saber,
Pedro e João, por causa duma cura que Deus realizara através deles (At
3.1-4.31), percebemos o cenário de hostilidade em que eles viviam. Não apenas
os apóstolos, mas toda a Igreja sofria por causa do evangelho, o que tornava
suas vidas um desafio. Mas não havia novidades para eles. Quando Cristo os
chamou (Mt 10) deixou claro à eles quais seriam suas dificuldades e as
perseguições que sofreriam (Perseguições civis/políticas, religiosas e
familiares). Apesar disso, o sofrimento e as dificuldades não eram mais fáceis
de lidar.
No episódio da prisão dos apóstolos, temos
o relato da oração que a Igreja fez após a soltura de Pedro e João, e que nos
traz ensinos preciosos quanto a nossa disposição em servir, mesmo diante das
dificuldades. Embora seja extremamente preciosa, e traga muitos ensinos em
todos os pontos dela tais como: reconhecer a soberania de Deus sobre toda a
criação (At 4.24b); Sua soberania em revelar e cumprir Suas Palavras
registradas nas Escrituras (At 4.25-26); Sua soberania em conduzir a história
do Seu povo mesmo diante de situações que possam não parecer favoráveis ao Seu povo
(At 4.27-28), a parte final da oração daquela igreja nos ensina algo
fantástico: eles rogam à Deus para que sejam usados para testemunhar do SENHOR,
independente de seus conflitos (At 4.29).
Eles estavam cônscios de suas
dificuldades. Sabiam que corriam risco de morte e que as ameaças que sofriam
iriam aumentar diante do avanço do Evangelho. Mesmo assim, sua oração não
superestimava seus problemas e nem mesmo os subestimava. Sua oração colocou em
voga o real desejo dos seus corações e o entendimento e confiança que eles
nutriam perante a Soberania de Deus. Em sua oração, o desejo deles não era que
os problemas fossem solucionados. Em sua oração, seus desejos não eram nem que
suas visões sobre os problemas mudassem, pois já estavam cientes de que tudo aquilo
era por permissão e predeterminação de Deus. Sua oração era para que, diante de
todas àquelas ameaças, eles pudessem ser usados para testemunhar de Cristo,
enquanto Deus operava seu poder. Interessantemente, eles não pedem pra que Deus
continue efetuando milagres, mas sim que eles pregassem enquanto esses milagres
fossem sendo realizados, ou mesmo que eles não o fossem. A necessidade de
comunicar a Jesus era maior que seus problemas. Como resposta a esta sincera
oração, ao final dela, Ficaram cheios do Espírito Santo e puderam fazer aquilo
que pediram ao SENHOR: intrepidez para anunciar o evangelho.
Olhando para essa verdade santa, e
observando nossas orações, percebemos o quanto muitas vezes somos egoístas
naquilo que temos pedido ao SENHOR. Ocupamos-nos de colocar nossos problemas
diante dele, sejam familiares, sociais (amigos e vizinhos), profissionais ou
acadêmicos diante dele (e devemos nos ocupar em fazer isso mesmo, pois é Ele
quem nos instiga a orar por aquilo que queremos [Mt 7.7-12] e a depositar
diante dele aquilo que nos sobrecarrega para que sejamos aliviados[Mt 11.28]),
mas não podemos apenas esperar que este seja o fim de nossas orações. Como
criaturas redimidas pelo sangue do cordeiro, mudando nossa realidade para
filhos de Deus, por meio da fé em Cristo (Jo 1.12), nossa oração deve sempre
demonstrar nossa certeza da soberania de Deus sobre nossos problemas e
sofrimentos e, mais do que isso, deve ser acompanhada dum pedido sincero para
sermos instrumentos de Deus no anuncio de Cristo. Mais do que apenas depositar
nossos problemas diante de Deus e mais do que simplesmente rogar ao SENHOR que
opere maravilhas através de nossas vidas, como se essas maravilhas fossem um
fim em si mesmas, nossa oração, de agora em diante, deve ser: “Deus, nos use”!
Que o Espírito Santo, a exemplo do que ocorreu no episódio de Atos em questão,
nos encha com o Seu poder e nos dê igual intrepidez para anunciar o evangelho.