A vida cristã é cheia de desafios. Não
há um momento, nesta vida, em que nós não estejamos enfrentando alguma luta,
seja de ordem emocional, financeira, enfermidade e, principalmente, espiritual.
Nessa sucessão de lutas que enfrentamos, em alguns momentos, é natural de nossa
parte nos sentirmos fracos, oprimidos, deprimidos e queixosos a ponto de
pensarmos em desistir. Em alguns momentos, parece-nos que a tristeza toma conta
de nosso coração e limita ainda mais a nossa visão, ofusca nossa confiança em
Deus e nos vemos completamente sós, ainda que não estejamos.
Diferentemente do pensamento propagado
na atualidade, quando somos redimidos por Cristo, não deixamos de enfrentar lutas
em nossas vidas. Essas lutas, que se abatem sobre todos os seres humanos, são,
agora, enfrentadas de maneiras diferentes, uma vez que confiamos na graça
soberana de Cristo.
Entretanto, em alguns momentos, estamos
tão cansados das lutas já travadas que ao sinal da menor dificuldade, se
comparada ao todo que enfrentamos,
nos sentimos fracos, sem ânimo, sem coragem e dispostos a desistir de tudo. Nesse
instante, algumas atitudes são características em nós: Queremos nos isolar num
sentimento de autocomiseração, alimentamos e nos refugiamos numa tristeza
profunda, queremos lembrar a Deus tudo quanto já fizemos e todas as lutas já
enfrentadas como se pudéssemos cobrar algo de Deus e, ao mesmo tempo,
mostrar-lhe que já lutamos demais e que seria injusto da parte do Todo-Poderoso
enfrentarmos mais uma batalha. Somam-se a essas características o desejo por
ver Deus descer dos céus e enfrentar nossas lutas em nosso lugar, poupando-nos
de lutar, com grande poder e glória e o sentimento de que estamos sozinhos na batalha.
Mas não somos os únicos a passarmos por
essas crises. Alguns heróis da Bíblia Sagrada, como homens que são, enfrentaram
momentos assim e, longe de terem uma atitude positivista, também sofreram,
lutaram e, em alguns casos, quiseram desistir.
No primeiro livro dos Reis, no capítulo 18,
temos o relato da dura batalha entre Elias, Acabe, rei de Israel, Jezabel, a
diabólica e maquiavélica esposa do rei, e os profetas de Baal. A partir do
capítulo 19, temos o episódio em que Elias, cansado das batalhas contra seus
ardorosos opositores, vai ao deserto esperando que pudesse, enfim, morrer e encontrar
o descanso de suas lutas. Enquanto esteve no deserto, tendo desistido de tudo,
Elias aguardava seu fim, esquecendo-se de tudo o que Deus, anteriormente,
fizera em sua vida e que, agora, o estava sustentando para a próxima jornada
que duraria 40 dias.
Ao sair do deserto, sob a ordem de Deus,
ele se dirige ao monte Horebe. Lá, ao invés de subir ao cume do monte como Deus
lhe ordenara, ele prefere se esconder numa caverna, refugiando-se em sua
autocomiseração e na tristeza que, agora, tomara conta de sua alma. Lá, ele
começa a reclamar com Deus sobre os últimos eventos que tem lhe ocorrido e a
dizer qual era a sua utilidade e finalidade na obra, como se cobrasse algo de
Deus por servi-Lo por estar cansado de sua lida dentro do ministério profético.
Em resposta as queixas de Elias, Deus
manda-o sair da caverna com a finalidade de mostrar-lhe sua presença, duma
maneira que contraria a expectativa humana. Nesse instante, temos o relato de
vários elementos dos quais, acertadamente, diríamos: Deus está aqui! Sopra um forte vento, acontece um tremor de terra
na montanha e até fogo do céu cai, como ocorrera antes quando Elias enfrentou
os profetas de Baal, mas ele não sente a presença de Deus ali. Contudo, quando
o relato nos diz que soprou um cicio suave, ou seja, uma brisa, no rosto do
profeta, vemos ele sentir a presença de Deus ali, a ponto de, naquele instante,
ouvir a voz do seu Senhor. Elias aprendeu que muitas vezes é preciso o silêncio
para ver a ação de Deus e ouvir sua voz.
Logo após esse momento, já fora da
caverna, Elias novamente relembra algumas coisas a Deus, mas Deus demonstra seu
poder e soberania na condução da história ao ponto de lembrar Elias que ele não
estava só, pois havia mais alguns que não se curvaram perante Baal. Deus cuidou
do depressivo Elias quando tudo aos seus olhos, limitados pelas circunstâncias,
estava perdido.
Diante disso, quando olhamos nossas
vidas, a semelhança de Elias, também enfrentamos momentos em que queremos
desistir e esperamos pelo fim quando nos deprimimos. Também queremos lembrar a
Deus sobre nossas experiências passadas e nossa serventia na obra, como se Deus
fosse forçado a nos livrar pela nossa
fidelidade. Contudo, Deus não nos impede de enfrentarmos nossas lutas. Como
Deus dos exércitos que é, peleja conosco (Sl 3). Graciosamente, Deus cuida de
nós mesmo quando nós não estamos vendo, ou sentindo sua ação. Mesmo quando
parece que todos nos deixaram, Deus sempre está ao nosso lado (Sl 27.10; Sl 46;
Sl 139.7-12). De maneira pedagógica, Deus nos ensina que Seu poder é manifesto,
e que fala do modo mais simples: Por meio de Sua Palavra (Hb 1.1-2).
Ao lidarmos com as nossas crises,
precisamos aprender as mesmas coisas que Elias aprendeu. Podemos cansar de
nossas lutas e até termos momentos de fraquezas, porque somos humanos e
tendemos a sucumbir diante de tantos desafios sucessivos. Mas, também como
Elias, precisamos aprender a contar com a graça de Deus manifesta através de
Sua soberania e crermos que Deus está agindo e controlando todas as coisas para
o louvor de sua própria Glória (Rm 11.33-36).
Em Jesus, temos os mesmos exemplos de
perseverança em tempos difíceis. Enfrentou lutas, dificuldade, dissabores, mas,
como perfeito varão que era, confiava na graça de Deus e em Sua sabedoria na
condução da História. Como nosso representante diante de Deus, conhece nossas
aflições(Hb 4.14-16). Diante das nossas crises e das nossas lutas e
dificuldades, confiemos em Deus e testemunhemos que, em Deus, com Cristo, somos
felizes mesmo em tempos de difíceis. Nos juntemos ao poeta e declaremos:
Aflição
e Paz[1]:
Se paz a mais doce me deres
gozar,
Se dor a mais forte sofrer,
Oh! Seja o que for, tu me fazes
saber
Que Feliz com Jesus sempre sou!
Sou
feliz com Jesus,
Sou
feliz com Jesus, meu Senhor!
Embora me assalte o cruel satanás,
E ataque com vis tentações;
Oh! Certo eu estou, apesar de
aflições,
Que feliz eu serei com Jesus!
Meu triste pecado, por meu
salvador
Foi pago de um modo cabal!
Valeu-me o Senhor! Oh! Mercê sem
igual!
Sou feliz, graças dou a Jesus!
A vinda eu anseio do meu
Salvador,
Em breve virá me levar
Ao céu, onde eu vou para sempre morar
Com remidos na luz do Senhor!
(H. G. Spafford – Wm E. Entzminger)