É comum aos homens buscarem um
modelo, um exemplo, um padrão a seguir. Nossa geração não é exceção disso. As
pessoas elegem modelos maternais, paternais, esportistas e até modelos de
vidas, como ideais para seguirmos. Quando se trata da igreja, também não somos
exceção. Temos a mesma busca pelos mesmos modelos e, por vezes, elegemos nossos
líderes ou um irmão ou irmã com quem temos maior afinidade e admiração, como
modelo a ser seguido por nós. Deus, sabendo dessa tendência natural do ser
humano, estabeleceu um modelo perfeito para nós: Jesus! A Carta aos Filipenses,
traz o exemplo de Jesus e em como Ele se torna modelo para nós, de modo que
precisemos nos dedicar em imitá-Lo.
A igreja em Filipos foi a
primeira igreja em solo europeu, plantada por Paulo, por volta do ano 50 d.C.
Paulo nutria um profundo amor por essa igreja e essa epístola, juntamente com a
epístola à Filemon, são as cartas mais pessoais que ele escreve. Cerca de 10
anos depois de sua fundação, por volta do ano 60 d.C., Paulo está preso em
Roma, cidade em que ele seria morto, por amor ao evangelho. Ciente dessa
situação de Paulo, os Filipenses angariam uma oferta e a remetem à Paulo pelas
mãos de Epafrodito. Durante essa visita de Epafrodito, Paulo é noticiado dos
problemas daquela igreja que estava sofrendo, como rixas, discussões frívolas, discórdias
– principalmente por Evódia e Síntique – e a obra do Senhor estava sendo feita
por vanglória e partidarismo.
No primeiro capítulo da carta,
Paulo escreve falando sobre sua saudade dessa igreja e sobre a certeza de que
eles eram participantes de seu ministério. Ele descreve ainda sua situação e
deixa claro que a obra do Senhor deve ser feita independente das
circunstâncias, haja visto que ele próprio, preso, estava anunciando a Cristo.
Suas algemas eram as provas de que ele era prisioneiro em Cristo. Já no segundo
capítulo, Paulo trata sobre a unidade da Igreja e mostra a Cristo Jesus como o
exemplo, o modelo a ser seguido por aquela comunidade, com vistas à glória de
Deus. Em Fp 2.5-11, Paulo descreve a Jesus,
o modelo exaltado por Deus.
Jesus, o modelo de Deus (Fp 2.5-8): Por se tratar duma igreja
madura em idade naquele contexto e, por tanto, uma das mais esclarecidas do
conhecimento do Senhor, Paulo cita o que alguns estudiosos apontam como sendo a
letra dum cântico entoado na igreja primitiva para relembrá-los sobre a obra de
Cristo. Ciente das dificuldades daquela igreja e, embora ele se colocasse como
exemplo deles no texto anterior, em se tratando de modelo para a resolução dos
problemas enfrentados pelos Filipenses, Paulo cita aquele que é perfeito e de
quem nenhum cristão pode duvidar ou discutir como modelo. Paulo cita aquele que
foi dado pelo próprio Deus como modelo para a sua igreja: Jesus.
Mas a ideia de Paulo não é apenas
colocar Cristo como um modelo e deixa a questão entregue à mentalidade daquela
comunidade. Ele define bem o assunto mostrando em que Jesus é o modelo de Deus
para a Sua igreja.
1.
Jesus,
Modelo de Humildade (5-6): Sendo o
próprio Deus, Cristo abriu mão momentaneamente da sua glória completa,
limitando-se à forma humana, embora dotado plenamente de sua deidade. O exemplo
de humildade de Jesus já era conhecido pela comunidade, tendo em vista os
ensinos perpetuados pelos apóstolos. Em Jo 13, temos a passagem em que Jesus
lava os pés de seus discípulos, função que, na época, era exclusiva dos escravos.
O Rei da glória, Senhor do universo, lavava os pés dos seus discípulos e
ensinou-lhes que eles deveriam seguir Seu exemplo e abrir mão de toda a
vanglória humana. Sendo Deus, não quis ser igual a Deus, mas viveu de maneira
humilde, sem ostentação, sem arrogância, sem exigências, sem obter e querer
glória para Si mesmo. Enquanto os Filipenses buscavam vanglória, o Senhor da
Igreja buscou, em tudo, a glória do Pai.
2.
Jesus,
modelo de servo (7a): “E ele, assentando-se, chamou os doze e lhes disse: Se
alguém quer ser o primeiro, será o último e servo de todos.” (Mc 9.35). Essa foi uma das principais instruções de
Jesus, quando questionado sobre quem seria o maior entre seus seguidores, ou
sobre quem se assentaria ao Seu lado em Seu reino. Ele deixou claro que para
ser seu seguidor, não deve-se colocar como Senhor sobre todos, mas sim como
servo de Todos. Ele mesmo estava familiarizado com essa posição. As profecias
veterotestamentárias a Seu respeito descreviam-No como servo dos seus irmãos.
Ele mesmo não desejou ou lutou por outra posição, mas serviu em todo o seu
ministério. Como Rei, serviu aos seus semelhantes. Como o Filho do Deus vivo,
não viveu e nem desejou viver como príncipe. Simplesmente serviu. Enquanto os
Filipenses queriam as glórias e as vantagens imaginadas sobre ser cristão,
Paulo demonstra que Cristo, sendo Deus, viveu como servo e é servo que Ele
procura para pertencer ao Seu povo.
3.
Jesus,
Modelo de Obediência (7b-8): Durante toda a sua vida sobre a terra, Jesus
Cristo foi obediente à todas as autoridades. Foi obediente a José, seu
padrasto, e à Maria, sua mãe, honrando-os até o fim. Jesus Cristo foi obediente
aos seus governantes, cumprindo com as leis romanas da época. Jesus foi
obediente às leis sinaíticas[1],
não preocupado com as tradições, mas com o principio por trás da lei. Mas,
principalmente e sendo o motivo para ser obedientes aos demais, Jesus foi
obediente ao Pai até o fim. Antes de sua prisão, suas palavras foram “Pai, se possível, passe de mim este Cálice. Contudo,
seja como tu queres” (Lc 22.42; Mt 26.4). Sendo Deus, poderia irromper com
este momento, escapar da morte e não submeter-se a nada que humanamente não
quisesse se submeter. Entretanto, Jesus, como nas palavras citadas por Paulo,
foi obediente até a morte e morte de Cruz. Segundo as leis romanas, a cruz era
para os piores criminosos. Para os Judeus, a cruz era sinal da maldição de Deus
sobre o homem (Cl 3.13). Jesus tinha ciência sobre isso e tinha poder para
livrar-se dessa vergonha e humilhação momentânea. Contudo, como exemplo de
obediência, seguiu seu caminho até o fim, para satisfazer a vontade de Deus.
Não preocupou-se com o que estava perdendo ou com a aparente vergonha que
passaria. Ele decidiu obedecer e obedeceu até o fim. Enquanto os Filipenses
brigavam e faziam a obra do Senhor apenas para atrair os holofotes, Jesus
obedeceu ao Pai ao custo de sua própria vida. Jesus deveria ser imitado como
modelo para aquela Igreja.
Depois
de demonstrar como Jesus serve de padrão, de modelo para a Igreja, Paulo
continua seu discurso demonstrando que ele foi exaltado por Deus (Fp 2.9-11) depois de trilhar o caminho da
humilhação, aos olhos humanos, sendo humilde, servo e obediente.
1.
Jesus,
exaltado por Deus após a humilhação (9): É conhecido entre os cristãos a
paráfrase de Ez 21.26: “Os humilhados serão exaltados”. E embora o homem
naturalmente, depois da queda, desejem a glória e a exaltação para si mesmo,
esquecem-se que para verem a exaltação em
Cristo é preciso que vivam a humilhação por
Cristo. Jesus foi exaltado por Deus diante dos homens, mas isso depois de
suas constantes humilhações ao longo de sua vida terrena e, principalmente, nos
momentos finais de sua vida, culminando com a crucificação. Pedro, em Seu
discurso em At 4 deixa claro que Deus exaltou a Jesus, ressuscitando dentre os
mortos, sendo a morte o ápice de sua humilhação. Somente depois de vivenciar as
agruras de sua vida, em obediência humilde ao Pai, tomando o lugar de servo, é
que Jesus foi exaltado pelo Pai. Enquanto a igreja de Filipos se perdia de problemas menores buscando a
glória de si mesmos, Jesus foi exaltado e glorificado pelo Pai, depois de
seguir o caminho da humilhação.
2.
Exaltado
como Senhor sobre todos (10-11a): Aquele que colocou-se como servo de todos
e ensinou que o maior deve ser o servo dos seus irmãos, foi elevado, agora,
como Senhor sobre todos. Aquele que foi preterido pelos seus compatriotas,
agora foi honrado e será reconhecido diante e por todos os homens. Aquele que
foi humilhado, agora é honrado. Se anteriormente os homens não reconheceram sua
deidade e senhorio, agora, tais homens devem se curvar diante da sua glória e
soberania. Toda língua confessará e toda joelho se dobrará ante à glória de Jesus.
O Pai submeteu e continuará submetendo todos os homens ao Senhor dos senhores,
ao Rei dos Reis, a Jesus, o Cristo. Enquanto a igreja de Filipos estava
discutindo e não queriam unir-se e nem buscar outra vida, senão a de vanglória,
Paulo demonstra que Deus exaltou a Cristo, depois de sua humilhação, como
Senhor de todos, inclusive dos desunidos filipenses.
3.
Jesus,
exaltado para a glória de Deus (11b): O motivo pelo qual Deus estabeleceu
Jesus como modelo, e depois o exaltou, foi para a glória do Seu próprio nome. O
reconhecimento que as nações farão sobre o senhorio e deidade de Jesus é para a
glória do Pai. Tudo que o que foi feito para a criação, pela criação, por meio
da criação e através da criação foi e será sempre para a glória de Deus. Essa
visão é crucial para o homem na teologia paulina. Aos coríntios, ele disse que
devemos “fazer tudo para a glória de Deus”
(1Co 10.31). Aos Efésios, ele diz que Deus tem poder para fazer muito mais do
que podemos imaginar para que Seu nome seja glorificado em Cristo e na Igreja
(Ef 3.21). Deus preserva a glória do Seu nome e tudo quanto faz, o faz para
este fim. Sendo assim, Paulo deixa claro que a exaltação de Jesus é por este
mesmo motivo. Mas não apenas isso. Tudo o que Jesus fez e que Paulo apontou
nesse pequeno trecho, é tão somente para a glória de Deus. E é por esse motivo
que Jesus submeteu-se ao Pai em tudo: Para a glória do Pai. Enquanto os
filipenses estavam preocupados consigo mesmos e com suas rixas, buscando sua
própria glória, Deus exalta a Cristo e demonstra que tudo deve ser feito tão
somente para a Sua glória.
Num
contexto em que sempre buscamos alguém para nos assemelhar e imitar, busquemos
o melhor, imitando-O em tudo, sabendo do que nos aguarda quando estamos
dispostos a seguir nosso padrão. Precisamos, com Jesus, aprender: 1) a abrir mão do que e de quem somos e
temos. Existem na igreja muitas pessoas que orgulham-se por ter o posto que tem
ou pelo emprego que possuem, ou pelo status que mantém. Com Jesus, aprendemos
que precisamos ser humildes, pois foi essa uma das maiores lições que nos
legou. Não importa quem somos, ou quem Deus nos permite ser. Devemos ser
humildes abrindo mão das nossas vaidades naturais e não ouvindo nosso coração
que desesperadamente quer as glórias para si. 2) Precisamos aprender que Deus busca servos para sua igreja.
Embora sejamos seus filhos, Deus não nos chama para viver como príncipes neste
mundo. Sendo Jesus o próprio Deus e tendo aberto mão de sua posição, momentaneamente,
para ocupar a posição de servo, precisamos aprender a fazer o mesmo. Algum pastor
já disse que colocaria em sua igreja uma placa na porta dizendo “precisa-se de servos porque senhores já
temos muitos”. E essa é uma triste verdade. Na igreja do Senhor, muitos
querem mandar e serem servidos. Entretanto, o Senhor nos elegeu e nos chamou
para uma vida de servidão a Ele, conforme Sua Santa vontade. 3) Cristo foi obediente ao custo de sua
vida. E nós? O que estamos dispostos a abrir mão por amor e obediência ao
Senhor? Cristo foi obediente até o fim. Noé,durante a construção da Arca, foi
obediente até o fim da construção, mesmo parecendo, naquele contexto, loucura
obedecer a Deus. Ele anunciou o dilúvio (Gn 6; 2Pe 2.5, Hb 11) durante 120 anos
e ninguém lhe ouviu, e no céu não se via sinal de abundante chuva. Contudo, ele
obedeceu, mesmo sendo chacoteado pelos seus. E nós, estamos dispostos a
obedecer a Deus mesmo em situações em que parece loucura fazê-lo? Estamos
dispostos a abrir mão da nossa reputação e de sermos taxados algumas vezes, por
obedecermos ao Senhor? Com Cristo, precisamos aprender a obedecer ao Senhor. 4) Precisamos aprender que somente
seremos exaltados em Cristo depois de vivermos uma vida de humilhação pelo
Senhor. Não há como querermos os louros da vitória, sem antes levarmos as
cicatrizes da batalha. É fácil procurarmos e buscarmos a glória e a exaltação.
A teologia moderna prega que, como filhos de Deus, precisamos desfrutar da Sua
glória aqui. Contudo, com Jesus, aprendemos que a nossa glória, Nele, se dará
apenas após as lutas, provações, tribulações e triunfo nelas. 5) Precisamos estar cientes de que tudo
será feito para a glória de Deus. Deus não age para a glória da igreja ou do
cristão, mas sim o cristão, na igreja, deve fazer tudo para a glória de Deus.
Isso nos faz pensar sobre o propósito de tudo o que fazemos. A quem queremos
exaltar? Nós ou ao próprio Deus? A resposta a essa pergunta definirá as nossas
ações e a reações. Sigamos o exemplo de Cristo e imitemo-Lo!