Estamos passando por um momento extremamente
delicado. Nunca, na história da democracia em nosso país, assistimos o que têm
acontecido em nossa classe política. O processo de declínio se demonstra nos
âmbitos morais, econômicos, éticos e etc. Em meio a isso tudo está o povo
brasileiro que assiste, atônito, a todas essas questões e já não deposita mais
esperança na classe que ai está, embora ainda deposite sua esperança e
confiança naqueles que já passaram ou em quem possa surgir para “salvar a nação”,
exercendo uma função de “Messias político”, que conduzirá o povo rumo a libertação
de todas essas questões, rumo a uma nação prometida há anos, mas jamais
alcançada. Nesse instante surge a Igreja do Senhor, no Brasil, chamada a se
opor a tais questões, não optando por lado algum de maneira cega, mas a
sustentar os princípios da Palavra de Deus como meio norteador, depositando sua
confiança exclusiva e total no Senhor do Universo. Eis o grande desafio.
Assim como a população, obscurecida de
entendimento, busca um libertador dos problemas e do caos que se instaurou
nesse país. A grande questão é que a Igreja do Senhor precisa entender que o Brasil
só terá jeito quando render-se aos pés do Senhor e o Cristo conduzir este país,
através de Seus servos, exercendo a liderança política, orando por eles (1Tm
2.1,2), cumprindo as leis do estado (Rm 8.1-7), o que inclui o pagamento de
tributos (Mt 17.24-27; Rm 13.7). Embora saibamos que os “reis da terra” não se
submetem ao Senhor e não haja compromisso com o Senhor Deus (Sl 2), o cristão é
chamado a ter a mesma visão que João: Cristo é Senhor absoluto da terra (Ap
15.2-4; 19.1-21; 5.1-10). Portanto, é chamado a não submeter sua esperança em
outro que não seja o próprio Cordeiro de Deus.
Além disso, vivemos um momento em que parece
que voltamos no tempo e separamos o sagrado e o profano. Não conseguimos entender
que a resposta para nosso país é a graça de Deus e a sujeição a Ele. Não
entendemos que todos os problemas que enfrentamos são, na verdade, causados por
um distanciamento de Deus e de Sua Palavra. Não seguimos o exemplo de Calvino
que entendia que Genebra só poderia ser moral, social e politicamente redimida
quando se aproximasse dos princípios das Escrituras[1].
Vivemos uma espiritualidade em que Deus tornou-se um ídolo residente no templo
da Igreja. Nós estamos vivendo um momento em que não adoramos o Deus Vivo, mas
idolatramos uma versão leniente e conivente desse deus com o pecado e com
nossos achismos. Como resultado disso, não conseguimos mais entender que a
doutrina, outrora defendida com afinco pelos nossos irmãos do passado, da
depravação total[2]
seja real e que todos os problemas que temos, seja no âmbito em que for, é por
nos afastarmos de Deus e de Sua Palavra. Enquanto não entendermos que os
problemas do Brasil são, primeiramente, espirituais e não lutarmos para viver
os princípios de Cristo e de Sua Palavra, e não nossa interpretação da mesma,
não haverá mudanças significativas no atual quadro do Brasil. Ainda que
possamos argumentar de que o declínio deste mundo vai acontecer como está
escrito, os cristãos não podem ser instrumentos para tal resultado. Não podemos
nos associar a elas e nem termos responsabilidade ativa nesse declínio (Lc
17.1,2; Mt 18.6,7; Mc 9.42).
Também é necessário de que estejamos conscientes
de nossa tarefa e responsabilidade como cristãos neste mundo. Embora nasçamos
no Brasil, somos primeiramente, depois da redenção em Cristo, cidadãos dos céus,
vivendo neste mundo e vivendo no Brasil. Como cidadãos dos céus neste mundo,
temos a grande responsabilidade de viver fielmente como súditos do Rei e como
integrantes do Reino. Nossos princípios devem ser os princípios de Cristo.
Nossas prioridades devem ser as Dele. Nosso senso de justiça e pontos de luta
devem ser os Dele. Somos chamados das trevas para a luz para torná-lo conhecido
(1Pe 2.9) e para brilhar a Sua luz (Mt 5.14-16), fazendo a diferença neste
mundo (Mt 5.13) por viver e fazer a vontade de Deus. Nossa missão é brilhar a
Luz de Cristo e anunciar Sua mensagem em todo o mundo e a todos neste mundo.
Onde quer que estejamos nós não podemos esquecer de que esta é a nossa missão.
Se somos políticos, funcionários públicos, privados, estudantes, “do lar”e
afins, não podemos esquecer que devemos executar todos esses papeis para a
glória de Deus e para anunciar sua grandeza (Ef 2.10; 1Co 10.31; Cl 3.23; Mt
5.16). Nenhuma tarefa, nenhuma missão, nenhum trabalho, nenhum afazer ou labor
nosso pode estar distante dessa realidade. Nosso compromisso não é com o
Brasil, mas com o Senhor do Universo. E enquanto nós o servirmos estaremos
optando pelo melhor do Brasil, ainda que tenhamos de apoiar medidas impopulares.
Nosso país atravessa um momento delicado.
Nosso país enfrenta uma crise imensa. Nesse contexto a Igreja de Cristo é
chamada para ser luz e fazer a diferença. Mas jamais o faremos enquanto não
entendermos que a esperança de salvação e libertação do Brasil é o Senhor
Jesus. Jamais o faremos enquanto afastarmos Deus de nossa vivência e de nossas
ações cívicas. Jamais seremos instrumentos para a transformação do Brasil
enquanto o nosso compromisso for com o povo, com as instituições, com a história,
com as ideologias e não for exclusivamente com o Deus Triúno e com Sua Palavra.
Mas quando o for, poderemos clamar com o poeta e trabalhar pela salvação do Brasil[3].
1 Do vasto Mato Grosso
Até ao
Ceará,
Por vilas
e cidades
Do sul
ao Grão-Pará,
Deste
evangelho santo
Que nos
legou Jesus,
Ao povo
brasileiro
Levemos
nós a luz!
2 Do Sul ao Amazonas,
Do Oeste
até ao mar,
Já corre
a doce nova
Do amor
que não tem par.
Já muitos
foram salvos
Da morte
e perdição;
No sangue
do Cordeiro
Acharam salvação!
3 Contudo, ainda muitos,
Bem longe
de Cristãos,
Adoram
deuses feitos
Por suas
próprias mãos.
De tão
fatal pecado,
Da idolatria
vil,
Unidos
no evangelho,
Salvemos
o Brasil.
(A. H. da Silva)
[1] LOPES, Augustus Nicodemus. Calvino e a responsabilidade social da
Igreja. PES – Publicações Evangélicas Selecionadas. 24p.
[2] Consulte: SILVÉRIO, André do Carmo. João Calvino e “Os Cinco Pontos Do
Calvinismo”. Disponível em: http://www.monergismo.com/textos/jcalvino/joao_calvino_5pontos_silverio.htm.
Acessado em: 03/08/17.
[3] Nº 285 do Hinário Novo Cântico, da
Igreja Presbiteriana do Brasil.