Chegamos a uma época do ano em que as pessoas mais gostam de celebrar.
Independente da cosmovisão religiosa, as pessoas de todos os credos, inclusive aqueles
cujo credo é a falta de um, celebram esta festa que, há muito, deixou de ser
apenas uma festa religiosa e se tornou uma tradição de final de ano para
comemoração entre familiares, amigos, companheiros de trabalho e afins. O
natal, hoje, em muitos lugares, tornou-se sinônimo de troca de presentes,
comidas típicas, reuniões e o exercício da hipocrisia nos relacionamentos, em
alguns contextos, onde as pessoas desejam felicidades e um dia “feliz”, mas que
trabalham em todos os outros para ver a decepção, a frustração e a infelicidade
daqueles em que, nesta data, desejam o bem. Mas o que, de fato, é o Natal?
Evidentemente que sabemos que Jesus não nasceu no dia 25/12 e esta data
não era, originalmente, comemorado pelos apóstolos e pela igreja primitiva.
Tanto o é que não vemos esses relatos no livro de Atos, tampouco vemos
recomendação nas epístolas quanto ao assunto. A Enciclopédia Americana,
edição de 1944, declara que “O costume do
cristianismo era celebrar não o nascimento de Jesus Cristo, mas Sua morte. (A
comunhão, instituída por Jesus no Novo Testamento é a comemoração de Sua morte)”. Isto é, a Igreja celebrava o ápice de
sua salvação, quando da entrega final do cordeiro pascal para que a morte já
não mais tivesse domínio sobre os eleitos de Deus, conforme o que foi
prefigurado com Israel no Egito (Êx 12). A comemoração no mês de dezembro se
deu, então, séculos depois dos apóstolos e da Igreja Primitiva, como nos acrescenta
a Enciclopédia Americana: “Em
memória do nascimento de Cristo se instituiu uma festa no século quarto. No
século quinto, a Igreja Ocidental deu ordem de que fosse celebrada para sempre,
e no mesmo dia da antiga festividade romana em honra ao nascimento do deus Sol,
já que não se conhecia a data de nascimento de Cristo”. Pelos relatos da
história dos pastores no campo (Lc 2.8), e por sabermos, hoje, dos costumes
judaicos da época, é bem provável que o mês certo tenha sido o mês de outubro
em que Jesus nasceu.
De maneira interessante, os relatos dos evangelhos de Mateus e Lucas,
que registram os detalhes do nascimento do Salvador, descrevem cenas diferentes
das que estamos acostumados a ver nas celebrações natalinas. Não houve trocas
de presentes, não houve banquetes, não houve aves nobres e nem outra coisas que
presenciamos no Natal. Ao contrário, quando Jesus nasceu, não houve, para si,
lugar nas hospedarias e o Senhor do Universo nasceu numa estrebaria, sendo
posto numa manjedoura. Os primeiros visitantes a vê-lo foram os humildes pastores
que contemplaram a visão da milícia celestial, subindo e descendo, proclamando
que as boas novas de salvação haviam se cumprido e que o Salvador havia nascido
(Lc 2.8-20). Isso nos mostra que é preciso humildade para comemorar o
verdadeiro Natal e que o mesmo só faz sentido àqueles a quem o Pai revelar as
Boas Novas.
Os próximos a contemplarem o Senhor foram Simeão e Ana, que, no templo,
apesar da velhice, viram a salvação de Israel (Lc 2.21-38). Desse modo, Lucas
nos mostra que é preciso fé para que o verdadeiro Natal faça sentido para nós.
Não fé nos elementos da festa natalina, mas fé no Deus Encarnado (Jo 1.1-14),
que, vindo ao mundo, ensinou-nos os preceitos do Pai, tornando-se em figura de
servo (Fp 2.5-8). Cristo trouxe Luz aos que estavam nas trevas, perdidos em
religiosidade fraudulenta e aos que jamais haviam contemplado a Glória de Deus
e o Sol da Justiça (Ml 4.1-2; Is 9.1-7).Do oposto, esta se torna apenas mais
uma data vazia e sem sentido e/ou significado.
Por fim, precisamos entender que o evangelho não pode se assemelhar à pedagogia
e filosofia da libertação. O Salvador do mundo não veio apenas para ser adorado
e servido pelos pobres, fracos e oprimidos, socialmente falando. Mt 2.1-19 nos
mostram como ocorreu a visita dos magos, vindos do oriente, para adorar ao
menino, Filho de Deus, que acabara de nascer. Estes, verdadeiramente, adoraram
ao Salvador e lhe ofertaram o que havia de melhor em suas terras: ouro, incenso
e mirra. Assim sendo, nos ensinam que independente de situação social, Cristo
veio para alcançar o povo escolhido dentre todos os povos, sem divisão ou
dissensão de classes socioeconômicas. E é apenas entendendo o verdadeiro
significado do Natal que podemos dedicar ao Senhor o melhor do que possuímos,
seja material ou imaterial. Nossa condição financeira não nos exime de dedicar
ao Senhor Jesus o melhor do que possuímos.
Queridos, diante do que lemos, precisamos avaliar como tem sido a nossa
percepção e a nossa comemoração do Natal. Não é errado que tenhamos comentos de
alegrias, confraternizações, fraternidade e reciprocidade. Mas é preciso saber
que, para aqueles alcançados pelas boas novas do evangelho, o Natal é mais do
que meramente uma festa de confraternização. De fato, houve festa nos céus e
deve haver festa na terra. Mas para celebrar o autor da salvação que, vindo ao
mundo, trouxe luz àqueles que jazem nas trevas. Que neste Natal lembremo-nos
dessas verdades e adoremos ao Salvador por sua compaixão e graça.