É evidente que todos nós temos uma
visão com respeito ao papel das crianças no Reino de Deus e da importância que
tem a educação cristã que elas recebem nesta fase. Também compreendemos que
elas são a igreja do futuro e que são delas que sairão os próximos Pastores,
Presbíteros, Diáconos, Professores de Escola Dominical e etc. Contudo,
infelizmente, não temos ideia da dimensão da responsabilidade que isto traz a
cada um de nós enquanto lideres da igreja e pais desta parte do Corpo de
Cristo.
Embora em nossas
mentes esteja bem latente a visão do papel delas amanhã na igreja, muitas vezes
nos esquecemos – ou queremos esquecer – o papel que elas exercem hoje e da
nossa função de ensiná-los desde já nos caminhos do SENHOR, agindo muitas vezes
como os discípulos de Cristo agiram em Marcos 10.13-16, servindo de obstáculos
entre as crianças e Cristo.
Também é preciso
analisar o que tem ocorrido com as crianças na sociedade civil. Infelizmente
elas também perderam o seu papel na sociedade, diante de tantos absurdos que
vemos todos os dias ao nos determos aos meios de comunicação. A elas não cabem
mais o papel de sonhar, pois seus sonhos são muitas vezes destruídos pelas
pessoas que deveriam dar apoio a elas. Não se dá uma educação digna nem uma
condição digna de sobrevivência. Roubam a infância dos nossos pequeninos não
apenas cometendo atos libidinosos e hediondos, mas a própria estrutura de
pensamento que rege esta sociedade, observando-os como cidadãos do amanhã,
contribui para que não tenham voz para lutar por seus direitos, mas sejam
violentamente vituperados, sem direito algum ou, pior, tendo como
representantes de seus direitos, aqueles que sustentam tais pensamentos e que
também as violam moralmente.
Mas o que fazer hoje?
Qual o papel que a igreja deve desenvolver com relação ás crianças de modo que
preparemos a igreja do amanhã? O que eu e você temos feito para dar apoio e
base bíblica para esta “igreja do futuro”? Será que o nosso maior problema está
no fato de vermos elas única e exclusivamente como “igreja do amanhã” e nos esquecemos
de que elas pertencem – e são – a igreja de hoje? As respostas que damos a
estas questões definem radicalmente a postura que temos tomado em nossas
igrejas.
Contudo, diante de
tudo isto que já expusemos aqui, pensemos: “O que o nosso Mestre nos tem a
dizer diante destas coisas?” Qual seria a reação de Jesus ao adentrar a nossas
igrejas hoje e observasse a maneira como nós temos educado nossas crianças “no
caminho em que deve andar” (Pv 22.6)? Analisemos o que ocorreu em Marcos
10.13-16 e vejamos algumas lições para nós hoje.
1. Afastando as crianças
de Jesus: Ao olharmos a reação dos discípulos de Cristo quando as crianças
aproximam-se Dele, infelizmente, temos a sensação de que esta passagem está
ocorrendo dentro de algumas igrejas. É com tristeza que vemos aqueles que
deveriam ensinar a palavra de Deus as crianças muitas vezes agirem com certo
descaso para com elas achando que coisas referentes a Deus e ao serviço santo
não devem ser ensinados a elas de modo prático. É comum vermos em cultos
públicos – independente da denominação – algumas alas da Igreja presentes. Infelizmente,
apercebe-se a ausência daqueles que são mais jovens, e, principalmente, das
crianças. Vemos grandes trabalhos evangelísticos sendo realizados pela igreja,
contudo quantos trabalhos evangelísticos são feitos para alcançar crianças? A
maioria das pessoas talvez diriam que isso é de total responsabilidade dos
professores das ED’s, outros afirmariam que é de responsabilidade dos diretores
de UCP e estes afirmariam que isto é de responsabilidade da igreja (líderes)
ou, no máximo, das próprias crianças em relação aos amigos da escola. E no
final das contas ficam sempre um esperando pelo outro e o trabalho não vai
adiante. Por outro lado, há alguns anos temos experimentado na prática a
inserção do pensamento comum às Igrejas quanto à participação restrita aos
trabalhos da Escola Bíblica Dominical e, quando muito, no culto Dominical
Vespertino. Temos presenciado o desenvolvimento da geração “Escola Dominical”,
onde os progenitores e/ou responsáveis acham de sumária importância apenas a
participação nas EBD’s e esquecem-se de que, como parte do povo da aliança, são
conclamados a participarem tão somente de todos os trabalhos espirituais
promovidos pelas igrejas. Os responsáveis são chamados por Deus a inculcarem e
a incentivarem a participação ativa nos serviços santos dentro e fora dos
murais da igreja. Mas, infelizmente, os discípulos de Cristo em nossas igrejas
estão fazendo como os discípulos fizeram a mais de 2000 anos atrás:
impedindo-as de terem acesso ao SENHOR da Salvação por acharem a) desnecessário; b) cansativo; c) que
atrapalham a receptação da mensagem aos mais velhos. Contudo, a educação cristã
infantil não é apenas de responsabilidade da igreja, mas também dos pais que
muitas vezes negligenciam os preceitos bíblicos neste mister (Dt 6; Pv 22.6, Ef
6.4; etc.), esquecendo-nos que elas também são salvas pela graça mediante o ato
sacrificial de Cristo (Rm 6.23), pois, ainda que crianças, são pecadoras e
carecem da Glória de Deus (Rm 3.23). Ao invés de facilitarmos o acesso delas ao
SENHOR, muitas vezes as afastamos sem nos dar conta do que estamos fazendo.
2. A reação de Jesus: Quando Jesus vê
o que seus discípulos estavam fazendo com aquelas crianças, Ele se indigna e
passa a mostrar-lhes que elas devem ter acesso a Ele. Vale lembrar que aquelas
crianças ali eram filhos dos que estavam ouvindo a Jesus. O capítulo 10 de
Marcos é uma sessão toda dedicada à família. Primeiro, há um ensino quanto ao
divórcio, mostrando a importância de se ter uma estrutura sadia no casamento
para, então, ter uma família sadia aos pés do Senhor, tendo acesso a Ele e, por
fim, mostra o valor das finanças dentro da estrutura familiar do povo de Deus.
Um lar sadio, aos olhos de Cristo, é um lar onde não apenas os pais estão aprendendo
e crescendo na graça, mas os filhos também. Jesus mostra ainda que inclusive os
adultos ali presentes deveriam ser como crianças para entrarem no reino de
Deus. Mas o que isto significa? Devemos agir de modo infantil em nossas
atitudes cristãs? De modo Algum. Jesus está expressando ali que os discípulos
deveriam ser como aquelas crianças no sentido de que deveriam assumir algumas
características daquelas que ali estavam. Ou seja, viver sob a dependência
exclusiva do Pai, tendo sinceridade nas suas atitudes e desprovidos de senso de
autossuficiência. Naqueles dias, cultural e socialmente falando as crianças
eram totalmente dependentes de seus progenitores e não tinham voz própria.
Embora, por causa da nossa cultura herdada do catolicismo achemos que as
crianças já estão automaticamente no céu, este texto ensina-nos a repensar e a
refletir nossas atitudes diante do pai, vivendo na dependência Dele. Quando as
crianças estavam ali, próximas ao SENHOR Jesus, não era com falsidade ou por
interesse. Elas estavam ali não porque convinha, mas porque de fato era o que
elas queriam. Elas iriam viver toda a sua vida para servir á Cristo porque elas
foram tocadas por Ele ainda crianças. De modo que hoje nós também devemos ter a
mesma convicção expressa ali: quando as crianças se entregam ao SENHOR, elas o
fazem não por conveniência, mas por que realmente amam a Deus e quando entregam
suas vidas, elas entregam totalmente.
Precisamos
compreender que elas não são meramente a igreja do amanhã. Precisamos
compreender que elas já são a igreja e irão compor a liderança de amanhã, mas
serão aquilo que nós as temos ensinado e farão aquilo que nós temos feito a
elas. Qual tem sido a nossa postura como os responsáveis pela educação
cristã das crianças? Temos agido com descaso ou de fato temos nos preocupado
com esta questão? Temos compreendido que elas são de fato a igreja ou temos
simplesmente dito que elas são a “igreja do amanhã” e esquecendo de deixar um
legado de fé a elas? Qual a herança que você e eu, igreja atual, temos deixado
para nossas crianças e, consequentemente, para a igreja do que continuará
existindo sem a nossa presença? Que o SENHOR molde a nossa visão para termos
uma visão biblicamente orientada a respeito deste ministério da igreja. Que
Cristo transforme a nossa visão para que tenhamos a nossa em coerência com a
visão Dele mesmo em relação a este assunto. Que o amor que temos pelos nossos
infantes seja tão grandioso a ponto de nos fazer dar a eles o que de mais
precioso temos para nós: O acesso à Cristo e aos seus ensinos constantes. Que
Deus nos abençoe!