O atual cenário do
evangelicalismo está cada vez mais distante da verdade contida nas Escrituras.
Percebe-se erros grotescos sendo cometidos e heresias adentrando as portas da
Igreja de maneira que a tem feito perder, a cada dia, sua identidade conferida
pelas Escrituras e reafirmada ao longo dos séculos, principalmente quando da
reforma protestante. O que desencadeou tal situação não é um problema novo.
Sempre que aqueles que deveriam ser bastiões da verdade se distanciavam dela, o
povo começou a defender e a seguir heresias condenadas pela Palavra de Deus.
Hoje, de maneira clara, não tem sido diferente.
A cultura atual da grande massa brasileira é de aversão à
leitura. As pessoas não tem o hábito de ler. Por essa falta de cultura e de
incentivo à leitura, as pessoas dentro das igrejas também deixaram de
deleitarem-se meditando nas Sagradas Letras (Js 1.6-8; Sl 1) que conduzem à vida.
Outro problema é a falta de sede pelo conhecimento de Deus em sua própria
Palavra. Terceirizamos esse trabalho apenas ouvindo os “profetas” de Deus e
tomando suas palavras por verdade absoluta por, supostamente, falarem em nome
de Deus. Não procuramos encontrar fundamento e coerência entre a palavra do “profeta”
e a Palavra de Deus. Ao invés de fazermos como os crentes da cidade de Bereia
que, ao ouvirem as palavras do ap. Paulo, consultavam as Escrituras a fim de
saberem se ele realmente estava expondo claramente as verdades bíblicas (At
17.10-11). Jesus bem alertou seus discípulos no passado, e a nós mesmos,
respondendo aos saduceus, que tencionavam pegá-lo em contradição com os ensinos
vetero-testamentários, que o erro deles se dava por desconhecerem as Escrituras
e o poder de Deus (Mt 22.29). Geração após geração, vemos a igreja enveredar
por caminhos tortuosos e heréticos pelo mesmo motivo: desconhecem as
Escrituras.
Quando fala-se em conhecer as Escrituras, não falamos a
respeito de saber os textos a ponto de suscita-los mentalmente, evocando-os
pela memória. Tão pouco falamos a respeito de conhecer um ou outro trecho
bíblico. É bem verdade que existem histórias mais conhecidas entre as pessoas e
histórias menos conhecidas. É também verdade que, de maneira mística, as
pessoas se apegam a trechos como amuletos de sorte. O problema todo está no
fato de que não conhecem a totalidade das Escrituras e não buscam fazê-lo. O
conhecimento a respeito das Escrituras limitam-se, superficialmente, a alguns
salmos, histórias da monarquia e milagres de Jesus. Neste cenário de falta de
conhecimento bíblico e de falta de interesse em meditar em suas páginas, eis
que nos surgem algumas questões para que entendamos o porque de dedicarmos o
nosso tempo em estudar as sagradas Escrituras, tanto do Antigo, quanto do Novo
Testamento[1].
Porque
Estudar a Bíblia:
Estamos certos de que a resposta desta pergunta é de
fundamental importância para definir nosso empenho em ouvir a voz de Deus em
cada uma das suas páginas, principalmente num mundo em que a veracidade bíblica
tem sido amplamente discutida. Muitas respostas poderiam ser dadas a tal
questionamento, principalmente partindo do nosso pressuposto[2]
Teo-referente[3].
Elencamos algumas para que possamos compreender, ainda que de rápida maneira, a
importância de dedicar-nos na constante atividade de ler as Sagradas
Escrituras, que geram vida para aqueles que apreendem e compreendem seus
ensinos.
É
a auto-revelação de Deus
Partindo do
pressuposto de que toda a Escritura é inspirada por Deus (2Tm 2.16-17), sendo
ela mesma quem revela e manifesta o próprio Deus para que o possamos conhecer,
entendemos que não há outra maneira de conhecer a Deus, de modo verdadeiro e
pleno, dentro da maneira como o próprio Deus se revela a nós, se não for pelo
estudo meticuloso de todas e cada uma das páginas das Escrituras. Tudo o que
está ali impresso, seja no AT ou no NT, é Deus deixando-se conhecer pelo homem,
revelando parte[4]
do seu ser e sua vontade.
Diferente do antigo período em que Deus se revelava aos
homens por meio de seus profetas que ouviam suas palavras diretamente de Seus
lábios, no nosso caso, temos de ouvi-Lo através de Cristo (Hb 1.1-2), a
encarnação da Palavra de Deus (Jo 1.1).
Embora as pessoas estejam buscando cada vez mais por um
conhecimento essencialmente experimental, movido, muitas vezes, por
sentimentos, o conhecimento de Deus não pode se valer apenas desse método. Isso
porque nossas experiências são quase sempre subjetivas e dependem duma série de
fatores para que possamos compreendê-las. Deus, superior à nossa imaginação,
não quis entregar-Se a ela. Longe disso, proibiu veementemente que tentássemos
diminuí-Lo a algo que nossa mente possa criar e comparar (Êx 20.4).
Entretanto, em nossos dias, há um movimento muito grande,
em nome de uma busca intensa por experiência com Deus, que motiva os homens a
quererem uma intimidade maior com Ele. Querem o certo, do modo errado.
Intimidade se dá por experiência e convivência. Mas a maior convivência com
Deus está em praticar dia a dia sua Palavra e ouvir a Sua voz cada vez que nos
aproximamos das páginas das Escrituras. Interessantemente, Deus não limitou sua
revelação à nossa compreensão primária. Pelo contrário, ordena meticuloso
estudo e deleite justamente porque nossa mente rasa não consegue alcançar o ser
de Deus, de modo profundo. Se quisermos conhecer a Deus – e devemos querer –
não é de modo experimental num primeiro momento. Aliás, a nossa própria
experiência com Deus será conduzido por aquilo que sabemos a respeito Dele. E
saberemos a respeito Dele quando ouvirmos sua história, Seus ensinos e Sua
vontade. E isso se dá exclusivamente por meio de Sua Palavra, que é sua
auto-revelação.
Conta
a História da nossa Esperança
Independente do
reconhecimento humano, Cristo é a esperança de redenção para toda a criação.
Nele, tudo o que está morto, podre, frio, sem expectativa alguma, se refaz e se
torna vivo. A morte de Cristo trouxe, àqueles que são resgatados a partir da
cruz, vida. Cristo é tudo o que a criação decaída necessita. Esse conhecimento,
talvez, alguém diria, temos apenas a partir do NT. Mas isso não é totalmente
verdade.
Quando olhamos as Escrituras Sagradas, somos apresentados
a um cenário fantástico a partir de Gn 1. O universo criado por Deus era
perfeito, mas tão perfeito que o próprio Deus disse que tudo o que fizera era
bom, reservando ao sexto dia, dia em que criou o homem, a expressão de que tudo
era muito bom (Gn 1.1-31). Contudo,
Gn 3 nos mostra a inversão nessa realidade. Homem e mulher pecam contra Deus e
são, desse momento em diante, contaminados pelo mal e fazem com que toda a
humanidade a partir deles também o seja.
Deus
sentencia a serpente, satanás, a mulher, a natureza e o homem (Gn 3.14-19).
Tudo parecia estar perdido nesse momento. Até que, de maneira graciosa, em Gn
3.15, como sentença a satanás, Deus suscita uma esperança para todos os homens[5]. Ele
promete restabelecer a ordem que existia até a queda trazendo derrota a satanás
e vida ao homem. A partir desse momento, toda e cada uma das letras contidas
nas Escrituras demonstram o cumprimento do plano divino para restaurar o que
estava perdido com a queda.
Deus,
de maneira sábia, revelou seu plano no tempo e no espaço de modo que o homem
pudesse compreender a séria realidade em que se encontrava. Mas, ao mesmo
tempo, demonstrar a necessidade de ser mudado para que pudesse viver com Deus e
mostrar como deveria ser essa nova vivência, depois de plenamente redimida.
Desse modo, tudo o que consta das Escrituras se torna importante para nossas
vidas, pois somente reconhecemos a obra de Cristo e sua relevância para nossas
vidas quando entendemos como Deus criou, como ficou depois do pecado, como Deus
fez tudo apontar para Jesus e, por fim, como Jesus cumpriu todas as exigências
para que pudéssemos agora, redimidos, viver diante de Deus sem a mácula do
pecado e sem suas duras consequências. Somente as Escrituras nos mostram que a
dureza desse mundo e os sofrimentos aos quais todos os seres humanos estão
submetidos são transitórios. A bíblia nos mostra que, para o homem, sempre “há
esperança” (Jó 14.7).
Mesmo
sabendo da dificuldade de nossa sociedade em ler, principalmente em ler as
Escrituras, e mesmo sabendo da nossa tendência natural a ter aversão à Palavra
de Deus, precisamos buscar incessantemente conhece-lo através das Escrituras.
Não podemos nos acomodar com a cultura de falta de busca e deleite em Deus por
meio de Sua Palavra. Não podemos nos conformar com uma busca por intimidade com
Deus gerada por algo que não seja o reconhecimento de quem Ele é, e só
saberemos quem Ele é por meio dos Escritos Sagrados.
Como
no passado, precisamos retornar as Escrituras e deixar que ela norteie nossa
vida, nossas experiências, e que nelas estejam baseadas a nossa esperança.
Sendo, no presente, bastiões da verdade, lutemos para proclamá-la de forma
clara, estabelecendo-a como de fato é: nossa única regra de fé e prática. Ao
longo dos próximos meses, meditaremos, na congregação Presbiteriana do Nelson
Costa, em Ilhéus, sobre a nossa esperança apresentada no Antigo Testamento,
livro a livro, para que possamos cumprir com aquilo que a letra do poeta nos
conclama a fazer:
CHAMADA:
Eia, crentes
destemidos,
Da verdade
convencidos,
Para a luta
apercebidos,
No combate
entrai!
Eis que surgem,
aleivosos,
Erros grandes,
perniciosos,
Nestes tempos
perigosos
Vossa fé
mostrai!
O dever vos
chama.
Vosso Deus
proclama
A santa lei do
Eterno Rei,
Que vosso ardor
reclama.
Confessai, pois,
resolutos,
Fervorosos,
incorruptos,
E com lábios
impoluto:
Deus, Verdade e
Fé!
Vós por Cristo
libertados,
Não sejais
escravizados!
Os direitos
alcançados
Firmes
sustentai!
Salvação por
homens dada,
Paz fingida, paz
comprada,
Lei de Deus
falsificada,
Tudo rejeitai!
Vosso Deus não
muda.
O Senhor ajuda
A quem cumprir,
sem desistir,
E seus fiéis
escuda.
Avançai, pois,
exultando,
Sempre em Cristo
confiando,
Vosso testemunho
dando:
Deus, Verdade e
Fé!
(R.H. Moreton)
[1]
Por Antigo Testamento e Novo Testamento, falamos a respeito da velha e da nova
aliança. Não se trata de um ser mais importante que o outro ou que um tenha
supremacia sobre o outro. Ambos tem autoridade divina. O Antigo Testamento
trata da aliança simbólica ou representativa, em que cada elemento apontava
para o Cristo que haveria de vir. O Novo Testamento trata da aliança
definitiva, não simbólica apenas, mas agora real e perfeita, concluída e
aperfeiçoada na pessoa de Cristo, o Filho de Deus.
[2]
Por “Pressuposto” queremos dizer: lentes pelas quais enxergamos toda a
realidade ao nosso redor.
[3]
Teo-Referente: Deus como referência
[4]
Afirmamos que revela apenas parte do seu ser por compreender que a Bíblia
revela tudo o que precisamos saber sobre Deus, mas que Ele é além daquilo que
está revelado. Deus é superior ao nosso limitado conhecimento e forma de
compreensão. Desse modo, Deus se revela duma maneira que possamos compreender,
mas que não é totalitário nessa revelação.
[5]
Para maiores informações sobre este assunto, consultar o artigo
“Proto-Evangelho: Maria ou Cristo, Sobre quem é a promessa?” Disponivel em: http://refletindoparaavida.blogspot.com.br/2012/05/proto-evangelho-maria-ou-cristo-sobre.html
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