Esta é a única mulher descrita como sendo
juíza no livro de Juízes. O fato dela ser relacionada entre as personagens contadas aqui coloca-a
em grau de destaque.
Depois da opressão imposta por Eglom nas
tribos sulistas e após o ato triunfante de Eúde que, agindo sob a autoridade e poder
do Espírito de YHWH, matou o rei moabita Eglom, o foco muda e a história passa a
narrar as opressões impostas nas tribos nortistas. Nesse novo contexto, surgem
novos inimigos com ainda mais ganância e o prelúdio de uma nova e ainda mais sangrenta
batalha surge no horizonte. Os inimigos são ainda mais poderosos e a nação estava
novamente “fazendo o que era mau perante o
SENHOR, depois de falecer Eúde” (Jz 4.1). Nesse momento as batalhas tornam-se
ainda mais violentas pois o rei Jabim e o seu comandante Sísera se envolvem
nessa batalha contra os Israelitas. Cundall, comentando este fato, nos diz que
“a ameaça de Jabim e Sísera, longe de relacionar-se
a pequenas porções de território, envolvia seis tribos nesse novo conflito. Foi
o primeiro grande perigo da época dos juízes.[1]”.
Não é a primeira vez que o nome de Jabim
aparece nos relatos bíblicos. Cerca de um século antes, quando Josué conduzia a
nação de Israel, ele também batalhou com um rei de Hazor, chamado de Jabim (Js 11.1-11). É evidente que este Jabim não
é o mesmo Jabim de Juízes. É possível que este nome de Jabim não fosse um nome próprio, mas sim um título dado a dinastia
dos reis de Hazor, tal como no novo testamento temos o nome de Herodes que não se trata de nome próprio,
mas sim de uma dinastia de governantes que adotam estes títulos. Se observarmos
bem o relato de Josué veremos que a cidade de Hazor fora queimada e destruída pelos
exércitos Israelitas e, possivelmente, não tenha sido conquistada, dando a
oportunidade dos cananeus de reconstruírem a cidade e recuperarem sua hegemonia[2].
Possivelmente os relatos sobre o triunfo israelita tenha se espalhado naquele
reino, fazendo com que os cananeus da região de Hazor alimentassem sua revolta contra
a nação hebréia.
Após vinte anos de opressão por sob Israel
e após os constantes clamores deste povo por socorro, aparece Débora, a profetisa,
e é levantada por YHWH como uma libertadora desse povo. Sua história é notória,
pois no período do Antigo Testamento a mulher desenvolvia um papel secundário e
subalterno. Entretanto essa mulher tem importância tal para a história israelita
que até seu marido tem um papel secundário na história. A única vez que ouvimos
falar de seu marido, Lapidote, é quando mencionado que Débora é sua esposa. Mesmo
Baraque tem um papel secundário na história comparado ao papel que Ela exerce.
Baraque, cujo significado é “relâmpago”, foi encorajado a agir por conta dessa
talentosa e valorosa mulher.
Diante do temor apresentado por Baraque,
YHWH levanta Débora e a faz falar a este lembrando-lhe das promessas que Deus havia
feito de que entregaria os inimigos nas mãos dele. Este, por sua vez, teme ir
só e pede à Débora para segui-lo e esta promete ir, mas profere uma profecia dizendo
que Deus entregaria Sísera e seus soldados nas mãos dos israelitas, mas para
humilhar Baraque, o faria pelas mãos de uma mulher.
Embora muitos leiam este texto com a finalidade
de exaltar o papel feminino nessa luta, a verdade primária é que Deus queria humilhar
aos homens, principalmente a Baraque, fazendo com que a vitória sobre os inimigos
viesse por meio daquela a quem os israelitas menos esperavam e daquela por meio
de quem a vergonha para os homens perduraria. Deus a exaltou e humilhou os
homens de Israel fazendo com que o triunfo fosse por meio de mais uma
humilhação pela falta de fé e confiança que tais homens tiveram.
Entretanto, não podemos negar que a
vitória não veio por meio das mãos de Débora e sim pelas mãos de Jael. Ela matou
a Sísera, depois que este confiou na falsa sensação de segurança que lhe fora proporcionado
e ficou a mercê de seus inimigos, dormindo, dentro da tenda de Jael. Depois
deste episódio, Débora e Baraque entoaram um cântico relembrando os feitos de
YHWH por Israel. Depois desta triunfante vitória, é dito que “cada vez mais a mão dos filhos de Israel prevalecia
contra Jabim, rei de Canaã, até que o exterminaram” (Jz 4.24).
Para nós, que vivemos séculos à sua
frente desse episódio, torna-se importante lê-lo para aprendermos que Deus
independe de nós ou da nossa fé para agir. Temos a errônea ideia de que se nós
não nos movermos a fazer, Deus não poderá estabelecer a sua vontade e agir, uma
vez que Ele torna-se coadjuvante e dependente de nossa vontade. Na história
dessa valorosa e corajosa mulher, aprendemos que Deus usou, usa e usará até
mesmos aqueles que nós não valorizamos e utilizará dos meios que nós menos
esperarmos para cumprir Seu propósito em Honrar sua própria Aliança.
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