O Sermão da
montanha é uma das passagens mais conhecidas no novo testamento e o mais
famoso, por ser a mensagem que Jesus transmite aos seus quando ensina a
respeito do reino dos céus. Aqui, Jesus, deixa claro como é que os súditos do
reino devem viver, colocando em prática suas palavras e todo o conhecimento
central trazido por Moisés e os profetas. Por outro lado, Jesus demonstra que a
aplicação dos ensinos transmitidos era muito mais profunda do que a aplicação
rasa que os judeus, principalmente os Escribas e rabinos, faziam naqueles dias,
cegos pelo legalismo. Aliás, Jesus deixa claro que cumprir com os mandamentos é
muito mais difícil e pesado do que possamos supor, afinal, Jesus, deixa claro
que o pecado não é apenas quando eu pratico o ato em si, mas desde que eu apenas
imagine, já o cometi perante Deus. Mas antes de tratar sobre isso, ele expõe algumas
características que são sobrenaturais, antinaturais, portanto não são comum a
todos os homens, mas que se tornam naturais na vida daqueles que são súditos do
Rei. Jesus trata de demonstrar o manual de conduta daqueles que aguardam e
vivem, desde já a realidade do reino dos céus.
O verso 1 do
sermão da montanha nos mostra que havia ali uma multidão pra ouvir a Jesus.
Havia ali uma oportunidade ímpar, pois uma imensa multidão o apertava a fim de
ouvi-lo sobre o reino dos céus e sobre as características que deveriam ser
desenvolvidas por aqueles que quisessem estreitar seu relacionamento e
conhecimento com Deus. Naquele grupo de pessoas, estavam presentes aqueles que
não conseguiam acompanhar os ensinos heréticos dos judeus daqueles dias, por
serem carregados de legalismo. Os ensinos de Jesus trariam características que
o mundo naqueles dias não suportava e que era a imagem clara de alguém fraco,
por isso não eram ensinados pelos mestres do judaísmo. Jesus traz 9
bem-aventuranças que mostram claramente como Viver segundo a orientação de
Deus.
A segunda das
bem-aventuranças, é o texto em q meditaremos nessa noite e nos mostra a bênção
que é termos a Deus e a satisfação no
consolo que vem Dele e nos ensina sobre a realidade da vida com Deus:
1. Nessa vida, o sofrimento é natural:
Se alguém, ao seguir a Jesus e viver como súdito do Reino dos céus, espera não
enfrentar lutas e dificuldades, ou espera não sofrer, não está vivendo o evangelho
de maneira plena. Os judeus já conheciam a agonia e o sofrimento, desde a época
da divisão dos reinos e as consequências dessa divisão: Exílio na babilônia,
sofrimentos sob os impérios medo-persa, gregos, ptolomeus e romanos. Os salmos
já descreveram grandes sofrimentos envolvendo esses momentos (Sl 126, 137) e,
posteriormente, os apóstolos, principalmente Paulo, sintetizaram isso (Fp
1.29-30; 2Co 11.23-32; 12.7-9; Fp 4.10-13; Jo 16.33). Não havia outra realidade
para aqueles homens, a não ser compreender que, enquanto estivessem nessa vida,
as lutas, frustrações e sofrimentos seriam naturais a todos, fossem eles
Judeus, Gentios e, posteriormente, cristãos. Ao longo da história da Igreja,
seja com os apóstolos, seja com os pais da Igreja, seja com os crentes que
viveram e lutaram pelo evangelho antes de nós, em momentos de tormentas inimagináveis,
todos aqueles que se submeteram ao senhorio de Cristo enfrentaram lutas. E em algumas
situações, até mais que àqueles que não eram genuinamente cristãos. Se há uma
certeza da qual todos nós somos participantes, é que nós vamos enfrentar lutas
e, eventualmente, vamos sofrer.
2. No sofrimento, a presença de Deus é
real: A imagem que o judeu tinha a respeito de Deus era algo absurdo.
Deus, na cultura judaica, era um ser extremamente punitivo, quase sem
misericórdia e que, apesar de ser bom e misericordioso, na visão deles, era
mais parecido com um carrasco do que com um pai. Aliás, a cultura de
identificar-se com Deus como Pai era algo inimaginável ao judeu e totalmente
novo. Jesus revela um Deus pessoal e relacional. Um Deus que está presente no
sofrimento. Os salmistas esclareceram isso nos salmos (23.4; 27.10; 46.1;
46.10-11; 121), mas muitos ainda enxergavam Deus de forma distante, lá no céu,
sem se importar com o homem. Contudo, Jesus torna claro em suas mensagens
aquilo que os escritores sacros fizeram no Antigo testamento. Revelou um Deus
que está conosco, que está ao nosso lado nas adversidades e que, por mais que
nossos sentimentos e pensamentos gritem o oposto, peleja por nós. Mas há
momentos em que o Deus Todo-Poderoso nos ajuda a atravessar os vales sombrios,
fazendo-se presente em nossas vidas (Sl 23.4). Jesus com seus discípulos
ilustraram bem essa situação quando da tempestade no mar da Galileia – ou lago
de Genesaré – em que Ele dormia e seus discípulos se desesperaram por temerem o
perigo da morte (Mt 8.23-27; Mc 4.35-41; Lc 8.22-25). Ali, o que percebemos é
que, mais importante do que a força da tempestade ou dos ventos, ou se estamos
preparados ou não, é a presença de Cristo conosco enquanto enfrentamos a
tempestade. Se Jesus, o Deus Conosco, estiver conosco, enfrentamos as
tempestades. Jesus nos mostra que não importa a circunstância, o importante é
que Deus esteja conosco nas adversidades. Ele não nos deixa e não nos abandona.
Jesus deixa claro para seus ouvintes que a alegria era poder contar com o
amparo e auxílio divino, sempre! Nós não somos diferentes. Sempre que
enfrentamos as adversidades, se nossas vidas estiverem nas mãos do Senhor,
então ele estará conosco sempre, por mais duras que sejam as lutas.
3. Na presença de Deus, o consolo é sem
igual: Jesus trata como uma bem-aventurança, uma graça ao homem o fato
de poder chorar aos pés do SENHOR, pois seriam consolados. Os Judeus sabiam do
consolo que vem do SENHOR e que este consolo é bem diferente do que poderiam
imaginar. Elias, no monte, foi consolado por Deus (1Rs 19) diversas vezes, mas
não da forma que queria. Não foi tratado como “pobre-coitado”, nem mimado por
Deus. O Senhor mostrou sua grandeza e o ordenou que voltasse ao trabalho,
ungindo um rei, um profeta e um sacerdote. Quando Israel estava reclamando por
estar diante de perigo iminente, com o mar a frente, Faraó e seus soldados
atrás e sem poder fugir pelas laterais, o povo reclamou e Deus ordenou que
marchassem (Ex 14.15). Nos grandes perigos, aqueles que entregaram suas vidas
ao SENHOR provaram de seu consolo, de sua paz (Jo 14.27). O que Jesus assevera
aqui não é uma vida apenas cheia de sofrimentos, mas sim, consolo inigualável
na presença do todo poderoso. Todos passam por sofrimentos nessa vida. Mas
aqueles que são justificados por Cristo, passam a ser amparados e consolados
por Deus, através do Espírito Santo (Jo 16). Uma das maiores bênçãos que
podemos receber nessa vida com Cristo, não é a falta de lutas e aflições. Mas
sim o fato de sermos consolados pelo próprio Deus. Ele é quem está conosco,
tomando-nos pela Sua mão direita (Is 41.10-13) e nos conduzindo pelo caminho da
Graça. Em Cristo, encontramos consolo incomparável!
Diante de
tudo o que vimos aqui, uma coisa é certa: precisamos nos alegrar na certeza do
consolo que vem de Deus. Foi por isso que Jesus disse aos seus ouvintes “Bem-aventurados os que choram porque serão consolados”. Cristo
não nos incentiva ao prazer no sofrimento pelo sofrimento, mas nos alegra ao
declarar que se sofrermos e chorarmos na presença do Deus Todo-Poderoso,
seremos consolados por este mesmo Deus. Que benção maior, nas adversidades,
considerando o fato de que vamos passar por elas, poderíamos ter se não a
certeza de que seremos amparados pelo Criador, rico em graça e misericórdia?
Que privilégio o nosso de podermos experimentar a bênção da restauração da
alegria pelas mãos do próprio Deus! Caro leitor, que nós tenhamos a mesma
percepção do autor cristão, ao compor um dos hinos mais belos que falam da
nossa alegria e certeza em Cristo, mesmo em meio as adversidades, nos momentos
de Aflição e Paz[1]:
Se paz a mais doce me
deres gozar,
Se dor a mais forte
sofrer,
Oh! Seja o que for,
tu me fazes saber
Que feliz com Jesus
sempre Sou!
Sou Feliz, com Jesus!
Sou feliz, com Jesus, meu Senhor!
Embora me assalte o
cruel Satanás
E ataque com vis
tentações:
Oh! Certo eu estou,
apesar de aflições,
Que feliz eu serei
com Jesus
Meu triste pecado,
por meu Salvador,
Foi pago de um modo
cabal;
Valeu-me o Senhor,
Oh! Mercê sem igual
Sou Feliz! Graças dou
a Jesus!
A vinda eu anseio do
meu Salvador;
Em breve virá me
levar,
Ao céu, onde eu vou
para sempre morar
Com remidos na luz do
Senhor!
(Horatio
Gates Spafford[2]
– Wm. E. Entzminger)
[1] Hino
nº 108 do HNC.
[2]
Sobre a história desse belíssimo hino, acesse: http://www.sabornoprato.com/2013/03/historia-do-hino-aflicao-e-paz.html
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