Uma das modas
religiosas de nossos dias tem sido a chamada “Confissão positiva”. Segundo esta
corrente de pensamento, é preciso sempre dizer que estamos bem ou que estamos
sadios para que, de fato, passemos a estar bem e sadios. E muitos cristãos,
imbuídos desse malfazejo pensamento, tem seguido por este caminho que é
pecaminoso e não realiza nenhum tipo de cura.
Precisamos lembrar que a confissão positiva é uma mentira.
Isso porque ela prega que sempre devemos dizer que estamos bem, quando a
realidade é o oposto. Por mais que não pareça nada demais, o que estamos
fazendo é mentir e a mentira é um pecado. O Senhor Jesus, durante seu
ministério terreno, deixou claro aos seus opositores de que o pai da mentira
não pode ser outro, senão satanás, que é mentiroso desde sempre (Jo 8.44), e
todo aquele que segue seu caminho, realizando as suas mesmas obras, são seus
filhos (1Jo 3.6-9). Mas isso não pode ser uma realidade em nossas vidas, depois
de chamados à conversão pois, quando chamado por Jesus à conversão, precisamos
abandonar as obras da antiga natureza, e, dentre elas, está a mentira (Ef 4.25),
a fim de que a nossa nova natureza em Cristo seja evidente (Ef 4.17-5.1).
Em segundo lugar, precisamos lembrar, também, que essa
confissão está baseada num misticismo e não no poder de Deus. As pessoas acham
que precisam dizer coisas positivas para atrair coisas positivas, entendendo,
erroneamente, que nossas palavras têm poder. Mas, por mais “poder” que nossas
palavras pudessem ter, seria nada comparado ao poder do SENHOR em realizar o
que quer, seja a cura ou não, a resolução ou não de nossos problemas. Não há
diferença entre esse pensamento e a ideia de
mantras e afins. A Bíblia deixa muito claro que o que podemos fazer para
receber as bênçãos de Deus, que Ele vinculou à ações nossas, é obedecer sua
Palavra (Lv 26.3-13; Js 1.8), mas isso não significa que não possamos sofrer,
por mais que nós tenhamos pensamentos de paz, afinal, o próprio Deus encarnado,
Jesus, sofreu (Lc 22.42; Mc 14.36; Mt 26.39), e nos diz que passaremos por
aflições (Jo 16.33). O Senhor não nos manda ter pensamento positivo, muito
menos negativo ou murmurador. Manda-nos ter bom ânimo. Não existe pensamento
que possa trazer qualquer situação ao nosso cotidiano se o Senhor Deus não o
permitir. E, se permitir, quem poderá Lhe impedir (Is 43.13)? Nâo há nenhum
poder em nós, em nossas palavras ou em nossos pensamentos que possa frustrar,
acelerar ou sobrepujar os planos do Senhor (Jó 42.2)!
Em terceiro Lugar, precisamos estar cientes de que nossas
palavras não são profecias. Esta corrente diz que nós precisamos profetizar a
cura e as coisas boas sobre nossas vidas. De fato, a carta de Tiago, capítulo
3, nos fala sobre as bênçãos que surgem ou das maldições que resultam de nossas
bocas. Mas a questão é que não existe profecia verdadeira que não venha de Deus
e que revele a vontade de Deus. E o que valida uma profecia não é nossa vida,
palavra ou fé, mas a realização da parte de Deus (Dt 18.20-22) que tem
compromisso apenas com sua própria vontade, e não conosco. Não podemos sair por
ai dizendo aquilo que Deus não nos ordenou dizer, seja sobre nós ou sobre
outras pessoas, sem controle e sem refletir sobre a questão (1Co 14.32-33a). Nosso
querer não muda a vontade soberana do Criador e agirmos como se tivéssemos tal
poder nos torna falsos profetas, portanto, inimigos do SENHOR, e não Seus
servos.
Precisamos, por fim, estar cientes de que,
independente do que aconteça conosco, tudo cumpre os propósitos do SENHOR e são
esses propósitos que precisamos estar sempre dispostos a perceber e, por eles, lutar.
É bem verdade que as Escrituras nos instam a orar. E devemos fazê-lo sempre,
não para exigir, decretar ou etc., mas para suplicar e rogar ao Pai que nos
manifeste a Sua vontade, seja ela positiva ou não aos nossos olhos. Paulo, em
2Co 12.7-9, por três vezes pede ao Pai que lhe tirasse o espinho na carne. Mas seus
pedidos não alteraram ou mudaram os propósitos de Deus, por isso lhe é
respondido que a Graça divina lhe era suficiente. Olhando para Paulo e
comparando-o a nós, somos mais crentes e temos maior comunhão com Deus do que
ele? Quando ensina no que devemos pensar (Fp 4.8), não seria isso também o que
estava na mente dele? Portanto, se pensamentos positivos e confissões positivas
nos pudessem livrar das agruras e dificuldades, Paulo seria liberto do seu
espinho na carne. Mas lembremos que, diante do SENHOR, todas as coisas cooperam
para a o bem daqueles que são chamados e amados por Ele (Rm 8.28), mesmo quando
essas coisas soam ruins aos nossos ouvidos e nos pareçam terríveis aos nossos
olhos. Somos conclamados, antes de pensar positivamente e de proferir uma
confissão positiva, à pensar biblicamente e a fazer uma verdadeira confissão
cristã, como fizera Lutero, declarando que Deus era o seu Castelo Forte[1], mesmo em face aos perigos e dissabores:
Castelo forte é
nosso Deus,
Espada e bom
escudo!
Com seu poder
defende os seus
Em todo transe
agudo.
Com fúria
pertinaz
Persegue satanás
Com ânimo cruel!
Mui forte é o
Deus fiel,
Igual não há na
terra.
A força do homem
nada faz,
Sozinho está
perdido!
Mas nosso Deus
socorro traz
Em seu Filho
escolhido.
Sabeis quem é?
Jesus,
O que venceu na
cruz,
Senhor dos altos
céus,
E sendo o
próprio Deus,
Triunfa na
batalha.
Se nos quisessem
devorar
Demônios não
contados,
Não nos iriam
derrotar
Nem ver-nos
assustados.
O príncipe do
mal,
Com seu plano
infernal,
Já condenado
está!
Vencido cairá
Por uma só
palavra.
De Deus o verbo
ficará,
Sabemos com
certeza,
E nada nos
assustará
Com Cristo por
defesa!
Se temos de
perder
Família, bens,
prazer,
Se tudo se
acabar
E a morte enfim
chegar,
Com ele
reinaremos!
(M. Lutero – J. E. Von Hafe)
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