quinta-feira, 21 de março de 2013

Vencendo o Orgulho



Um dos pecados conhecidos como um dos “Sete pecados capitais[1]”, e que assolam a humanidade desde a sua origem é o pecado do orgulho. Ele é capaz de destruir a vida das pessoas, seus relacionamentos e põe a perder até mesmo suas qualidades e conquistas, pois, elas mesmas se supervalorizam em detrimento das demais, apontando, ou deixando à vista, apenas suas “glórias” para que as pessoas vejam, de modo que não deixam perceber suas limitações ou, mesmo que percebam, colocam suas qualidades em tal evidência a ponto de ofuscar as limitações. Pelo menos é o que desejam.
Em maior ou menor quantidade, este pecado, também identificado como o pecado da vaidade, afeta todos os homens. É comum para nós nos orgulharmos das coisas boas que fazemos, das vitórias que possuímos e, até mesmo, das coisas boas que pessoas com as quais nos identificamos e gostamos, fazem. Embora haja pessoas que, assumidamente dirão que não são vaidosas/orgulhosas, todos temos este pecado entranhado em nós. Afinal, tudo o que fazemos é para o agrado de alguém (Deus) e, quando não tomamos cuidado, nós é que queremos ser agradados. O orgulho/vaidade nos ronda (Ec 1.02) e precisamos constantemente lutar contra ele para não sermos dominado pelo desejo do nosso coração de ocupar um lugar que não é nosso, e cuidarmos para não fazer tudo para o nosso agrado.
A bíblia nos incita a lutarmos contra o mal e contra tudo aquilo que pode nos fazer cair, nos despindo da velha natureza, i.é., velho homem (Ef 4.22; Cl 3.9), que era totalmente inclinado para fazer aquilo que é contrário à vontade de Deus em nós. Não podemos fazer isso sozinhos. Mas, uma vez que o Espírito Santo nos habilita para agirmos de acordo com a nossa natureza regenerada em Cristo, podemos e devemos nos despir de tudo o que é anterior a nossa salvação no tempo e no espaço[2]. Sendo assim, embora seja difícil para nós lidarmos com qualquer pecado, podemos vencer o orgulho.
Neste ponto, podemos fazer a seguinte pergunta: 1)Como Deus trabalha em nós para vencermos o nosso orgulho? Muitas vezes, não sabemos como responder a essa pergunta, embora saibamos dar algumas respostas dentro daquilo que fomos acostumados a responder, em conformidade com a nossa educação cristã. Mas uma resposta precisa ser dada por nós para respondermos, a quem quer que seja, sobre essas questões.
Como já dito, não somos os únicos a lidarmos com esses problemas e nem a nossa geração é a única a ser marcada pelo orgulho. As Escrituras nos mostram como diversos homens do passado lidaram com elas de maneira que suas vidas tomaram rumos diferentes em suas histórias por causa desse pecado capital. Muitos homens tiveram de passar pelo tratamento de Deus a fim de se tornarem pessoas menos orgulhosas e, portanto, mais humildes em suas vidas, mesmo tendo de lidar com o gosto amargo do sofrimento para que, afinal, pudessem reconhecer a soberania de Deus e seu senhorio sobre a criação (Ne 9.6).
Um desses exemplos que demonstram claramente como Deus lida com o nosso orgulho é o de Naamã. O registro dessa transformação se dá em 2Rs 5.1-15a. Embora outras lições possam ser extraídos dessa porção das Escrituras, vemos também algumas das maneiras como Deus lidou com o orgulho desse homem, transformando-o num homem humilde, de coração grato a YHWH. Vejamos algumas valiosas lições que este homem aprendeu e de como Deus lidou com o seu orgulho:
1.        Deus mostra a limitação de Naamã (1-3): Naamã era um homem vaidosíssimo. O verso 1 do nosso texto nos diz claramente como Naamã era visto e como ele mesmo se via e se mostrava diante das pessoas. Não sabemos muitos a respeito desse homem, exceto de que ele era um “herói de guerra” e que “por ele o SENHOR dera vitória a Síria” sobre as nações com as quais combatiam. Ele era um homem temido por seus inimigos e admirado em sua corte. Era um homem excepcional para sua época e um homem que certamente todos os comandantes de guerras e reis da época, principalmente dominadores, gostariam de ter em seu exercito. O problema era que ele se via como um herói da guerra, esquecendo-se de sua condição como leproso[3]. Embora o texto mostre claramente como ele era visto, uma informação adicional nos foi dada pelo compilador[i] dos livros reais que demonstram que suas limitações eram observadas e vistas mesmo diante da imagem que Naamã transmitia. Ele podia fazer questão de menosprezar sua lepra em detrimento de seu status como soldado que era, mas isso não fazia com que sua lepra não fosse vista pelas pessoas, nem por Deus e nem por ele mesmo. Ele tinha ciência dela. Ele quis curá-la quando teve oportunidade. A serva de sua esposa, uma israelita levada como prisioneira percebeu a ponto de falar do profeta da parte de YHWH que poderia ser instrumento para que a vontade de Deus fosse executada. Mas, mesmo diante de todas essas coisas, a imagem que ele demonstrava por onde passava era de um herói. Naamã se orgulhava disso, bem como todos os seus também. Mas Deus demonstra ciência não apenas do Naamã, herói da guerra, mas também do Naamã, leproso, que precisava da única coisa que poderia curá-lo na época: um milagre divino. Enquanto ele se lembrava de suas glórias, Deus demonstrava sua limitação. Enquanto ele era temido como um homem valente, ele era visto como leproso. Enquanto ele se orgulhava de suas vitórias e de seu status, Deus deixava visível sua doença. Deus poderia curá-lo sem a necessidade de seu reconhecimento quanto à graça de YHWH, assim como o fez quando deu vitórias a Síria por meio dele. Mas Deus queria destruir o coração orgulhoso de Naamã, fazendo-o perceber sua real necessidade do Deus Todo-Poderoso, que estava reinando soberanamente naqueles dias sobre o Seu povo, mesmo que aos olhos do povo e de Naamã não fosse assim. Deus o faz conviver com sua lepra constantemente, mesmo a despeito do desejo que Naamã pudesse ter de ser curado de sua doença, como era o pensamento de qualquer leproso na época. A semelhança dessa ação da parte de Deus, temos o Apóstolo Paulo com seu espinho na carne (2Co 12.7-10) que, para não se vangloriar a respeito das visões que tivera (2Co12.1-6), foi-lhe posto esse espinho na carne e, quando pedia ao SENHOR para tirar, ouvia como resposta apenas a frase “A minha graça te basta” (2Co12.9). Naamã podia se envaidecer e se orgulhar de ser um herói de guerra, mas Deus mostrava claramente a sua limitação.
2.        Deus faz Naamã se despir de sua arrogância (9-13): Ouvindo Naamã sobre a existência de um profeta em Israel que poderia curá-lo, ele se dispõe a ir e arruma tudo o que seria necessário para esta empreitada. Chegando à terra do profeta, se depara com a seguinte situação: ele, soldado siro, respeitado e renomado na época, da nação dominadora de Israel, vindo de longe para ter com o profeta não é recebido pessoalmente pelo profeta, mas recebe apenas um recado por meio de um dos discípulos do profeta Eliseu. Para Naamã, com todo o seu orgulho, essa era uma situação constrangedora. O profeta não o recebe pessoalmente e ainda manda-o banhar-se nas águas do rio Jordão, como meio pelo qual Deus faria o milagre. Era simples demais para um homem como Naamã e totalmente desnivelado com a posição que ele exercia. Ele sai frustrado, deixando sua arrogância dominar seu ser por não ter sido valorizado por ser quem era e por ter feito o que fez: um herói da guerra. Suas palavras demonstram claramente sua frustração e sua arrogância no verso 11; “Pensava eu que ele sairia a ter comigo”. Sua arrogância chega ao ponto de menosprezar aquilo que o profeta falou-lhe: “Não são, porventura, Abana e farfar, rios de Damasco, melhores do que todas as águas de Israel? Não poderia eu lavar-me neles e ficar limpo? E voltou-se e se foi com indignação” (2Rs 5.12). Toda a tendência pecaminosa de Naamã estava manifesta ali, gritando por não ter sido tratado como ele achava que deveria e merecia ser. Seu senso de autossuficiência estava em níveis alarmantes e era justamente isso que o estava impedindo, naquele momento, de vislumbrar a grandeza da graça de Deus. Algo precisava mudar e não eram as palavras ou o comportamento do profeta e sim as palavras e o comportamento de Naamã que precisavam ser revistos. Ele precisava se despir de sua arrogância para poder atender à palavra de Deus e poder, por fim, gozar daquilo que almejava, pois esta era a vontade de Deus para a vida dele. Um dos oficiais de Naamã, mais crédulo que ele, confronta seu senhor, de maneira pacífica, com a finalidade de lhe fazer pensar a respeito das palavras do profeta. Quando o rapaz interpela lembrando Naamã da facilidade daquilo que lhe fora pedido, parece que a consciência dele é acionada no mesmo instante e ele se dá conta de que não era nada surreal o que estava sendo pedido. E Naamã atende a palavra do profeta após a interpelação de seu oficial. Naamã precisou abandonar toda aquela ira e indignação, bem como toda a arrogância que o cegava para ver que não estava sendo exigido dele nada além daquilo que ele poderia fazer. O rapaz argumenta com Naamã dizendo-lhe que se fosse algo sobremodo difícil, ele o faria. Mas sendo algo simples, por que não fazer? A resposta talvez seja clara, quando percebemos a arrogância dele: um homem da condição dele, um soldado valente com um problema tão sério não poderia ser curado com algo que não estivesse ao seu nível, nem mesmo por algo que não lhe impusesse dificuldade alguma. Ele precisou ver além de sua arrogância para que pudesse vencer sua lepra. Somente quando ele se despiu dela é que foi feito o milagre que ele tanto esperava e que ele queria, quando saiu da Síria e dirigiu-se até as terras de Israel. Ele precisou não se ver como um herói da guerra, e sim como um leproso para que pudesse entender sua necessidade e se despir da arrogância.
3.        Deus faz Naamã se submeter à Sua vontade (14): Ouvidas as palavras de seu oficial, Naamã resolve submeter-se àquilo que Eliseu havia lhe dito da parte de Deus. Naamã se submete à vontade e a ordem de Deus de maneira total, agora não mais importando as circunstâncias externas. Deus já havia operado em Naamã dando-lhe consciência de sua arrogância e da facilidade daquilo que estava sendo exigido dele. Deus já havia feito Naamã trocar sua visão, não vendo-se mais, apenas, como um herói de guerra, mas como um leproso. O que faltava a Naamã agora era atender à palavra de Deus com obediência para que pudesse ser curado. É interessante o fato de que aquele homem que se indignou pelo profeta não ter ido pessoalmente atender-lhe, ter, agora, mergulhado nas águas sete vezes até ficar limpo. Sua situação era outra. Agora ele era um leproso em busca de cura e não um herói querendo banhar-se. Ele mergulhou vez após outra sem ver resultado até a sexta vez. Para o homem que não queria banhar-se nenhuma vez, mergulhar seis vezes sem ver o resultado e sem discutir, era resultado duma ação interna da parte de Deus. Ele foi persistente naquilo que ele queria, mas mais que isso, ele foi obediente, mesmo não vendo resposta imediata. É importante notar que, se Deus quisesse curá-lo sem o uso das águas, ele o faria. Jesus, certa feita, curou dez leprosos apenas pela palavra do Seu poder (Lc 17.11-17). Deus poderia fazer o mesmo agora com Naamã, mas, como o propósito era, também, lidar com o orgulho de Naamã, o mergulho era necessário para fazer com que este guerreiro se submetesse a vontade e a Soberania do SENHOR dos Exércitos. Deus estava requerendo dele apenas obediência à sua Palavra, dita por meio do profeta. Ele precisou ser obediente para continuar em seus mergulhos mesmo não vendo resultado algum até o sexto mergulho. Mas, ao sétimo, algo aconteceu. Sua carne, segundo o texto, ficou limpa. Aquele homem viu o resultado, não imediato como ele queria, embora bem imediato comparado a outras circunstâncias da vida, apenas quando foi obediente até o fim, mesmo sem ver saída. O homem impaciente com o profeta, agora foi paciente com seus mergulhos. O homem vaidoso e orgulhoso demais para admitir que o profeta não lhe deu atenção, mesmo ciente de quem ele era, agora obedeceu sem discutir aos mergulhos mesmo não percebendo o resultado. O homem que não se submetia e não atendia aos seus inferiores quando isso não lhe agradava, agora se submeteu a lavar-se nas águas dantes menosprezadas por ele. A terceira maneira de como Deus venceu o orgulho de Naamã foi justamente fazendo aquele homem curvar-se diante de Seu Senhorio e Soberania. Não eram os mergulhos. Não eram as águas. Não era a fé de Naamã, pois ele não tinha, se não, teria feito logo que lhe foi dito por Eliseu. Não foram sua determinação e insistência apenas. Era tão somente a obediência a Deus que iria resolver o problema. Naquele instante um milagre foi feito, uma cura foi realizada. Mas não era a lepra o maior problema e que precisava ser curada. O maior milagre e a maior cura foram feitos no coração daquele homem que, agora, vencera seu orgulho. Esse era o verdadeiro milagre e propósito do SENHOR com tudo aquilo. Foi preciso submeter-se à vontade de Deus para, então, Naamã livrar-se de sua doença mais cruel e arrasadora de todas: o orgulho em seu coração.
4.        Deus faz Naamã reconhecer a Sua grandeza (15a): A cura já havia sido feita da lepra que Naamã possuía. Ele já havia tido consciência de sua realidade e de sua limitação, já havia se despido de sua arrogância e ignorância e já havia se submetido à vontade de Deus por meio de sua Palavra. Mas ainda faltava uma ultima lição a ser aprendida por Naamã. Ele precisava reconhecer a grandeza e suficiência do único Deus: o Deus de Israel. Este era o resultado direto do tratamento que Deus operara em sua vida. Não havia como Naamã vencer seu orgulho se não, reconhecendo a grandeza de Deus. Mas não havia como ele reconhecer plenamente a grandeza de Deus, se não vencendo o seu orgulho. Este era o último estágio daquilo que Deus fizera. Se a lepra fosse o grande milagre, Naamã nem precisaria reconhecer a grandeza de Deus naquilo tudo, como nos dias em que Jesus curou os 10 leprosos (Lc 17.11-17). O texto de Lucas nos diz que, dos 10, apenas um voltou para agradecer a Jesus pela cura.Todos foram curados e Jesus não devolveu a lepra para os nove que não retornaram. Eles foram curados, pois este era o propósito de Deus ao manifestar sua graça comum à todos os homens. O mesmo poderia ser feito agora, mas o propósito não era apenas a cura da lepra e sim vencer o ardiloso e orgulhoso coração do soldado siro, Naamã. Naamã termina essa primeira parte de sua história reconhecendo essa grandeza de Deus a ponto de dizer que “em toda a terra não há Deus, senão em Israel”. Seu senso de autossuficiência agora foi trocado e ele reconhece sua dependência da grandeza de Deus e reconhece essa grandeza ao admitir saber que não havia Deus fora dos limites de Israel. Ele não estava limitando Deus a uma tribo, como era de costume na época, ter deuses tribais. Ele reconhece que apenas Israel cultuava o único e suficiente Deus e que só em Israel poderia se achar tal Divindade. Naamã, antes herói da guerra, cheio de si, orgulhoso, agora era um homem temente, obediente e humilde a ponto de colocar-se como servo e não mais como um herói, como pode ser observado na continuação do verso 15, quando ele trata Eliseu como seu senhor e coloca-se na humilde condição de servo do profeta. Tratamento comum a quem estava pedindo favor, mas não comum para o orgulhoso soldado Naamã. Ele, agora, não mais orgulhoso de si mesmo, sabendo que o Naamã leproso fora curado de sua lepra, torna-se um herói da guerra temente ao Deus Todo-Poderoso. Ele passou pelo tratamento de Deus e foi curado e como prova da cura de Seu coração orgulhoso, foi reconhecer a grandeza do Deus que o havia libertado da lepra e do orgulho.
Quando nos damos conta de que vivemos numa sociedade extremamente orgulhosa e egoísta, cuja vontade é de demonstrar cada vez mais nossas glórias em detrimento de nossas derrotas, precisamos nos servir dos exemplos que as Escrituras nos propõem e aplicar tais lições ao nosso coração. Para vencer este pecado terrível e que cerca nosso ser desde os primórdios do mundo precisamos passar pelo mesmo tratamento que Naamã passou e termos os mesmos comportamentos e as mesmas conclusões as quais ele chegou, mas vendo cada uma delas dentro de nossa realidade. Vejamos algumas aplicações de tais lições para as nossas vidas:
1.        Precisamos que Deus constantemente nos mostre nossas limitações: Há muitas pessoas que, ‘inda hoje, se colocam diante das demais e diante da vida sem se lembrar das suas limitações. É muito mais prazeroso para nós sermos vistos como heróis destemidos a sermos vistos como leprosos. Assim como Naamã, temos ciência das nossas limitações. Mas apenas ter ciência delas não é o suficiente para nos tornarmos pessoas menos orgulhosas. Ao contrário, muitas vezes essa ciência nos dá mais subsídios para sermos orgulhosos, pois, na tentativa de não sermos vistos por aquilo que nos limita, procuramos demonstrar aquilo que nos prestigia. Precisamos ter uma visão verdadeira e coerente da nossa realidade. Não existem pessoas perfeitas nesse mundo e precisamos ter ciência disso. Precisamos que Deus nos mostre nossas limitações e não nos livre do desejo de queremos sobrepujar, ou mesmo esconder essas limitações com a finalidade de não demonstrar fraquezas. Aliás, este tem sido um dos pontos constantemente pregados em nossa sociedade orgulhosa. Aprendemos desde cedo que não podemos demonstrar fraqueza diante das circunstâncias e não podemos deixar nossas limitações nos limitar em nada. Embora seja produtivo superar nossos limites, viver em função de nossas glórias apenas asseveram ainda mais nossa fraqueza. Enquanto demonstramos nossas conquistas, Deus escancara nossas limitações de maneira que quanto mais queremos escondê-las, mais elas ficam perceptíveis. Não podemos nos colocar como heróis, mesmo que sejamos. Precisamos ter visão de nossas limitações e precisamos que Deus as mostre a nós constantemente para que saibamos que tudo vem dele, inclusive nossas glórias. Precisamos orar a letra do cântico, quando diz: “nunca me deixe esquecer que tudo o que tenho, tudo o que sou, o que vier a ser, vem de ti Senhor[4]”.
2.        Precisamos que Deus nos faça despir de nossa arrogância: A Semelhança de Naamã, precisamos nos despir de nossa arrogância. Muitas vezes nós agimos como o nosso senso autossuficiência e isso nos tem impedido de vermos a realidade sobre nós. Menosprezamos as coisas que acontecem conosco e menosprezamos as bênçãos de Deus sobre nossas vidas e, pior, não nos dispomos a servir a Ele e a atender sua Palavra quando não achamos que ela está a altura daquilo que imaginamos que somos. Preferimos encarar as situações dentro da nossa ótica e de acordo com nossa visão da vida a nos submeter-nos aos cuidados e direção de Deus. É preciso que Deus nos dê forças e nos faça despir da velha natureza, entranhada em nós, mudando nosso conceito sobre nós mesmos e sobre a vida para que nós possamos arrancar a arrogância de nosso peito e, com isso, caminharmos rumo a uma vida sem o orgulho. Não é fácil. De todos os  três inimigos que possuímos, o mundo, a carne e o diabo, nossa carne é a mais difícil de ser vencida pois ela é tudo aquilo que desejamos e queremos fazer na realidade. A nossa vida é uma luta constante contra nossos anseios. É por isso que, nas palavras de Paulo, precisamos nos despir da velha natureza, ou seja, do velho homem, que vivia antes da regeneração (Ef 4.22; Cl 3.9). Não há espaço para orgulho no coração dos filhos de Deus e embora em nós, agora, haja a santa semente que nos faze viver diferentes de outrora (1Pe 1.13-23), lutamos constantemente para que o novo homem, humilde, semelhante ao Seu Mestre, que deu o maior exemplo de humildade possível (Jo 13.1-20; Fp 2.5-11), possa ser o que vive em nós. Precisamos arrancar a arrogância de nós e somente pela graça de Deus é que o faremos.
3.        Precisamos que Deus nos submeta à sua vontade: Não existe outra forma de enfrentarmos a realidade de nossas vidas e mudarmos os nossos corações, se não pela vontade soberana de Deus e o modo como fazemos isso é nos colocando sob Sua Palavra, obedecendo-A. Esta é a maior dificuldade de todas para nós. Termos consciência de nossas limitações é menos difícil, assim como nos despir da arrogância também é menos complicado, do que nos submetermos ao senhorio do Senhor Jesus, a encarnação da Palavra de Deus, embora este seja o resultado de nos despirmos da arrogância. Sob tudo em nossa sociedade relativista, em que o padrão de certo e errado depende, e muito, da ótica que analisamos, nos submetermos à Palavra de Deus, fonte e origem daquilo que é certo, padrão absoluto daquilo que é verdadeiro, é ainda mais difícil do que nos dias de Naamã. Hoje, nós vemos as pessoas supervalorizando os mergulhos, as águas, a fé, a insistência, o resultado, ao invés de valorizar a obediência que é o que nos faz vislumbramos os grandiosos milagres da parte de Deus, embora, saibamos, que nem sempre a vontade de Deus é condizente com a nossa. A Dele é superior e é por isso que devemos nos submeter à sua vontade soberana, boa, agradável e perfeita. Para vencermos a orgulho de nossos corações e caminharmos humildes como Ele requer de nós, é preciso obedecer a Ele sob qualquer custo. Obediência. Esta é a maneira correta de obtermos vitória e o verdadeiro milagre sobre nossas limitações. Isso não significa livrarmo-nos delas. Mas sim, reconhecer nossa real necessidade de Deus, o que nos leva à quarta lição.
4.        Precisamos que Deus nos faça reconhecer sua grandeza: Contrariando a nossa mente autossuficiente, precisamos reconhecer a nossa necessidade de Deus e reconhecer sua grandeza absoluta sobre todas as coisas. A semelhança de Naamã, obedecer apenas não é o suficiente sem o reconhecimento sincero da existência única do verdadeiro Deus. Não pode haver espaço em nosso coração para outro ser que seja Grande, Suficiente e Senhor sobre a história, circunstâncias e sobre a nossa vida, exceto o SENHOR dos Exércitos. Precisamos reconhecer que Deus é o único digno de ser agradado e que Ele sim, é senhor sobre tudo, inclusive sobre nossas vidas, e não nós, cheios de limitações. Hoje, vivemos numa época em que Cristo, o Rei da Glória (Sl 24), é tratado como um mordomo das pessoas que existe apenas para servir e abençoar o Seu povo. Houve uma inversão de valores muito grande. Queremos, por causa do orgulho, tomarmos o Seu lugar como Senhor e dar a Ele o nosso lugar como servos, quando, na verdade, devemos nos acomodar em nosso papel de servos consagrados, separados, escolhidos por ele para sermos Seu povo eleito (1Pe 2.9). Muitas vezes, o que tem atrapalhado nossa caminhada é que nós nos vemos como heróis e tratamos a Deus como sendo o limitado, totalmente dependente de nossos anseios, desejos e vontades. Precisamos constantemente pedir ao Senhor, Deus de todo o universo, que nos faça ver e reconhecer sua grandeza e glória, pois só assim, a partir desse reconhecimento, venceremos o orgulho no limite de nossa mente/coração.
Tudo isso que aprendemos aqui só pode ser alcançado a partir de uma intimidade e comunhão com o Senhor Jesus, sendo pedido a Ele todas essas coisas em oração. Embora parta dele “tanto o querer como o efetuar” (Fp 2.13), precisa haver em nós uma disposição para tal, num segundo momento, e isso só é conseguido através da oração e da comunhão com Ele. Precisamos ser tomados do mesmo sentimento do poeta ao escrever o hino “Coração Quebrantado[ii]” do Hinário Novo Cântico, e orar suas palavras, dizendo:

Sonda-me, ó Deus, pois vês meu coração!
Prova-me, ó Pai, te peço em oração.
De todo o mal liberta-me, Senhor,
Até da transgressão que oculta for.

Vem me lavar dos vis pecados meus,
Conforme prometeste, meu bom Deus.
Faze-me arder e consumir de amor,
Pois quero te magnificar, Senhor.

Todo o meu ser não considero meu;
Quero gastá-lo no serviço teu.
Minhas paixões tu podes dominar,
Pois tu, Senhor, vieste em mim morar.

Lá to alto céu o avivamento vem
E que comece em mim, seguindo além.
O teu poder, as bênçãos, teu favor
Concede aos que são teus, ó Pai de amor.
Amém.



[1] Sendo eles: 1)Gula; 2)Avareza; 3)Luxuria; 4)Ira; 5)Inveja; 6)Preguiça; 7)Orgulho.
[2] Embora saibamos que a salvação se deu nos tempos eternos, quando Deus quis, em Cristo, salvar-nos de nossos pecados, essa salvação se deu no tempo e no espaço em Cristo na Cruz oferecendo um sacrifício definitivo por nós, mas alcançou-nos na história no momento de nossa conversão e regeneração por meio da Terceira Pessoa da Trindade.
[3] Lembremos que nos dias da monarquia entre o povo de Deus e também depois destes dias, a condição mais decadente e humilhante de todas era a do leproso. Ele não era visto como igual entre os seus e era separado dos demais do povo pois estava marcado com uma terrível doença pra época.
[4] Diante do trono: Vem de Ti, Senhor



BIBLIOGRAFIA
[i] HILL, Andrew E. & WALTON, J. H. Panorama do Antigo Testamento. 2007, Editora Vida Acadêmica. 2ª Edição. Pp. 247
[ii] ORR, J. E. & KASCHEL, W. (tradução e 4ª estrofe). Coração Quebrantado. 1999, Hinário Novo Cântico, Casa Editora Presbiteriana.