quarta-feira, 24 de julho de 2013

"- Deus, nos use!"

No atual contexto da Igreja do SENHOR, orações como esta estão cada vez mais raras de serem feitas. Num contexto geral, nossos momentos de oração têm sido marcados por nossos pedidos cada vez mais egoístas, pedindo a Deus que conceda bênçãos como prosperidade física, financeira, intelectual, emocional e etc., sempre visando obter dos céus graças que aumentem nosso conforto material, diante dum mundo caótico, onde as pessoas estão cada vez mais cheias de problemas e insatisfação, seja no emprego, nos estudos, na vizinhança onde moram, nas igrejas que congregam independente do credo que assumam e, principalmente, no seio familiar. Diante de tais situações, muitas vezes até legítimas, nossas orações são quase sempre egocentristas, pois visam apenas à melhoria do nosso bem estar e a resolução dos problemas, ou mesmo para que apenas alcancemos satisfação na situação em que estamos vivendo.
Olhando para o contexto de perseguição que viveram nossos irmãos do passado, na igreja primitiva, principalmente os apóstolos, percebemos que os problemas e dificuldades deles eram extremamente diferentes dos nossos, pois seus problemas acarretavam na perda de suas vidas por causa do Santo Evangelho que abraçavam. Não era fácil ser crente naqueles dias. Olhando para o episódio da primeira prisão feita aos apóstolos, a saber, Pedro e João, por causa duma cura que Deus realizara através deles (At 3.1-4.31), percebemos o cenário de hostilidade em que eles viviam. Não apenas os apóstolos, mas toda a Igreja sofria por causa do evangelho, o que tornava suas vidas um desafio. Mas não havia novidades para eles. Quando Cristo os chamou (Mt 10) deixou claro à eles quais seriam suas dificuldades e as perseguições que sofreriam (Perseguições civis/políticas, religiosas e familiares). Apesar disso, o sofrimento e as dificuldades não eram mais fáceis de lidar.
No episódio da prisão dos apóstolos, temos o relato da oração que a Igreja fez após a soltura de Pedro e João, e que nos traz ensinos preciosos quanto a nossa disposição em servir, mesmo diante das dificuldades. Embora seja extremamente preciosa, e traga muitos ensinos em todos os pontos dela tais como: reconhecer a soberania de Deus sobre toda a criação (At 4.24b); Sua soberania em revelar e cumprir Suas Palavras registradas nas Escrituras (At 4.25-26); Sua soberania em conduzir a história do Seu povo mesmo diante de situações que possam não parecer favoráveis ao Seu povo (At 4.27-28), a parte final da oração daquela igreja nos ensina algo fantástico: eles rogam à Deus para que sejam usados para testemunhar do SENHOR, independente de seus conflitos (At 4.29).
Eles estavam cônscios de suas dificuldades. Sabiam que corriam risco de morte e que as ameaças que sofriam iriam aumentar diante do avanço do Evangelho. Mesmo assim, sua oração não superestimava seus problemas e nem mesmo os subestimava. Sua oração colocou em voga o real desejo dos seus corações e o entendimento e confiança que eles nutriam perante a Soberania de Deus. Em sua oração, o desejo deles não era que os problemas fossem solucionados. Em sua oração, seus desejos não eram nem que suas visões sobre os problemas mudassem, pois já estavam cientes de que tudo aquilo era por permissão e predeterminação de Deus. Sua oração era para que, diante de todas àquelas ameaças, eles pudessem ser usados para testemunhar de Cristo, enquanto Deus operava seu poder. Interessantemente, eles não pedem pra que Deus continue efetuando milagres, mas sim que eles pregassem enquanto esses milagres fossem sendo realizados, ou mesmo que eles não o fossem. A necessidade de comunicar a Jesus era maior que seus problemas. Como resposta a esta sincera oração, ao final dela, Ficaram cheios do Espírito Santo e puderam fazer aquilo que pediram ao SENHOR: intrepidez para anunciar o evangelho.
 Olhando para essa verdade santa, e observando nossas orações, percebemos o quanto muitas vezes somos egoístas naquilo que temos pedido ao SENHOR. Ocupamos-nos de colocar nossos problemas diante dele, sejam familiares, sociais (amigos e vizinhos), profissionais ou acadêmicos diante dele (e devemos nos ocupar em fazer isso mesmo, pois é Ele quem nos instiga a orar por aquilo que queremos [Mt 7.7-12] e a depositar diante dele aquilo que nos sobrecarrega para que sejamos aliviados[Mt 11.28]), mas não podemos apenas esperar que este seja o fim de nossas orações. Como criaturas redimidas pelo sangue do cordeiro, mudando nossa realidade para filhos de Deus, por meio da fé em Cristo (Jo 1.12), nossa oração deve sempre demonstrar nossa certeza da soberania de Deus sobre nossos problemas e sofrimentos e, mais do que isso, deve ser acompanhada dum pedido sincero para sermos instrumentos de Deus no anuncio de Cristo. Mais do que apenas depositar nossos problemas diante de Deus e mais do que simplesmente rogar ao SENHOR que opere maravilhas através de nossas vidas, como se essas maravilhas fossem um fim em si mesmas, nossa oração, de agora em diante, deve ser: “Deus, nos use”! Que o Espírito Santo, a exemplo do que ocorreu no episódio de Atos em questão, nos encha com o Seu poder e nos dê igual intrepidez para anunciar o evangelho.