domingo, 22 de dezembro de 2013

Experiência com Deus: Ignorância ou conhecimento?

         O atual cenário do evangelicalismo está cada vez mais distante da verdade contida nas Escrituras. Percebe-se erros grotescos sendo cometidos e heresias adentrando as portas da Igreja de maneira que a tem feito perder, a cada dia, sua identidade conferida pelas Escrituras e reafirmada ao longo dos séculos, principalmente quando da reforma protestante. O que desencadeou tal situação não é um problema novo. Sempre que aqueles que deveriam ser bastiões da verdade se distanciavam dela, o povo começou a defender e a seguir heresias condenadas pela Palavra de Deus. Hoje, de maneira clara, não tem sido diferente.
            A cultura atual da grande massa brasileira é de aversão à leitura. As pessoas não tem o hábito de ler. Por essa falta de cultura e de incentivo à leitura, as pessoas dentro das igrejas também deixaram de deleitarem-se meditando nas Sagradas Letras (Js 1.6-8; Sl 1) que conduzem à vida. Outro problema é a falta de sede pelo conhecimento de Deus em sua própria Palavra. Terceirizamos esse trabalho apenas ouvindo os “profetas” de Deus e tomando suas palavras por verdade absoluta por, supostamente, falarem em nome de Deus. Não procuramos encontrar fundamento e coerência entre a palavra do “profeta” e a Palavra de Deus. Ao invés de fazermos como os crentes da cidade de Bereia que, ao ouvirem as palavras do ap. Paulo, consultavam as Escrituras a fim de saberem se ele realmente estava expondo claramente as verdades bíblicas (At 17.10-11). Jesus bem alertou seus discípulos no passado, e a nós mesmos, respondendo aos saduceus, que tencionavam pegá-lo em contradição com os ensinos vetero-testamentários, que o erro deles se dava por desconhecerem as Escrituras e o poder de Deus (Mt 22.29). Geração após geração, vemos a igreja enveredar por caminhos tortuosos e heréticos pelo mesmo motivo: desconhecem as Escrituras.
            Quando fala-se em conhecer as Escrituras, não falamos a respeito de saber os textos a ponto de suscita-los mentalmente, evocando-os pela memória. Tão pouco falamos a respeito de conhecer um ou outro trecho bíblico. É bem verdade que existem histórias mais conhecidas entre as pessoas e histórias menos conhecidas. É também verdade que, de maneira mística, as pessoas se apegam a trechos como amuletos de sorte. O problema todo está no fato de que não conhecem a totalidade das Escrituras e não buscam fazê-lo. O conhecimento a respeito das Escrituras limitam-se, superficialmente, a alguns salmos, histórias da monarquia e milagres de Jesus. Neste cenário de falta de conhecimento bíblico e de falta de interesse em meditar em suas páginas, eis que nos surgem algumas questões para que entendamos o porque de dedicarmos o nosso tempo em estudar as sagradas Escrituras, tanto do Antigo, quanto do Novo Testamento[1].
Porque Estudar a Bíblia:
            Estamos certos de que a resposta desta pergunta é de fundamental importância para definir nosso empenho em ouvir a voz de Deus em cada uma das suas páginas, principalmente num mundo em que a veracidade bíblica tem sido amplamente discutida. Muitas respostas poderiam ser dadas a tal questionamento, principalmente partindo do nosso pressuposto[2] Teo-referente[3]. Elencamos algumas para que possamos compreender, ainda que de rápida maneira, a importância de dedicar-nos na constante atividade de ler as Sagradas Escrituras, que geram vida para aqueles que apreendem e compreendem seus ensinos.
É a auto-revelação de Deus
            Partindo do pressuposto de que toda a Escritura é inspirada por Deus (2Tm 2.16-17), sendo ela mesma quem revela e manifesta o próprio Deus para que o possamos conhecer, entendemos que não há outra maneira de conhecer a Deus, de modo verdadeiro e pleno, dentro da maneira como o próprio Deus se revela a nós, se não for pelo estudo meticuloso de todas e cada uma das páginas das Escrituras. Tudo o que está ali impresso, seja no AT ou no NT, é Deus deixando-se conhecer pelo homem, revelando parte[4] do seu ser e sua vontade.
            Diferente do antigo período em que Deus se revelava aos homens por meio de seus profetas que ouviam suas palavras diretamente de Seus lábios, no nosso caso, temos de ouvi-Lo através de Cristo (Hb 1.1-2), a encarnação da Palavra de Deus (Jo 1.1).
            Embora as pessoas estejam buscando cada vez mais por um conhecimento essencialmente experimental, movido, muitas vezes, por sentimentos, o conhecimento de Deus não pode se valer apenas desse método. Isso porque nossas experiências são quase sempre subjetivas e dependem duma série de fatores para que possamos compreendê-las. Deus, superior à nossa imaginação, não quis entregar-Se a ela. Longe disso, proibiu veementemente que tentássemos diminuí-Lo a algo que nossa mente possa criar e comparar (Êx 20.4).
            Entretanto, em nossos dias, há um movimento muito grande, em nome de uma busca intensa por experiência com Deus, que motiva os homens a quererem uma intimidade maior com Ele. Querem o certo, do modo errado. Intimidade se dá por experiência e convivência. Mas a maior convivência com Deus está em praticar dia a dia sua Palavra e ouvir a Sua voz cada vez que nos aproximamos das páginas das Escrituras. Interessantemente, Deus não limitou sua revelação à nossa compreensão primária. Pelo contrário, ordena meticuloso estudo e deleite justamente porque nossa mente rasa não consegue alcançar o ser de Deus, de modo profundo. Se quisermos conhecer a Deus – e devemos querer – não é de modo experimental num primeiro momento. Aliás, a nossa própria experiência com Deus será conduzido por aquilo que sabemos a respeito Dele. E saberemos a respeito Dele quando ouvirmos sua história, Seus ensinos e Sua vontade. E isso se dá exclusivamente por meio de Sua Palavra, que é sua auto-revelação.
Conta a História da nossa Esperança
            Independente do reconhecimento humano, Cristo é a esperança de redenção para toda a criação. Nele, tudo o que está morto, podre, frio, sem expectativa alguma, se refaz e se torna vivo. A morte de Cristo trouxe, àqueles que são resgatados a partir da cruz, vida. Cristo é tudo o que a criação decaída necessita. Esse conhecimento, talvez, alguém diria, temos apenas a partir do NT. Mas isso não é totalmente verdade.
            Quando olhamos as Escrituras Sagradas, somos apresentados a um cenário fantástico a partir de Gn 1. O universo criado por Deus era perfeito, mas tão perfeito que o próprio Deus disse que tudo o que fizera era bom, reservando ao sexto dia, dia em que criou o homem, a expressão de que tudo era muito bom (Gn 1.1-31). Contudo, Gn 3 nos mostra a inversão nessa realidade. Homem e mulher pecam contra Deus e são, desse momento em diante, contaminados pelo mal e fazem com que toda a humanidade a partir deles também o seja.
Deus sentencia a serpente, satanás, a mulher, a natureza e o homem (Gn 3.14-19). Tudo parecia estar perdido nesse momento. Até que, de maneira graciosa, em Gn 3.15, como sentença a satanás, Deus suscita uma esperança para todos os homens[5]. Ele promete restabelecer a ordem que existia até a queda trazendo derrota a satanás e vida ao homem. A partir desse momento, toda e cada uma das letras contidas nas Escrituras demonstram o cumprimento do plano divino para restaurar o que estava perdido com a queda.
Deus, de maneira sábia, revelou seu plano no tempo e no espaço de modo que o homem pudesse compreender a séria realidade em que se encontrava. Mas, ao mesmo tempo, demonstrar a necessidade de ser mudado para que pudesse viver com Deus e mostrar como deveria ser essa nova vivência, depois de plenamente redimida. Desse modo, tudo o que consta das Escrituras se torna importante para nossas vidas, pois somente reconhecemos a obra de Cristo e sua relevância para nossas vidas quando entendemos como Deus criou, como ficou depois do pecado, como Deus fez tudo apontar para Jesus e, por fim, como Jesus cumpriu todas as exigências para que pudéssemos agora, redimidos, viver diante de Deus sem a mácula do pecado e sem suas duras consequências. Somente as Escrituras nos mostram que a dureza desse mundo e os sofrimentos aos quais todos os seres humanos estão submetidos são transitórios. A bíblia nos mostra que, para o homem, sempre “há esperança” (Jó 14.7).
Mesmo sabendo da dificuldade de nossa sociedade em ler, principalmente em ler as Escrituras, e mesmo sabendo da nossa tendência natural a ter aversão à Palavra de Deus, precisamos buscar incessantemente conhece-lo através das Escrituras. Não podemos nos acomodar com a cultura de falta de busca e deleite em Deus por meio de Sua Palavra. Não podemos nos conformar com uma busca por intimidade com Deus gerada por algo que não seja o reconhecimento de quem Ele é, e só saberemos quem Ele é por meio dos Escritos Sagrados.
Como no passado, precisamos retornar as Escrituras e deixar que ela norteie nossa vida, nossas experiências, e que nelas estejam baseadas a nossa esperança. Sendo, no presente, bastiões da verdade, lutemos para proclamá-la de forma clara, estabelecendo-a como de fato é: nossa única regra de fé e prática. Ao longo dos próximos meses, meditaremos, na congregação Presbiteriana do Nelson Costa, em Ilhéus, sobre a nossa esperança apresentada no Antigo Testamento, livro a livro, para que possamos cumprir com aquilo que a letra do poeta nos conclama a fazer:
CHAMADA:
Eia, crentes destemidos,
Da verdade convencidos,
Para a luta apercebidos,
No combate entrai!
Eis que surgem, aleivosos,
Erros grandes, perniciosos,
Nestes tempos perigosos
Vossa fé mostrai!
O dever vos chama.
Vosso Deus proclama
A santa lei do Eterno Rei,
Que vosso ardor reclama.
Confessai, pois, resolutos,
Fervorosos, incorruptos,
E com lábios impoluto:
Deus, Verdade e Fé!

Vós por Cristo libertados,
Não sejais escravizados!
Os direitos alcançados
Firmes sustentai!
Salvação por homens dada,
Paz fingida, paz comprada,
Lei de Deus falsificada,
Tudo rejeitai!
Vosso Deus não muda.
O Senhor ajuda
A quem cumprir, sem desistir,
E seus fiéis escuda.
Avançai, pois, exultando,
Sempre em Cristo confiando,
Vosso testemunho dando:
Deus, Verdade e Fé!
(R.H. Moreton)



[1] Por Antigo Testamento e Novo Testamento, falamos a respeito da velha e da nova aliança. Não se trata de um ser mais importante que o outro ou que um tenha supremacia sobre o outro. Ambos tem autoridade divina. O Antigo Testamento trata da aliança simbólica ou representativa, em que cada elemento apontava para o Cristo que haveria de vir. O Novo Testamento trata da aliança definitiva, não simbólica apenas, mas agora real e perfeita, concluída e aperfeiçoada na pessoa de Cristo, o Filho de Deus.
[2] Por “Pressuposto” queremos dizer: lentes pelas quais enxergamos toda a realidade ao nosso redor.
[3] Teo-Referente: Deus como referência
[4] Afirmamos que revela apenas parte do seu ser por compreender que a Bíblia revela tudo o que precisamos saber sobre Deus, mas que Ele é além daquilo que está revelado. Deus é superior ao nosso limitado conhecimento e forma de compreensão. Desse modo, Deus se revela duma maneira que possamos compreender, mas que não é totalitário nessa revelação.
[5] Para maiores informações sobre este assunto, consultar o artigo “Proto-Evangelho: Maria ou Cristo, Sobre quem é a promessa?” Disponivel em: http://refletindoparaavida.blogspot.com.br/2012/05/proto-evangelho-maria-ou-cristo-sobre.html

sábado, 30 de novembro de 2013

Deus Santifica os Seus Eleitos. CFW XIII.1

Um dos temas de maior confusão na vida do Cristão de nossos dias, sem sombra de dúvidas, tem sido o tema da santificação. Esse tema divide opiniões pela compreensão que as pessoas fazem desse tema. Existem três possíveis respostas, não necessariamente erradas, quando perguntamos se somos santos. A primeira resposta que obtemos é não. Essa resposta se dá pela compreensão de que santidade está atrelada a perfeição. Nesse sentido, olhando o fato de que seremos perfeitos apenas nos céus, então podemos concordar com o fato de que não somos santos. A segunda resposta mais comum de ouvirmos é que não somos totalmente santos, mas que somos parcialmente santos. Essa resposta se dá pela compreensão de que a santificação é um processo ao qual estamos submetidos ao longo da nossa peregrinação nesse mundo, para sermos aperfeiçoados plenamente nos céus. Essa resposta também está correta. A terceira resposta igualmente correta é a afirmação de que somos santos. Isso se dá pela compreensão de que somos separados por Deus para vivermos tal como Ele é. Ainda que não sejamos perfeitos, fomos habilitados a sermos diferentes dos demais homens, por sermos separados para uma vida semelhante à de Cristo, sendo seus imitadores (Ef 5.1). Entendendo que essas três respostas são igualmente assertivas, precisamos compreender quem estão sendo santificados e o propósito dessa santificação.
Se fôssemos tentar explicar essa temática a luz do nosso conhecimento “moderno” ou “pós-moderno”, poderíamos não fazer jus com a verdade defendida pelos nossos irmãos do passado cm base nas Escrituras. Sendo assim, ajuda-nos a compreender essa santa verdade, a Confissão de Fé de Westminster q expõe, de modo sistemático, a nossa fé baseada nas Escrituras. Vejamos o que ela nos diz[1]:
XIII.1 - Os que são eficazmente chamados e regenerados, tendo criado em si  um  novo  coração  e  um  novo  espírito,  são,  além  disso,  santificados  real  e pessoalmente  pela  virtude  da  morte  e  ressurreição  de  Cristo,  pela  sua  palavra  e pelo  seu  Espírito,  que  neles  habita¹;  o  domínio  do  corpo  do  pecado  neles  todo destruído²,  as  suas  várias  concupiscências  são  mais  e  mais  enfraquecidas  e mortificadas³, e eles são mais e mais vivificados e fortalecidos em todas as graças salvadoras4para  a  prática  da  verdadeira  santidade,  sem  a  qual  ninguém  verá  a Deus5. Ref.: 1-  At 20.32; Rm 6.5,6; Jo 17.17; Ef 5.26; II Ts 2.13. 2-  Rm 6. 6,14. 3-  Rm 8.13; Gl 5.24; Cl 3.5. 4-  Cl 1.11; II Pe 3.13-14. 5-  II Co 7.1; Hb 12.14. (Destaque nosso)
Esse primeiro parágrafo do capítulo XIII da CFW expõe de maneira categórica as verdades quanto ao tema. Mas, talvez, olhando apenas para o texto como ele está não seja tão claro quanto deveria ser em nossas mentes. Desta feita, analisaremos as sentenças de maneira separada para nossa maior e melhor compreensão dessas verdades.
Os que são eficazmente chamados e regenerados...”: Diferente do pensamento comum de nossa época, a santidade não é oferecida a todos. Isso se dá pelo fato de quem não foram todos chamados por Deus para a salvação, mas apenas aqueles que foram predestinados para este fim. Assim sendo, o chamado de Deus para a santificação não se dá a todos os homens, embora todos tenham a necessidade e a obrigação de o serem. Não se trata de quem quer. Até porque o homem natural é opositor a tudo que Deus estabelece e exige por causa da sua tendência à rebeldia contra Deus. Isto é, o homem natural não quer ser santificado pois nem se enxerga como um ser perverso e mau. Mas, ainda que assim visse, ou ainda que nós conheçamos pessoas que são “boas”, elas não podem ser santas por livre escolha de sua própria vontade. Este processo de santificação se dá apenas nos que foram chamados para esta vida separada, mas só depois de serem regenerados. Este processo de Santificação se dá apenas aos que foram eternamente separados para a glória de Deus (Rm 9.14-29);
...tendo criado em si um novo coração e espírito...”: Esse processo de santificação se dá apenas aos que passarem pelo novo nascimento. Não podemos ser os mesmos depois do encontro com Cristo. Não podemos ser os mesmos depois de termos sido impactados e transformados pelo poder de Deus. O nosso velho ser não pode agradar a Deus pois era mal e contrário à Sua vontade. Desse modo, algo em nós precisava ser mudado para que pudéssemos viver segundo a Sua vontade. Sendo assim, um novo coração nos foi dado, um coração submisso ao Senhor e que deseja a Sua glória. O nosso espírito também foi renovado e vivificado, criado, agora, segundo Deus e para Deus. (Ef 4.17-24) Desse modo, tornar-se impossível à nós, que passamos por este processo de mudança de coração e espírito, sermos iguais ou piores do que antes da regeneração. Somos habilitados a sermos santos, numa mudança total de comportamento, inclinado à nossa nova natureza que ainda milita contra a anterior (Ef 4.25-5.1).
...santificados... [por] Cristo, Sua palavra e seu Espírito...”: Não existe outro meio de santificação. Não existe outro modo de mudança real e significativa de vida e comportamento alheio à Cristo, sua Palavra e seu Espírito. Nesse sentido, ninguém pode ser santificado andando distante do Senhor, ou não tendo o prazer de meditar em sua lei para ser como árvore plantada junto às correntes de água, firmes e fortes, enfrentando toda e qualquer tempestade (Sl 1) ou mesmo sem que o Espírito de Cristo habite em nosso ser. Àqueles que foram chamados desde toda a eternidade para a salvação, que tiveram coração e espírito criados segundo Deus, andando com Cristo por meio de Sua palavra e fortalecido por Seu Espírito. Deus santifica quem ele comprou, mas esses buscam isso por meio de Cristo, a Bíblia e pelo Espírito. (Ef 3.14-17; 2Tm 3.16-17; Rm 8.14-15; 26-30)
... as  suas  várias  concupiscências  são  mais  e  mais  enfraquecidas...”: Enquanto aqui vivermos, não teremos prazer no pecado a medida que nos aproximamos de Deus. E não apenas não teremos prazer como lutamos contra a corrupção do nosso ser e, a medida que Cristo habita e fala aos nossos corações,  a nossa luta vai sendo aperfeiçoada e nossa inclinação ao pecado vai sendo diminuído até o momento em que, nos céus, alcançaremos a perfeição. Mas não podemos esquecer que haverá sempre uma batalha nesse mundo e que, enquanto aqui vivermos, seremos sempre pecadores. Veja que o texto não nos diz que venceremos plenamente, mas sim que a concupiscências serão enfraquecidas. Sempre haverá luta. Aqui, jamais seremos totalmente livres dessas paixões. Nesse mundo, não seremos plenamente santos. (Gl 5.16-17; 1Jo 1.8)
“... para a  prática  da  verdadeira  santidade,  sem  a  qual  ninguém  verá  a Deus.”: A ultima questão é a finalidade da santificação nessa vida. A CFW responde esta questão nos dizendo que, desse modo, praticaremos a verdadeira santidade, sendo verdadeiramente separados por Deus, em Cristo, para a glória Dele, mas também para que possamos vê-lo. O propósito da santificação dada por Cristo é para que vejamos ao Senhor Deus. Se não formos purificados, jamais veremos ao Senhor, pois nossos olhos ainda estarão maculados com o pecado. Não há a menor possibilidade de estarmos eternamente diante do Senhor, em sua santidade e glória, se não formos como Ele é. Desse modo, o Senhor nos santifica para habilitar-nos a vê-lo. Sem a ação de Cristo, não conseguiremos ser santos e não veremos ao nosso Deus. Jamais! (Mt 5.8)
Que o Senhor nos fortaleça, purificando-nos e santificando-nos para que possamos contemplar ao Senhor da nossa salvação. Que o Senhor nos ajude, por meio de Sua Palavra, a compreender essas santas verdades, desmistificando o tema e ajudando-nos a viver tal verdade, cada vez mais próximos daquele que é a razão de sermos separados para a glória de Deus. Nos unamos ao poeta ao declarar que o sangue de Jesus nos lavou, dando-nos vitória e conduzindo-nos à Sua glória:

“Exaltação e Louvor” (nº 39 do HNC)
Oh! Vinde crentes dar louvor ao grande Rei Jesus
Que, para a nossa Redenção, morreu na amarga cruz;
Seu sangue derramou, de tudo me lavou,
Mais alvo do que a neve me tornou.

O sangue de Jesus me lavou, me lavou;
O sangue de Jesus, me lavou, me lavou!
Alegre, cantarei louvores ao meu Rei,
Ao meu Senhor Jesus que me salvou!

Oh! Vinde unir-vos a Jesus na luta contra o mal
E, com o grande Salvador em marcha triunfal,
A todos proclamar que seu amor sem par
O fez na cruz seu sangue derramar.

O chefe da milícia é Jesus, meu Salvador,
O Rei dos reis, o Redentor, o eterno e bom Senhor;
A tudo vencerá, vitória nos dará
E à gloria eterna os seus conduzirá
(H.M. Wright)




[1] Confissão de Fé de Westminster. XIII: Da Santificação. 

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Os Pilares da Reforma

Desde a reforma religiosa no século XVI, a igreja Protestante defendeu com afinco os cinco pilares principais, que sustentavam toda a teologia desenvolvida a partir dali. Em nossos dias, não é diferente. Embora as igrejas evangélicas tiveram sua origem na reforma, nem todas são reformadas e algumas sustentam doutrinas contrárias às Escrituras e contrárias àquelas que formam a base teológica daquilo em que cremos. Esta base, ou pilares, são conhecidos como os cinco solas:
Sola Scriptura (somente as escrituras): Diante do posicionamento oficial da Igreja que sustentava que além das Escrituras, a tradição e o posicionamento oficial do “santo Padre” eram a palavra de Deus de forma autoritativa, os reformadores entenderam e defenderam que somente as Escrituras tem voz e autoridade sobre a Igreja de Cristo, uma vez que ela foi divinamente inspirada por Deus (2Tm 3.16-17). Somente ela poderia ser a palavra final para legislar sobre a igreja e nada além dela poderia ter a mesma autoridade e a palavra dos líderes da igreja deveriam basear-se exclusivamente nela.
Solus Christus (somente Cristo): Em 431 d.C. a igreja romana instituiu o culto à Maria. Em 787 foi estabelecido o culto as imagens e em 933 a canonização dos Santos. A Igreja passou a ensinar que Cristo, em sua obra mediadora e redentora não era suficiente. As confissões não deveriam ser feitas a Jesus, mas ao vigário erigido na Igreja. Esse tinha autoridade para perdoar pecados e impor penitências para expiar os pecados. A reforma defendeu que todos esses méritos e funções não são conferidos a homens, pois foram cumpridos e praticados eficazmente em Cristo (Cl 1.13-23).
Sola Gratia (somente a Graça): A salvação, em momento algum, pode ser creditada como mérito humano. A Reforma entendeu o princípio bíblico de que estávamos mortos em nossos delitos e pecados (Ef 2.1,5) e que, nesse estado, não poderíamos salvar a nós mesmos. Não podemos optar pela salvação de maneira natural porque o homem natural se opõe a tudo o que é espiritual (Gl 5.16-17). Nada do que fizermos nos garante salvação. Ela é fruto exclusivo da misericórdia e do favor de Deus que concede a quem quer.
Sola Fide (Somente a Fé): Uma vez q a salvação se dá em Cristo por causa da Graça de Deus, não existe espaço para obras na ordo salutis (ordem da salvação). O meio pelo qual a graça efetua a salvação em nossas vidas é a fé que o próprio Deus coloca em nós. Ef 2.8-9 Paulo defende que apenas pela fé somos salvos em Cristo, eliminando de nós qualquer possibilidade de a conquistarmos por meio de obras. Nada do que fizermos, nenhum sacrifício nosso, pode creditar a salvação a nosso favor. Já que é Deus quem o faz, é somente pela fé que o vemos e recebemos, ainda que não compreendamos. Afinal, fé vai além da nossa compreensão (Hb 11.1-3).
Soli Deo Glória (Somente a Deus a glória): Deus não divide sua glória com ninguém (Is 42.8). Ele não dividia com Maria, com a Igreja, com os padres ou o Santo Padre. Ele continua não dividindo sua glória nem com Cavino, Lutero, demais reformadores, crentes e etc. Somente Deus é digno de honra, glória e louvor e não fazê-lo é não confiar na sua suficiência e dignidade daquilo que Ele requer. Culto, louvor e adoração, somente a Ele.

Continuemos a defender com o mesmo ardor e afinco os pilares da nossa fé que, noutros momentos, resgatou a igreja dum declínio total. Em nossos dias, essas bases têm sido violentadas por aqueles que deveriam defendê-las, pois vão na contramão dos anseios humanos. Nosso dever é crer, sustentar e defender essas bases bíblicas que mostram a supremacia de Deus e sua soberania, mesmo diante de dias maus. Exclamemos: “Teu povo, ó Deus, assiste em teu labor no testemunho do teu grande amor, as nossas vidas vem fortalecer para o teu nome sempre engrandecer.” (4ª estrofe do hino “Deus dos Antigos”. Nº 18 do HNC)


segunda-feira, 14 de outubro de 2013

...Deixai os pequeninos, não os embaraceis de vir a mim... (Mt 19.14)

   Hoje, ao analisarmos as palavras de Jesus, temos a ideia de que Ele alertou simplesmente que devemos levar as crianças aos cultos e atividades eclesiásticas, porém não era da igreja que Ele tratava, e sim dEle próprio, “...vir a mim...”. Devemos alertarmos, pois muitas das vezes algumas atitudes e conceitos são embaraços para as crianças se achegarem a Cristo. O primeiro deles é acreditarmos que AS CRIANÇAS NÃO TEM CAPACIDADE de entender o relacionamento com Cristo, e assim as excluir de atividades eclesiásticas como oração, doutrina e missões, sendo que o próprio Jesus nos ensina sermos como crianças. Segundo é NÃO LHES ENSINANDO OS DEVIDOS PRECEITOS BÍBLICOS, o que vem acontecendo muito em nossos dias. Os preceitos bíblicos como honrar os pais, respeito aos mais velhos e autoridades, conduta exemplar e outros que permeiam uma vida cristã, tem sido deixados de lados em prol de “pedagogices”, diferente de pedagogia, que referendada na bíblia, creio ser uma excelente ferramenta. Por último, vejo como embaraço as crianças a falsa doutrina da IMPUTABILIDADE DE PECADO, o que mesmo inconscientemente, tem acometido muitos pais e educadores em nosso meio. Existe uma ideia de que são santas, não tem maldades e por isso tudo que fazem não deve ser passível de correção, pois o pecado ainda não lhes maculou. Uma mentira terrível! A sagrada escritura nos ensina que nascemos em pecado (Salmos 51.5). Tenhamos cuidado com as nossas crianças e com todo amor, zelo e temor no Senhor, cuidemos delas para que não as empeçamos de seguir a Cristo.

(Texto de Matheus Gouveia de Deus Bastos, via Facebook. 14/10/13.)

As Crianças para Jesus

         É evidente que todos nós temos uma visão com respeito ao papel das crianças no Reino de Deus e da importância que tem a educação cristã que elas recebem nesta fase. Também compreendemos que elas são a igreja do futuro e que são delas que sairão os próximos Pastores, Presbíteros, Diáconos, Professores de Escola Dominical e etc. Contudo, infelizmente, não temos ideia da dimensão da responsabilidade que isto traz a cada um de nós enquanto lideres da igreja e pais desta parte do Corpo de Cristo.
Embora em nossas mentes esteja bem latente a visão do papel delas amanhã na igreja, muitas vezes nos esquecemos – ou queremos esquecer – o papel que elas exercem hoje e da nossa função de ensiná-los desde já nos caminhos do SENHOR, agindo muitas vezes como os discípulos de Cristo agiram em Marcos 10.13-16, servindo de obstáculos entre as crianças e Cristo.
Também é preciso analisar o que tem ocorrido com as crianças na sociedade civil. Infelizmente elas também perderam o seu papel na sociedade, diante de tantos absurdos que vemos todos os dias ao nos determos aos meios de comunicação. A elas não cabem mais o papel de sonhar, pois seus sonhos são muitas vezes destruídos pelas pessoas que deveriam dar apoio a elas. Não se dá uma educação digna nem uma condição digna de sobrevivência. Roubam a infância dos nossos pequeninos não apenas cometendo atos libidinosos e hediondos, mas a própria estrutura de pensamento que rege esta sociedade, observando-os como cidadãos do amanhã, contribui para que não tenham voz para lutar por seus direitos, mas sejam violentamente vituperados, sem direito algum ou, pior, tendo como representantes de seus direitos, aqueles que sustentam tais pensamentos e que também as violam moralmente.
Mas o que fazer hoje? Qual o papel que a igreja deve desenvolver com relação ás crianças de modo que preparemos a igreja do amanhã? O que eu e você temos feito para dar apoio e base bíblica para esta “igreja do futuro”? Será que o nosso maior problema está no fato de vermos elas única e exclusivamente como “igreja do amanhã” e nos esquecemos de que elas pertencem – e são – a igreja de hoje? As respostas que damos a estas questões definem radicalmente a postura que temos tomado em nossas igrejas.
Contudo, diante de tudo isto que já expusemos aqui, pensemos: “O que o nosso Mestre nos tem a dizer diante destas coisas?” Qual seria a reação de Jesus ao adentrar a nossas igrejas hoje e observasse a maneira como nós temos educado nossas crianças “no caminho em que deve andar” (Pv 22.6)? Analisemos o que ocorreu em Marcos 10.13-16 e vejamos algumas lições para nós hoje.
1.      Afastando as crianças de Jesus: Ao olharmos a reação dos discípulos de Cristo quando as crianças aproximam-se Dele, infelizmente, temos a sensação de que esta passagem está ocorrendo dentro de algumas igrejas. É com tristeza que vemos aqueles que deveriam ensinar a palavra de Deus as crianças muitas vezes agirem com certo descaso para com elas achando que coisas referentes a Deus e ao serviço santo não devem ser ensinados a elas de modo prático. É comum vermos em cultos públicos – independente da denominação – algumas alas da Igreja presentes. Infelizmente, apercebe-se a ausência daqueles que são mais jovens, e, principalmente, das crianças. Vemos grandes trabalhos evangelísticos sendo realizados pela igreja, contudo quantos trabalhos evangelísticos são feitos para alcançar crianças? A maioria das pessoas talvez diriam que isso é de total responsabilidade dos professores das ED’s, outros afirmariam que é de responsabilidade dos diretores de UCP e estes afirmariam que isto é de responsabilidade da igreja (líderes) ou, no máximo, das próprias crianças em relação aos amigos da escola. E no final das contas ficam sempre um esperando pelo outro e o trabalho não vai adiante. Por outro lado, há alguns anos temos experimentado na prática a inserção do pensamento comum às Igrejas quanto à participação restrita aos trabalhos da Escola Bíblica Dominical e, quando muito, no culto Dominical Vespertino. Temos presenciado o desenvolvimento da geração “Escola Dominical”, onde os progenitores e/ou responsáveis acham de sumária importância apenas a participação nas EBD’s e esquecem-se de que, como parte do povo da aliança, são conclamados a participarem tão somente de todos os trabalhos espirituais promovidos pelas igrejas. Os responsáveis são chamados por Deus a inculcarem e a incentivarem a participação ativa nos serviços santos dentro e fora dos murais da igreja. Mas, infelizmente, os discípulos de Cristo em nossas igrejas estão fazendo como os discípulos fizeram a mais de 2000 anos atrás: impedindo-as de terem acesso ao SENHOR da Salvação por acharem a) desnecessário; b) cansativo; c) que atrapalham a receptação da mensagem aos mais velhos. Contudo, a educação cristã infantil não é apenas de responsabilidade da igreja, mas também dos pais que muitas vezes negligenciam os preceitos bíblicos neste mister (Dt 6; Pv 22.6, Ef 6.4; etc.), esquecendo-nos que elas também são salvas pela graça mediante o ato sacrificial de Cristo (Rm 6.23), pois, ainda que crianças, são pecadoras e carecem da Glória de Deus (Rm 3.23). Ao invés de facilitarmos o acesso delas ao SENHOR, muitas vezes as afastamos sem nos dar conta do que estamos fazendo.
2.      A reação de Jesus: Quando Jesus vê o que seus discípulos estavam fazendo com aquelas crianças, Ele se indigna e passa a mostrar-lhes que elas devem ter acesso a Ele. Vale lembrar que aquelas crianças ali eram filhos dos que estavam ouvindo a Jesus. O capítulo 10 de Marcos é uma sessão toda dedicada à família. Primeiro, há um ensino quanto ao divórcio, mostrando a importância de se ter uma estrutura sadia no casamento para, então, ter uma família sadia aos pés do Senhor, tendo acesso a Ele e, por fim, mostra o valor das finanças dentro da estrutura familiar do povo de Deus. Um lar sadio, aos olhos de Cristo, é um lar onde não apenas os pais estão aprendendo e crescendo na graça, mas os filhos também. Jesus mostra ainda que inclusive os adultos ali presentes deveriam ser como crianças para entrarem no reino de Deus. Mas o que isto significa? Devemos agir de modo infantil em nossas atitudes cristãs? De modo Algum. Jesus está expressando ali que os discípulos deveriam ser como aquelas crianças no sentido de que deveriam assumir algumas características daquelas que ali estavam. Ou seja, viver sob a dependência exclusiva do Pai, tendo sinceridade nas suas atitudes e desprovidos de senso de autossuficiência. Naqueles dias, cultural e socialmente falando as crianças eram totalmente dependentes de seus progenitores e não tinham voz própria. Embora, por causa da nossa cultura herdada do catolicismo achemos que as crianças já estão automaticamente no céu, este texto ensina-nos a repensar e a refletir nossas atitudes diante do pai, vivendo na dependência Dele. Quando as crianças estavam ali, próximas ao SENHOR Jesus, não era com falsidade ou por interesse. Elas estavam ali não porque convinha, mas porque de fato era o que elas queriam. Elas iriam viver toda a sua vida para servir á Cristo porque elas foram tocadas por Ele ainda crianças. De modo que hoje nós também devemos ter a mesma convicção expressa ali: quando as crianças se entregam ao SENHOR, elas o fazem não por conveniência, mas por que realmente amam a Deus e quando entregam suas vidas, elas entregam totalmente.
Precisamos compreender que elas não são meramente a igreja do amanhã. Precisamos compreender que elas já são a igreja e irão compor a liderança de amanhã, mas serão aquilo que nós as temos ensinado e farão aquilo que nós temos feito a elas. Qual tem sido a nossa postura como os responsáveis pela educação cristã das crianças? Temos agido com descaso ou de fato temos nos preocupado com esta questão? Temos compreendido que elas são de fato a igreja ou temos simplesmente dito que elas são a “igreja do amanhã” e esquecendo de deixar um legado de fé a elas? Qual a herança que você e eu, igreja atual, temos deixado para nossas crianças e, consequentemente, para a igreja do que continuará existindo sem a nossa presença? Que o SENHOR molde a nossa visão para termos uma visão biblicamente orientada a respeito deste ministério da igreja. Que Cristo transforme a nossa visão para que tenhamos a nossa em coerência com a visão Dele mesmo em relação a este assunto. Que o amor que temos pelos nossos infantes seja tão grandioso a ponto de nos fazer dar a eles o que de mais precioso temos para nós: O acesso à Cristo e aos seus ensinos constantes. Que Deus nos abençoe![1]





[1] Extraído e adaptado de: REIS, Michel dos Santos. As Crianças para Jesus. Jornal Brasil Presbiteriano. São Paulo. Edição de Maio de 2009. P. 10-11.

sábado, 12 de outubro de 2013

O Melhor Presente para Nossas Crianças


Anualmente, no dia 12 de Outubro, comemoramos o Dia das Crianças. Vemos um significativo investimento por parte do comércio para chamar a atenção das crianças fazendo com que os pais lhes deem presentes cada vez mais sofisticados, e estes, muitas vezes, não medem esforços para dar tais presentes aos filhos. Mesmo aqueles que não podem dar presentes de ultima geração, não conseguem deixar de presentear seus filhos com alguma coisa material.
Entretanto, existe um presente muito maior e muito mais significativo que muitas vezes não nos custa nada, financeiramente falando, e que tem um resultado muito maior e trás um benefício enorme às nossas crianças. Nem todos podem oferecer tal presente, pois nem todos têm acesso a ele. Este presente trata-se do Evangelho.
Quando olhamos para as Escrituras, vemos uma ênfase do Senhor no ensino de Sua mensagem para as crianças. Em Deuteronômio 6 há uma ordem do Senhor para que Israel inculcasse e ensinasse os grandes feitos de Deus às crianças para que, na medida em que fossem crescendo, soubessem quem era o Senhor, o que Ele fez (Pv. 22.6; Ef 6.1-4) e para que transmitissem, posteriormente, às gerações futuras.
No Novo Testamento temos uma grande lição dada pelo próprio Jesus, indicando que Ele se preocupava com as crianças e que nós, Seus discípulos, não deveríamos impedir ou dificultar o acesso das mesmas a Ele (Mt 19.13-15; Mc 10.13-16; Lc 18.15-17).
Olhando, então, para esses textos temos estes e outros motivos para presentearmos os nossos filhos com o maior presente de todos. Eis alguns deles: Por que devemos evangelizar as crianças? Porque a Bíblia afirma que “todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente [...] em Jesus Cristo...” (Rm 3.23-24); “porque o Salário do pecado é a morte” (Rm 6.23) e ninguém, nem mesmo as crianças, estão isentas de tal verdade; “porque quem tem o filho [de Deus] tem a vida...” (1Jo 5.12); Quem deve evangelizar as crianças? Ao contrário do que muitos pensam este não é um dever somente dos pais ou da igreja enquanto instituição. Este é um dever de cada um dos crentes, pois fomos chamados para este fim (1Pe 2.9 e 10) e as crianças fazem parte da aliança que Deus têm com Seu povo, devendo assim, conhecer ao Senhor.
Diante do que vimos, pensemos: neste dia em que o mundo se volta para olhar os nossos infantes, o que é mais importante para nós? Nos preocuparmos com eles somente agora, ou nos preocuparmos também com o futuro deles? Na verdade, o custo de apresentarmos o Evangelho a eles é muito maior do que apenas darmos algum presente, pois envolve vidas inteiras diante de Deus: por parte dos adultos, e a vida inteira das nossas crianças diante do Senhor. A vida de nossas crianças são muito valiosas, por isso precisamos compreender a importância de tê-las na presença de Jesus, entendendo que lugar de criança é aos pés de Cristo.[1]





[1] REIS, Michel dos Santos. O Melhor presente para nossas crianças. Disponível em: http://federacao.ucp.prsb.zip.net/ acessado e atualizado em 08 de Outubro de 2010

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

O Livre Arbítrio ou Liberdade da Vontade

O livre arbítrio é uma dotação de Deus para que o homem, criado à sua imagem e semelhança, possa, dentro dos limites existenciais, naturais e sociais, expressar-se como ser humano nas seguintes áreas:

A) A livre busca ou aquisição dos meios de sobrevivência biológica: necessidade que exige esforço, trabalho, criatividade e perseverança. A escolha dos meios, as habilitações, a fixação na área escolhida e progresso profissional resultam da livre vontade do homem, a quem o Criador equipa com pendores, dons e vocação individuais. Com as divisões do trabalho na sociedade industrial e mercantil, com tarefas cada vez mais específicas e tecnologicamente mais especializadas, a liberdade da vontade, no campo profissional, tem sofrido muitas restrições. Este quadro tem traumatizado muitas pessoas por se sentirem “mecanizadas” e escravizadas aos rígidos sistemas empresariais. A industrialismo e o tecnologismo desnaturalizam os seres humanos, afastam-nos dos ambientes naturais em que viveram seus antepassados, quando a liberdade da vontade, no setor de aquisição de recursos necessários à sobrevivência, era maior e mais espontânea. Hoje, somos mais escravos dos meios de produção industrial, que produtores livres. O progresso, intervenção do homem no mundo de Deus, traz benefícios com malefícios. O saldo positivo, por enquanto, tem permanecido a favor do bem estar humano, mas tudo indica que, num futuro não muito distante, a reversão acontecerá, e as conseqüências serão imprevisíveis.

B) A livre vontade na perpetuação: A escolha do cônjuge, construção do “ninho familiar”, organização da família e criação, manutenção, proteção e educação dos filhos. A formação da família é uma realização do desejo e da vontade do homem, além de ser uma necessidade para a geração e perpetuação da espécie humana. O mesmo impulso sexual pode levar à formação indissolúvel do par humano e à procriação, ou à dissolução da família, à depravação individual e à desintegração da sociedade. A liberdade da vontade atua para o bem ou para o mal.

C) A liberdade de locomoção, o direito de ir e vir, de escolher os locais de atividades locomotoras e os espaços de visitação, de turismo, de negócios ou de pesquisas: O homem foi, no início de sua história, mais nômade que sedentário. O sedentarismo e a peregrinação são heranças do homem, que nele se harmonizam ou se conflitam.

D) A liberdade de opção e de escolha entre duas ou mais proposições, dois ou mais caminhos, dois ou múltiplos objetos, duas ou mais profissões: A vida nos desafia contínua e sistematicamente a fazermos opção por alguma coisa e decidirmos, até sobre questões insignificantes como, por exemplo, entre uma gravata e outra, uma marca e outra, um produto e outro do mercado, um sabor e outro. Tais liberdades, embora naturais, são todas contingenciadas por várias e múltiplas circunstâncias, de modo que, rigorosamente falando, não existe para o homem, em si mesmo limitado, liberdade absoluta. O querer somente é poder para os que possuem condições intrínsecas e extrínsecas de realização da vontade: quem não possui recursos econômicos pode ter vontade de passar férias em Londres, mas não terá “poder” e “liberdade” para realização do desejo; quem não é dotado do dom da pintura, pode sonhar em ser um Portinari, mas jamais chegará a tanto. Todo homem se movimenta dentro de um universo pessoal limitado e condicionado a naturais e eventuais circunstâncias restritivas. Liberdade plena não existe para o ser humano finito e cercado de barreiras limitantes contingenciais ou circunstanciais.[1]

[1] FIGUEIREDO, Rev. Onésio. Confissão de Fé de Westminster comentada: DO LIVRE ARBÍTRIO. CAPÍTULO IX. São Paulo. Igreja Presbiteriana Ebenezer. Disponível em: http://www.ebenezer.org.br/Download/Onezio/ConfissaoFeWestminster.pdf Acessado em: 13 de Dezembro de 2011.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

"- Deus, nos use!"

No atual contexto da Igreja do SENHOR, orações como esta estão cada vez mais raras de serem feitas. Num contexto geral, nossos momentos de oração têm sido marcados por nossos pedidos cada vez mais egoístas, pedindo a Deus que conceda bênçãos como prosperidade física, financeira, intelectual, emocional e etc., sempre visando obter dos céus graças que aumentem nosso conforto material, diante dum mundo caótico, onde as pessoas estão cada vez mais cheias de problemas e insatisfação, seja no emprego, nos estudos, na vizinhança onde moram, nas igrejas que congregam independente do credo que assumam e, principalmente, no seio familiar. Diante de tais situações, muitas vezes até legítimas, nossas orações são quase sempre egocentristas, pois visam apenas à melhoria do nosso bem estar e a resolução dos problemas, ou mesmo para que apenas alcancemos satisfação na situação em que estamos vivendo.
Olhando para o contexto de perseguição que viveram nossos irmãos do passado, na igreja primitiva, principalmente os apóstolos, percebemos que os problemas e dificuldades deles eram extremamente diferentes dos nossos, pois seus problemas acarretavam na perda de suas vidas por causa do Santo Evangelho que abraçavam. Não era fácil ser crente naqueles dias. Olhando para o episódio da primeira prisão feita aos apóstolos, a saber, Pedro e João, por causa duma cura que Deus realizara através deles (At 3.1-4.31), percebemos o cenário de hostilidade em que eles viviam. Não apenas os apóstolos, mas toda a Igreja sofria por causa do evangelho, o que tornava suas vidas um desafio. Mas não havia novidades para eles. Quando Cristo os chamou (Mt 10) deixou claro à eles quais seriam suas dificuldades e as perseguições que sofreriam (Perseguições civis/políticas, religiosas e familiares). Apesar disso, o sofrimento e as dificuldades não eram mais fáceis de lidar.
No episódio da prisão dos apóstolos, temos o relato da oração que a Igreja fez após a soltura de Pedro e João, e que nos traz ensinos preciosos quanto a nossa disposição em servir, mesmo diante das dificuldades. Embora seja extremamente preciosa, e traga muitos ensinos em todos os pontos dela tais como: reconhecer a soberania de Deus sobre toda a criação (At 4.24b); Sua soberania em revelar e cumprir Suas Palavras registradas nas Escrituras (At 4.25-26); Sua soberania em conduzir a história do Seu povo mesmo diante de situações que possam não parecer favoráveis ao Seu povo (At 4.27-28), a parte final da oração daquela igreja nos ensina algo fantástico: eles rogam à Deus para que sejam usados para testemunhar do SENHOR, independente de seus conflitos (At 4.29).
Eles estavam cônscios de suas dificuldades. Sabiam que corriam risco de morte e que as ameaças que sofriam iriam aumentar diante do avanço do Evangelho. Mesmo assim, sua oração não superestimava seus problemas e nem mesmo os subestimava. Sua oração colocou em voga o real desejo dos seus corações e o entendimento e confiança que eles nutriam perante a Soberania de Deus. Em sua oração, o desejo deles não era que os problemas fossem solucionados. Em sua oração, seus desejos não eram nem que suas visões sobre os problemas mudassem, pois já estavam cientes de que tudo aquilo era por permissão e predeterminação de Deus. Sua oração era para que, diante de todas àquelas ameaças, eles pudessem ser usados para testemunhar de Cristo, enquanto Deus operava seu poder. Interessantemente, eles não pedem pra que Deus continue efetuando milagres, mas sim que eles pregassem enquanto esses milagres fossem sendo realizados, ou mesmo que eles não o fossem. A necessidade de comunicar a Jesus era maior que seus problemas. Como resposta a esta sincera oração, ao final dela, Ficaram cheios do Espírito Santo e puderam fazer aquilo que pediram ao SENHOR: intrepidez para anunciar o evangelho.
 Olhando para essa verdade santa, e observando nossas orações, percebemos o quanto muitas vezes somos egoístas naquilo que temos pedido ao SENHOR. Ocupamos-nos de colocar nossos problemas diante dele, sejam familiares, sociais (amigos e vizinhos), profissionais ou acadêmicos diante dele (e devemos nos ocupar em fazer isso mesmo, pois é Ele quem nos instiga a orar por aquilo que queremos [Mt 7.7-12] e a depositar diante dele aquilo que nos sobrecarrega para que sejamos aliviados[Mt 11.28]), mas não podemos apenas esperar que este seja o fim de nossas orações. Como criaturas redimidas pelo sangue do cordeiro, mudando nossa realidade para filhos de Deus, por meio da fé em Cristo (Jo 1.12), nossa oração deve sempre demonstrar nossa certeza da soberania de Deus sobre nossos problemas e sofrimentos e, mais do que isso, deve ser acompanhada dum pedido sincero para sermos instrumentos de Deus no anuncio de Cristo. Mais do que apenas depositar nossos problemas diante de Deus e mais do que simplesmente rogar ao SENHOR que opere maravilhas através de nossas vidas, como se essas maravilhas fossem um fim em si mesmas, nossa oração, de agora em diante, deve ser: “Deus, nos use”! Que o Espírito Santo, a exemplo do que ocorreu no episódio de Atos em questão, nos encha com o Seu poder e nos dê igual intrepidez para anunciar o evangelho.


quinta-feira, 21 de março de 2013

Vencendo o Orgulho



Um dos pecados conhecidos como um dos “Sete pecados capitais[1]”, e que assolam a humanidade desde a sua origem é o pecado do orgulho. Ele é capaz de destruir a vida das pessoas, seus relacionamentos e põe a perder até mesmo suas qualidades e conquistas, pois, elas mesmas se supervalorizam em detrimento das demais, apontando, ou deixando à vista, apenas suas “glórias” para que as pessoas vejam, de modo que não deixam perceber suas limitações ou, mesmo que percebam, colocam suas qualidades em tal evidência a ponto de ofuscar as limitações. Pelo menos é o que desejam.
Em maior ou menor quantidade, este pecado, também identificado como o pecado da vaidade, afeta todos os homens. É comum para nós nos orgulharmos das coisas boas que fazemos, das vitórias que possuímos e, até mesmo, das coisas boas que pessoas com as quais nos identificamos e gostamos, fazem. Embora haja pessoas que, assumidamente dirão que não são vaidosas/orgulhosas, todos temos este pecado entranhado em nós. Afinal, tudo o que fazemos é para o agrado de alguém (Deus) e, quando não tomamos cuidado, nós é que queremos ser agradados. O orgulho/vaidade nos ronda (Ec 1.02) e precisamos constantemente lutar contra ele para não sermos dominado pelo desejo do nosso coração de ocupar um lugar que não é nosso, e cuidarmos para não fazer tudo para o nosso agrado.
A bíblia nos incita a lutarmos contra o mal e contra tudo aquilo que pode nos fazer cair, nos despindo da velha natureza, i.é., velho homem (Ef 4.22; Cl 3.9), que era totalmente inclinado para fazer aquilo que é contrário à vontade de Deus em nós. Não podemos fazer isso sozinhos. Mas, uma vez que o Espírito Santo nos habilita para agirmos de acordo com a nossa natureza regenerada em Cristo, podemos e devemos nos despir de tudo o que é anterior a nossa salvação no tempo e no espaço[2]. Sendo assim, embora seja difícil para nós lidarmos com qualquer pecado, podemos vencer o orgulho.
Neste ponto, podemos fazer a seguinte pergunta: 1)Como Deus trabalha em nós para vencermos o nosso orgulho? Muitas vezes, não sabemos como responder a essa pergunta, embora saibamos dar algumas respostas dentro daquilo que fomos acostumados a responder, em conformidade com a nossa educação cristã. Mas uma resposta precisa ser dada por nós para respondermos, a quem quer que seja, sobre essas questões.
Como já dito, não somos os únicos a lidarmos com esses problemas e nem a nossa geração é a única a ser marcada pelo orgulho. As Escrituras nos mostram como diversos homens do passado lidaram com elas de maneira que suas vidas tomaram rumos diferentes em suas histórias por causa desse pecado capital. Muitos homens tiveram de passar pelo tratamento de Deus a fim de se tornarem pessoas menos orgulhosas e, portanto, mais humildes em suas vidas, mesmo tendo de lidar com o gosto amargo do sofrimento para que, afinal, pudessem reconhecer a soberania de Deus e seu senhorio sobre a criação (Ne 9.6).
Um desses exemplos que demonstram claramente como Deus lida com o nosso orgulho é o de Naamã. O registro dessa transformação se dá em 2Rs 5.1-15a. Embora outras lições possam ser extraídos dessa porção das Escrituras, vemos também algumas das maneiras como Deus lidou com o orgulho desse homem, transformando-o num homem humilde, de coração grato a YHWH. Vejamos algumas valiosas lições que este homem aprendeu e de como Deus lidou com o seu orgulho:
1.        Deus mostra a limitação de Naamã (1-3): Naamã era um homem vaidosíssimo. O verso 1 do nosso texto nos diz claramente como Naamã era visto e como ele mesmo se via e se mostrava diante das pessoas. Não sabemos muitos a respeito desse homem, exceto de que ele era um “herói de guerra” e que “por ele o SENHOR dera vitória a Síria” sobre as nações com as quais combatiam. Ele era um homem temido por seus inimigos e admirado em sua corte. Era um homem excepcional para sua época e um homem que certamente todos os comandantes de guerras e reis da época, principalmente dominadores, gostariam de ter em seu exercito. O problema era que ele se via como um herói da guerra, esquecendo-se de sua condição como leproso[3]. Embora o texto mostre claramente como ele era visto, uma informação adicional nos foi dada pelo compilador[i] dos livros reais que demonstram que suas limitações eram observadas e vistas mesmo diante da imagem que Naamã transmitia. Ele podia fazer questão de menosprezar sua lepra em detrimento de seu status como soldado que era, mas isso não fazia com que sua lepra não fosse vista pelas pessoas, nem por Deus e nem por ele mesmo. Ele tinha ciência dela. Ele quis curá-la quando teve oportunidade. A serva de sua esposa, uma israelita levada como prisioneira percebeu a ponto de falar do profeta da parte de YHWH que poderia ser instrumento para que a vontade de Deus fosse executada. Mas, mesmo diante de todas essas coisas, a imagem que ele demonstrava por onde passava era de um herói. Naamã se orgulhava disso, bem como todos os seus também. Mas Deus demonstra ciência não apenas do Naamã, herói da guerra, mas também do Naamã, leproso, que precisava da única coisa que poderia curá-lo na época: um milagre divino. Enquanto ele se lembrava de suas glórias, Deus demonstrava sua limitação. Enquanto ele era temido como um homem valente, ele era visto como leproso. Enquanto ele se orgulhava de suas vitórias e de seu status, Deus deixava visível sua doença. Deus poderia curá-lo sem a necessidade de seu reconhecimento quanto à graça de YHWH, assim como o fez quando deu vitórias a Síria por meio dele. Mas Deus queria destruir o coração orgulhoso de Naamã, fazendo-o perceber sua real necessidade do Deus Todo-Poderoso, que estava reinando soberanamente naqueles dias sobre o Seu povo, mesmo que aos olhos do povo e de Naamã não fosse assim. Deus o faz conviver com sua lepra constantemente, mesmo a despeito do desejo que Naamã pudesse ter de ser curado de sua doença, como era o pensamento de qualquer leproso na época. A semelhança dessa ação da parte de Deus, temos o Apóstolo Paulo com seu espinho na carne (2Co 12.7-10) que, para não se vangloriar a respeito das visões que tivera (2Co12.1-6), foi-lhe posto esse espinho na carne e, quando pedia ao SENHOR para tirar, ouvia como resposta apenas a frase “A minha graça te basta” (2Co12.9). Naamã podia se envaidecer e se orgulhar de ser um herói de guerra, mas Deus mostrava claramente a sua limitação.
2.        Deus faz Naamã se despir de sua arrogância (9-13): Ouvindo Naamã sobre a existência de um profeta em Israel que poderia curá-lo, ele se dispõe a ir e arruma tudo o que seria necessário para esta empreitada. Chegando à terra do profeta, se depara com a seguinte situação: ele, soldado siro, respeitado e renomado na época, da nação dominadora de Israel, vindo de longe para ter com o profeta não é recebido pessoalmente pelo profeta, mas recebe apenas um recado por meio de um dos discípulos do profeta Eliseu. Para Naamã, com todo o seu orgulho, essa era uma situação constrangedora. O profeta não o recebe pessoalmente e ainda manda-o banhar-se nas águas do rio Jordão, como meio pelo qual Deus faria o milagre. Era simples demais para um homem como Naamã e totalmente desnivelado com a posição que ele exercia. Ele sai frustrado, deixando sua arrogância dominar seu ser por não ter sido valorizado por ser quem era e por ter feito o que fez: um herói da guerra. Suas palavras demonstram claramente sua frustração e sua arrogância no verso 11; “Pensava eu que ele sairia a ter comigo”. Sua arrogância chega ao ponto de menosprezar aquilo que o profeta falou-lhe: “Não são, porventura, Abana e farfar, rios de Damasco, melhores do que todas as águas de Israel? Não poderia eu lavar-me neles e ficar limpo? E voltou-se e se foi com indignação” (2Rs 5.12). Toda a tendência pecaminosa de Naamã estava manifesta ali, gritando por não ter sido tratado como ele achava que deveria e merecia ser. Seu senso de autossuficiência estava em níveis alarmantes e era justamente isso que o estava impedindo, naquele momento, de vislumbrar a grandeza da graça de Deus. Algo precisava mudar e não eram as palavras ou o comportamento do profeta e sim as palavras e o comportamento de Naamã que precisavam ser revistos. Ele precisava se despir de sua arrogância para poder atender à palavra de Deus e poder, por fim, gozar daquilo que almejava, pois esta era a vontade de Deus para a vida dele. Um dos oficiais de Naamã, mais crédulo que ele, confronta seu senhor, de maneira pacífica, com a finalidade de lhe fazer pensar a respeito das palavras do profeta. Quando o rapaz interpela lembrando Naamã da facilidade daquilo que lhe fora pedido, parece que a consciência dele é acionada no mesmo instante e ele se dá conta de que não era nada surreal o que estava sendo pedido. E Naamã atende a palavra do profeta após a interpelação de seu oficial. Naamã precisou abandonar toda aquela ira e indignação, bem como toda a arrogância que o cegava para ver que não estava sendo exigido dele nada além daquilo que ele poderia fazer. O rapaz argumenta com Naamã dizendo-lhe que se fosse algo sobremodo difícil, ele o faria. Mas sendo algo simples, por que não fazer? A resposta talvez seja clara, quando percebemos a arrogância dele: um homem da condição dele, um soldado valente com um problema tão sério não poderia ser curado com algo que não estivesse ao seu nível, nem mesmo por algo que não lhe impusesse dificuldade alguma. Ele precisou ver além de sua arrogância para que pudesse vencer sua lepra. Somente quando ele se despiu dela é que foi feito o milagre que ele tanto esperava e que ele queria, quando saiu da Síria e dirigiu-se até as terras de Israel. Ele precisou não se ver como um herói da guerra, e sim como um leproso para que pudesse entender sua necessidade e se despir da arrogância.
3.        Deus faz Naamã se submeter à Sua vontade (14): Ouvidas as palavras de seu oficial, Naamã resolve submeter-se àquilo que Eliseu havia lhe dito da parte de Deus. Naamã se submete à vontade e a ordem de Deus de maneira total, agora não mais importando as circunstâncias externas. Deus já havia operado em Naamã dando-lhe consciência de sua arrogância e da facilidade daquilo que estava sendo exigido dele. Deus já havia feito Naamã trocar sua visão, não vendo-se mais, apenas, como um herói de guerra, mas como um leproso. O que faltava a Naamã agora era atender à palavra de Deus com obediência para que pudesse ser curado. É interessante o fato de que aquele homem que se indignou pelo profeta não ter ido pessoalmente atender-lhe, ter, agora, mergulhado nas águas sete vezes até ficar limpo. Sua situação era outra. Agora ele era um leproso em busca de cura e não um herói querendo banhar-se. Ele mergulhou vez após outra sem ver resultado até a sexta vez. Para o homem que não queria banhar-se nenhuma vez, mergulhar seis vezes sem ver o resultado e sem discutir, era resultado duma ação interna da parte de Deus. Ele foi persistente naquilo que ele queria, mas mais que isso, ele foi obediente, mesmo não vendo resposta imediata. É importante notar que, se Deus quisesse curá-lo sem o uso das águas, ele o faria. Jesus, certa feita, curou dez leprosos apenas pela palavra do Seu poder (Lc 17.11-17). Deus poderia fazer o mesmo agora com Naamã, mas, como o propósito era, também, lidar com o orgulho de Naamã, o mergulho era necessário para fazer com que este guerreiro se submetesse a vontade e a Soberania do SENHOR dos Exércitos. Deus estava requerendo dele apenas obediência à sua Palavra, dita por meio do profeta. Ele precisou ser obediente para continuar em seus mergulhos mesmo não vendo resultado algum até o sexto mergulho. Mas, ao sétimo, algo aconteceu. Sua carne, segundo o texto, ficou limpa. Aquele homem viu o resultado, não imediato como ele queria, embora bem imediato comparado a outras circunstâncias da vida, apenas quando foi obediente até o fim, mesmo sem ver saída. O homem impaciente com o profeta, agora foi paciente com seus mergulhos. O homem vaidoso e orgulhoso demais para admitir que o profeta não lhe deu atenção, mesmo ciente de quem ele era, agora obedeceu sem discutir aos mergulhos mesmo não percebendo o resultado. O homem que não se submetia e não atendia aos seus inferiores quando isso não lhe agradava, agora se submeteu a lavar-se nas águas dantes menosprezadas por ele. A terceira maneira de como Deus venceu o orgulho de Naamã foi justamente fazendo aquele homem curvar-se diante de Seu Senhorio e Soberania. Não eram os mergulhos. Não eram as águas. Não era a fé de Naamã, pois ele não tinha, se não, teria feito logo que lhe foi dito por Eliseu. Não foram sua determinação e insistência apenas. Era tão somente a obediência a Deus que iria resolver o problema. Naquele instante um milagre foi feito, uma cura foi realizada. Mas não era a lepra o maior problema e que precisava ser curada. O maior milagre e a maior cura foram feitos no coração daquele homem que, agora, vencera seu orgulho. Esse era o verdadeiro milagre e propósito do SENHOR com tudo aquilo. Foi preciso submeter-se à vontade de Deus para, então, Naamã livrar-se de sua doença mais cruel e arrasadora de todas: o orgulho em seu coração.
4.        Deus faz Naamã reconhecer a Sua grandeza (15a): A cura já havia sido feita da lepra que Naamã possuía. Ele já havia tido consciência de sua realidade e de sua limitação, já havia se despido de sua arrogância e ignorância e já havia se submetido à vontade de Deus por meio de sua Palavra. Mas ainda faltava uma ultima lição a ser aprendida por Naamã. Ele precisava reconhecer a grandeza e suficiência do único Deus: o Deus de Israel. Este era o resultado direto do tratamento que Deus operara em sua vida. Não havia como Naamã vencer seu orgulho se não, reconhecendo a grandeza de Deus. Mas não havia como ele reconhecer plenamente a grandeza de Deus, se não vencendo o seu orgulho. Este era o último estágio daquilo que Deus fizera. Se a lepra fosse o grande milagre, Naamã nem precisaria reconhecer a grandeza de Deus naquilo tudo, como nos dias em que Jesus curou os 10 leprosos (Lc 17.11-17). O texto de Lucas nos diz que, dos 10, apenas um voltou para agradecer a Jesus pela cura.Todos foram curados e Jesus não devolveu a lepra para os nove que não retornaram. Eles foram curados, pois este era o propósito de Deus ao manifestar sua graça comum à todos os homens. O mesmo poderia ser feito agora, mas o propósito não era apenas a cura da lepra e sim vencer o ardiloso e orgulhoso coração do soldado siro, Naamã. Naamã termina essa primeira parte de sua história reconhecendo essa grandeza de Deus a ponto de dizer que “em toda a terra não há Deus, senão em Israel”. Seu senso de autossuficiência agora foi trocado e ele reconhece sua dependência da grandeza de Deus e reconhece essa grandeza ao admitir saber que não havia Deus fora dos limites de Israel. Ele não estava limitando Deus a uma tribo, como era de costume na época, ter deuses tribais. Ele reconhece que apenas Israel cultuava o único e suficiente Deus e que só em Israel poderia se achar tal Divindade. Naamã, antes herói da guerra, cheio de si, orgulhoso, agora era um homem temente, obediente e humilde a ponto de colocar-se como servo e não mais como um herói, como pode ser observado na continuação do verso 15, quando ele trata Eliseu como seu senhor e coloca-se na humilde condição de servo do profeta. Tratamento comum a quem estava pedindo favor, mas não comum para o orgulhoso soldado Naamã. Ele, agora, não mais orgulhoso de si mesmo, sabendo que o Naamã leproso fora curado de sua lepra, torna-se um herói da guerra temente ao Deus Todo-Poderoso. Ele passou pelo tratamento de Deus e foi curado e como prova da cura de Seu coração orgulhoso, foi reconhecer a grandeza do Deus que o havia libertado da lepra e do orgulho.
Quando nos damos conta de que vivemos numa sociedade extremamente orgulhosa e egoísta, cuja vontade é de demonstrar cada vez mais nossas glórias em detrimento de nossas derrotas, precisamos nos servir dos exemplos que as Escrituras nos propõem e aplicar tais lições ao nosso coração. Para vencer este pecado terrível e que cerca nosso ser desde os primórdios do mundo precisamos passar pelo mesmo tratamento que Naamã passou e termos os mesmos comportamentos e as mesmas conclusões as quais ele chegou, mas vendo cada uma delas dentro de nossa realidade. Vejamos algumas aplicações de tais lições para as nossas vidas:
1.        Precisamos que Deus constantemente nos mostre nossas limitações: Há muitas pessoas que, ‘inda hoje, se colocam diante das demais e diante da vida sem se lembrar das suas limitações. É muito mais prazeroso para nós sermos vistos como heróis destemidos a sermos vistos como leprosos. Assim como Naamã, temos ciência das nossas limitações. Mas apenas ter ciência delas não é o suficiente para nos tornarmos pessoas menos orgulhosas. Ao contrário, muitas vezes essa ciência nos dá mais subsídios para sermos orgulhosos, pois, na tentativa de não sermos vistos por aquilo que nos limita, procuramos demonstrar aquilo que nos prestigia. Precisamos ter uma visão verdadeira e coerente da nossa realidade. Não existem pessoas perfeitas nesse mundo e precisamos ter ciência disso. Precisamos que Deus nos mostre nossas limitações e não nos livre do desejo de queremos sobrepujar, ou mesmo esconder essas limitações com a finalidade de não demonstrar fraquezas. Aliás, este tem sido um dos pontos constantemente pregados em nossa sociedade orgulhosa. Aprendemos desde cedo que não podemos demonstrar fraqueza diante das circunstâncias e não podemos deixar nossas limitações nos limitar em nada. Embora seja produtivo superar nossos limites, viver em função de nossas glórias apenas asseveram ainda mais nossa fraqueza. Enquanto demonstramos nossas conquistas, Deus escancara nossas limitações de maneira que quanto mais queremos escondê-las, mais elas ficam perceptíveis. Não podemos nos colocar como heróis, mesmo que sejamos. Precisamos ter visão de nossas limitações e precisamos que Deus as mostre a nós constantemente para que saibamos que tudo vem dele, inclusive nossas glórias. Precisamos orar a letra do cântico, quando diz: “nunca me deixe esquecer que tudo o que tenho, tudo o que sou, o que vier a ser, vem de ti Senhor[4]”.
2.        Precisamos que Deus nos faça despir de nossa arrogância: A Semelhança de Naamã, precisamos nos despir de nossa arrogância. Muitas vezes nós agimos como o nosso senso autossuficiência e isso nos tem impedido de vermos a realidade sobre nós. Menosprezamos as coisas que acontecem conosco e menosprezamos as bênçãos de Deus sobre nossas vidas e, pior, não nos dispomos a servir a Ele e a atender sua Palavra quando não achamos que ela está a altura daquilo que imaginamos que somos. Preferimos encarar as situações dentro da nossa ótica e de acordo com nossa visão da vida a nos submeter-nos aos cuidados e direção de Deus. É preciso que Deus nos dê forças e nos faça despir da velha natureza, entranhada em nós, mudando nosso conceito sobre nós mesmos e sobre a vida para que nós possamos arrancar a arrogância de nosso peito e, com isso, caminharmos rumo a uma vida sem o orgulho. Não é fácil. De todos os  três inimigos que possuímos, o mundo, a carne e o diabo, nossa carne é a mais difícil de ser vencida pois ela é tudo aquilo que desejamos e queremos fazer na realidade. A nossa vida é uma luta constante contra nossos anseios. É por isso que, nas palavras de Paulo, precisamos nos despir da velha natureza, ou seja, do velho homem, que vivia antes da regeneração (Ef 4.22; Cl 3.9). Não há espaço para orgulho no coração dos filhos de Deus e embora em nós, agora, haja a santa semente que nos faze viver diferentes de outrora (1Pe 1.13-23), lutamos constantemente para que o novo homem, humilde, semelhante ao Seu Mestre, que deu o maior exemplo de humildade possível (Jo 13.1-20; Fp 2.5-11), possa ser o que vive em nós. Precisamos arrancar a arrogância de nós e somente pela graça de Deus é que o faremos.
3.        Precisamos que Deus nos submeta à sua vontade: Não existe outra forma de enfrentarmos a realidade de nossas vidas e mudarmos os nossos corações, se não pela vontade soberana de Deus e o modo como fazemos isso é nos colocando sob Sua Palavra, obedecendo-A. Esta é a maior dificuldade de todas para nós. Termos consciência de nossas limitações é menos difícil, assim como nos despir da arrogância também é menos complicado, do que nos submetermos ao senhorio do Senhor Jesus, a encarnação da Palavra de Deus, embora este seja o resultado de nos despirmos da arrogância. Sob tudo em nossa sociedade relativista, em que o padrão de certo e errado depende, e muito, da ótica que analisamos, nos submetermos à Palavra de Deus, fonte e origem daquilo que é certo, padrão absoluto daquilo que é verdadeiro, é ainda mais difícil do que nos dias de Naamã. Hoje, nós vemos as pessoas supervalorizando os mergulhos, as águas, a fé, a insistência, o resultado, ao invés de valorizar a obediência que é o que nos faz vislumbramos os grandiosos milagres da parte de Deus, embora, saibamos, que nem sempre a vontade de Deus é condizente com a nossa. A Dele é superior e é por isso que devemos nos submeter à sua vontade soberana, boa, agradável e perfeita. Para vencermos a orgulho de nossos corações e caminharmos humildes como Ele requer de nós, é preciso obedecer a Ele sob qualquer custo. Obediência. Esta é a maneira correta de obtermos vitória e o verdadeiro milagre sobre nossas limitações. Isso não significa livrarmo-nos delas. Mas sim, reconhecer nossa real necessidade de Deus, o que nos leva à quarta lição.
4.        Precisamos que Deus nos faça reconhecer sua grandeza: Contrariando a nossa mente autossuficiente, precisamos reconhecer a nossa necessidade de Deus e reconhecer sua grandeza absoluta sobre todas as coisas. A semelhança de Naamã, obedecer apenas não é o suficiente sem o reconhecimento sincero da existência única do verdadeiro Deus. Não pode haver espaço em nosso coração para outro ser que seja Grande, Suficiente e Senhor sobre a história, circunstâncias e sobre a nossa vida, exceto o SENHOR dos Exércitos. Precisamos reconhecer que Deus é o único digno de ser agradado e que Ele sim, é senhor sobre tudo, inclusive sobre nossas vidas, e não nós, cheios de limitações. Hoje, vivemos numa época em que Cristo, o Rei da Glória (Sl 24), é tratado como um mordomo das pessoas que existe apenas para servir e abençoar o Seu povo. Houve uma inversão de valores muito grande. Queremos, por causa do orgulho, tomarmos o Seu lugar como Senhor e dar a Ele o nosso lugar como servos, quando, na verdade, devemos nos acomodar em nosso papel de servos consagrados, separados, escolhidos por ele para sermos Seu povo eleito (1Pe 2.9). Muitas vezes, o que tem atrapalhado nossa caminhada é que nós nos vemos como heróis e tratamos a Deus como sendo o limitado, totalmente dependente de nossos anseios, desejos e vontades. Precisamos constantemente pedir ao Senhor, Deus de todo o universo, que nos faça ver e reconhecer sua grandeza e glória, pois só assim, a partir desse reconhecimento, venceremos o orgulho no limite de nossa mente/coração.
Tudo isso que aprendemos aqui só pode ser alcançado a partir de uma intimidade e comunhão com o Senhor Jesus, sendo pedido a Ele todas essas coisas em oração. Embora parta dele “tanto o querer como o efetuar” (Fp 2.13), precisa haver em nós uma disposição para tal, num segundo momento, e isso só é conseguido através da oração e da comunhão com Ele. Precisamos ser tomados do mesmo sentimento do poeta ao escrever o hino “Coração Quebrantado[ii]” do Hinário Novo Cântico, e orar suas palavras, dizendo:

Sonda-me, ó Deus, pois vês meu coração!
Prova-me, ó Pai, te peço em oração.
De todo o mal liberta-me, Senhor,
Até da transgressão que oculta for.

Vem me lavar dos vis pecados meus,
Conforme prometeste, meu bom Deus.
Faze-me arder e consumir de amor,
Pois quero te magnificar, Senhor.

Todo o meu ser não considero meu;
Quero gastá-lo no serviço teu.
Minhas paixões tu podes dominar,
Pois tu, Senhor, vieste em mim morar.

Lá to alto céu o avivamento vem
E que comece em mim, seguindo além.
O teu poder, as bênçãos, teu favor
Concede aos que são teus, ó Pai de amor.
Amém.



[1] Sendo eles: 1)Gula; 2)Avareza; 3)Luxuria; 4)Ira; 5)Inveja; 6)Preguiça; 7)Orgulho.
[2] Embora saibamos que a salvação se deu nos tempos eternos, quando Deus quis, em Cristo, salvar-nos de nossos pecados, essa salvação se deu no tempo e no espaço em Cristo na Cruz oferecendo um sacrifício definitivo por nós, mas alcançou-nos na história no momento de nossa conversão e regeneração por meio da Terceira Pessoa da Trindade.
[3] Lembremos que nos dias da monarquia entre o povo de Deus e também depois destes dias, a condição mais decadente e humilhante de todas era a do leproso. Ele não era visto como igual entre os seus e era separado dos demais do povo pois estava marcado com uma terrível doença pra época.
[4] Diante do trono: Vem de Ti, Senhor



BIBLIOGRAFIA
[i] HILL, Andrew E. & WALTON, J. H. Panorama do Antigo Testamento. 2007, Editora Vida Acadêmica. 2ª Edição. Pp. 247
[ii] ORR, J. E. & KASCHEL, W. (tradução e 4ª estrofe). Coração Quebrantado. 1999, Hinário Novo Cântico, Casa Editora Presbiteriana.