quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Jesus, o exemplo exaltado por Deus!

É comum aos homens buscarem um modelo, um exemplo, um padrão a seguir. Nossa geração não é exceção disso. As pessoas elegem modelos maternais, paternais, esportistas e até modelos de vidas, como ideais para seguirmos. Quando se trata da igreja, também não somos exceção. Temos a mesma busca pelos mesmos modelos e, por vezes, elegemos nossos líderes ou um irmão ou irmã com quem temos maior afinidade e admiração, como modelo a ser seguido por nós. Deus, sabendo dessa tendência natural do ser humano, estabeleceu um modelo perfeito para nós: Jesus! A Carta aos Filipenses, traz o exemplo de Jesus e em como Ele se torna modelo para nós, de modo que precisemos nos dedicar em imitá-Lo.
A igreja em Filipos foi a primeira igreja em solo europeu, plantada por Paulo, por volta do ano 50 d.C. Paulo nutria um profundo amor por essa igreja e essa epístola, juntamente com a epístola à Filemon, são as cartas mais pessoais que ele escreve. Cerca de 10 anos depois de sua fundação, por volta do ano 60 d.C., Paulo está preso em Roma, cidade em que ele seria morto, por amor ao evangelho. Ciente dessa situação de Paulo, os Filipenses angariam uma oferta e a remetem à Paulo pelas mãos de Epafrodito. Durante essa visita de Epafrodito, Paulo é noticiado dos problemas daquela igreja que estava sofrendo, como rixas, discussões frívolas, discórdias – principalmente por Evódia e Síntique – e a obra do Senhor estava sendo feita por vanglória e partidarismo.
No primeiro capítulo da carta, Paulo escreve falando sobre sua saudade dessa igreja e sobre a certeza de que eles eram participantes de seu ministério. Ele descreve ainda sua situação e deixa claro que a obra do Senhor deve ser feita independente das circunstâncias, haja visto que ele próprio, preso, estava anunciando a Cristo. Suas algemas eram as provas de que ele era prisioneiro em Cristo. Já no segundo capítulo, Paulo trata sobre a unidade da Igreja e mostra a Cristo Jesus como o exemplo, o modelo a ser seguido por aquela comunidade, com vistas à glória de Deus. Em Fp 2.5-11, Paulo descreve a Jesus, o modelo exaltado por Deus.
Jesus, o modelo de Deus (Fp 2.5-8): Por se tratar duma igreja madura em idade naquele contexto e, por tanto, uma das mais esclarecidas do conhecimento do Senhor, Paulo cita o que alguns estudiosos apontam como sendo a letra dum cântico entoado na igreja primitiva para relembrá-los sobre a obra de Cristo. Ciente das dificuldades daquela igreja e, embora ele se colocasse como exemplo deles no texto anterior, em se tratando de modelo para a resolução dos problemas enfrentados pelos Filipenses, Paulo cita aquele que é perfeito e de quem nenhum cristão pode duvidar ou discutir como modelo. Paulo cita aquele que foi dado pelo próprio Deus como modelo para a sua igreja: Jesus.
Mas a ideia de Paulo não é apenas colocar Cristo como um modelo e deixa a questão entregue à mentalidade daquela comunidade. Ele define bem o assunto mostrando em que Jesus é o modelo de Deus para a Sua igreja.
1.           Jesus, Modelo de Humildade (5-6): Sendo o próprio Deus, Cristo abriu mão momentaneamente da sua glória completa, limitando-se à forma humana, embora dotado plenamente de sua deidade. O exemplo de humildade de Jesus já era conhecido pela comunidade, tendo em vista os ensinos perpetuados pelos apóstolos. Em Jo 13, temos a passagem em que Jesus lava os pés de seus discípulos, função que, na época, era exclusiva dos escravos. O Rei da glória, Senhor do universo, lavava os pés dos seus discípulos e ensinou-lhes que eles deveriam seguir Seu exemplo e abrir mão de toda a vanglória humana. Sendo Deus, não quis ser igual a Deus, mas viveu de maneira humilde, sem ostentação, sem arrogância, sem exigências, sem obter e querer glória para Si mesmo. Enquanto os Filipenses buscavam vanglória, o Senhor da Igreja buscou, em tudo, a glória do Pai.
2.           Jesus, modelo de servo (7a):E ele, assentando-se, chamou os doze e lhes disse: Se alguém quer ser o primeiro, será o último e servo de todos.” (Mc 9.35). Essa foi uma das principais instruções de Jesus, quando questionado sobre quem seria o maior entre seus seguidores, ou sobre quem se assentaria ao Seu lado em Seu reino. Ele deixou claro que para ser seu seguidor, não deve-se colocar como Senhor sobre todos, mas sim como servo de Todos. Ele mesmo estava familiarizado com essa posição. As profecias veterotestamentárias a Seu respeito descreviam-No como servo dos seus irmãos. Ele mesmo não desejou ou lutou por outra posição, mas serviu em todo o seu ministério. Como Rei, serviu aos seus semelhantes. Como o Filho do Deus vivo, não viveu e nem desejou viver como príncipe. Simplesmente serviu. Enquanto os Filipenses queriam as glórias e as vantagens imaginadas sobre ser cristão, Paulo demonstra que Cristo, sendo Deus, viveu como servo e é servo que Ele procura para pertencer ao Seu povo.
3.           Jesus, Modelo de Obediência (7b-8): Durante toda a sua vida sobre a terra, Jesus Cristo foi obediente à todas as autoridades. Foi obediente a José, seu padrasto, e à Maria, sua mãe, honrando-os até o fim. Jesus Cristo foi obediente aos seus governantes, cumprindo com as leis romanas da época. Jesus foi obediente às leis sinaíticas[1], não preocupado com as tradições, mas com o principio por trás da lei. Mas, principalmente e sendo o motivo para ser obedientes aos demais, Jesus foi obediente ao Pai até o fim. Antes de sua prisão, suas palavras foram “Pai, se possível, passe de mim este Cálice. Contudo, seja como tu queres” (Lc 22.42; Mt 26.4). Sendo Deus, poderia irromper com este momento, escapar da morte e não submeter-se a nada que humanamente não quisesse se submeter. Entretanto, Jesus, como nas palavras citadas por Paulo, foi obediente até a morte e morte de Cruz. Segundo as leis romanas, a cruz era para os piores criminosos. Para os Judeus, a cruz era sinal da maldição de Deus sobre o homem (Cl 3.13). Jesus tinha ciência sobre isso e tinha poder para livrar-se dessa vergonha e humilhação momentânea. Contudo, como exemplo de obediência, seguiu seu caminho até o fim, para satisfazer a vontade de Deus. Não preocupou-se com o que estava perdendo ou com a aparente vergonha que passaria. Ele decidiu obedecer e obedeceu até o fim. Enquanto os Filipenses brigavam e faziam a obra do Senhor apenas para atrair os holofotes, Jesus obedeceu ao Pai ao custo de sua própria vida. Jesus deveria ser imitado como modelo para aquela Igreja.
Depois de demonstrar como Jesus serve de padrão, de modelo para a Igreja, Paulo continua seu discurso demonstrando que ele foi exaltado por Deus (Fp 2.9-11) depois de trilhar o caminho da humilhação, aos olhos humanos, sendo humilde, servo e obediente.
1.           Jesus, exaltado por Deus após a humilhação (9): É conhecido entre os cristãos a paráfrase de Ez 21.26: “Os humilhados serão exaltados”. E embora o homem naturalmente, depois da queda, desejem a glória e a exaltação para si mesmo, esquecem-se que para verem a exaltação em Cristo é preciso que vivam a humilhação por Cristo. Jesus foi exaltado por Deus diante dos homens, mas isso depois de suas constantes humilhações ao longo de sua vida terrena e, principalmente, nos momentos finais de sua vida, culminando com a crucificação. Pedro, em Seu discurso em At 4 deixa claro que Deus exaltou a Jesus, ressuscitando dentre os mortos, sendo a morte o ápice de sua humilhação. Somente depois de vivenciar as agruras de sua vida, em obediência humilde ao Pai, tomando o lugar de servo, é que Jesus foi exaltado pelo Pai. Enquanto a igreja de Filipos  se perdia de problemas menores buscando a glória de si mesmos, Jesus foi exaltado e glorificado pelo Pai, depois de seguir o caminho da humilhação.
2.           Exaltado como Senhor sobre todos (10-11a): Aquele que colocou-se como servo de todos e ensinou que o maior deve ser o servo dos seus irmãos, foi elevado, agora, como Senhor sobre todos. Aquele que foi preterido pelos seus compatriotas, agora foi honrado e será reconhecido diante e por todos os homens. Aquele que foi humilhado, agora é honrado. Se anteriormente os homens não reconheceram sua deidade e senhorio, agora, tais homens devem se curvar diante da sua glória e soberania. Toda língua confessará e toda joelho se dobrará ante à glória de Jesus. O Pai submeteu e continuará submetendo todos os homens ao Senhor dos senhores, ao Rei dos Reis, a Jesus, o Cristo. Enquanto a igreja de Filipos estava discutindo e não queriam unir-se e nem buscar outra vida, senão a de vanglória, Paulo demonstra que Deus exaltou a Cristo, depois de sua humilhação, como Senhor de todos, inclusive dos desunidos filipenses.
3.           Jesus, exaltado para a glória de Deus (11b): O motivo pelo qual Deus estabeleceu Jesus como modelo, e depois o exaltou, foi para a glória do Seu próprio nome. O reconhecimento que as nações farão sobre o senhorio e deidade de Jesus é para a glória do Pai. Tudo que o que foi feito para a criação, pela criação, por meio da criação e através da criação foi e será sempre para a glória de Deus. Essa visão é crucial para o homem na teologia paulina. Aos coríntios, ele disse que devemos “fazer tudo para a glória de Deus” (1Co 10.31). Aos Efésios, ele diz que Deus tem poder para fazer muito mais do que podemos imaginar para que Seu nome seja glorificado em Cristo e na Igreja (Ef 3.21). Deus preserva a glória do Seu nome e tudo quanto faz, o faz para este fim. Sendo assim, Paulo deixa claro que a exaltação de Jesus é por este mesmo motivo. Mas não apenas isso. Tudo o que Jesus fez e que Paulo apontou nesse pequeno trecho, é tão somente para a glória de Deus. E é por esse motivo que Jesus submeteu-se ao Pai em tudo: Para a glória do Pai. Enquanto os filipenses estavam preocupados consigo mesmos e com suas rixas, buscando sua própria glória, Deus exalta a Cristo e demonstra que tudo deve ser feito tão somente para a Sua glória.
Num contexto em que sempre buscamos alguém para nos assemelhar e imitar, busquemos o melhor, imitando-O em tudo, sabendo do que nos aguarda quando estamos dispostos a seguir nosso padrão. Precisamos, com Jesus, aprender: 1) a abrir mão do que e de quem somos e temos. Existem na igreja muitas pessoas que orgulham-se por ter o posto que tem ou pelo emprego que possuem, ou pelo status que mantém. Com Jesus, aprendemos que precisamos ser humildes, pois foi essa uma das maiores lições que nos legou. Não importa quem somos, ou quem Deus nos permite ser. Devemos ser humildes abrindo mão das nossas vaidades naturais e não ouvindo nosso coração que desesperadamente quer as glórias para si. 2) Precisamos aprender que Deus busca servos para sua igreja. Embora sejamos seus filhos, Deus não nos chama para viver como príncipes neste mundo. Sendo Jesus o próprio Deus e tendo aberto mão de sua posição, momentaneamente, para ocupar a posição de servo, precisamos aprender a fazer o mesmo. Algum pastor já disse que colocaria em sua igreja uma placa na porta dizendo “precisa-se de servos porque senhores já temos muitos”. E essa é uma triste verdade. Na igreja do Senhor, muitos querem mandar e serem servidos. Entretanto, o Senhor nos elegeu e nos chamou para uma vida de servidão a Ele, conforme Sua Santa vontade. 3) Cristo foi obediente ao custo de sua vida. E nós? O que estamos dispostos a abrir mão por amor e obediência ao Senhor? Cristo foi obediente até o fim. Noé,durante a construção da Arca, foi obediente até o fim da construção, mesmo parecendo, naquele contexto, loucura obedecer a Deus. Ele anunciou o dilúvio (Gn 6; 2Pe 2.5, Hb 11) durante 120 anos e ninguém lhe ouviu, e no céu não se via sinal de abundante chuva. Contudo, ele obedeceu, mesmo sendo chacoteado pelos seus. E nós, estamos dispostos a obedecer a Deus mesmo em situações em que parece loucura fazê-lo? Estamos dispostos a abrir mão da nossa reputação e de sermos taxados algumas vezes, por obedecermos ao Senhor? Com Cristo, precisamos aprender a obedecer ao Senhor. 4) Precisamos aprender que somente seremos exaltados em Cristo depois de vivermos uma vida de humilhação pelo Senhor. Não há como querermos os louros da vitória, sem antes levarmos as cicatrizes da batalha. É fácil procurarmos e buscarmos a glória e a exaltação. A teologia moderna prega que, como filhos de Deus, precisamos desfrutar da Sua glória aqui. Contudo, com Jesus, aprendemos que a nossa glória, Nele, se dará apenas após as lutas, provações, tribulações e triunfo nelas. 5) Precisamos estar cientes de que tudo será feito para a glória de Deus. Deus não age para a glória da igreja ou do cristão, mas sim o cristão, na igreja, deve fazer tudo para a glória de Deus. Isso nos faz pensar sobre o propósito de tudo o que fazemos. A quem queremos exaltar? Nós ou ao próprio Deus? A resposta a essa pergunta definirá as nossas ações e a reações. Sigamos o exemplo de Cristo e imitemo-Lo!



[1] Leis Sinaíticas: Leis dadas por Deus no monte Sinai à Moisés