sábado, 30 de novembro de 2013

Deus Santifica os Seus Eleitos. CFW XIII.1

Um dos temas de maior confusão na vida do Cristão de nossos dias, sem sombra de dúvidas, tem sido o tema da santificação. Esse tema divide opiniões pela compreensão que as pessoas fazem desse tema. Existem três possíveis respostas, não necessariamente erradas, quando perguntamos se somos santos. A primeira resposta que obtemos é não. Essa resposta se dá pela compreensão de que santidade está atrelada a perfeição. Nesse sentido, olhando o fato de que seremos perfeitos apenas nos céus, então podemos concordar com o fato de que não somos santos. A segunda resposta mais comum de ouvirmos é que não somos totalmente santos, mas que somos parcialmente santos. Essa resposta se dá pela compreensão de que a santificação é um processo ao qual estamos submetidos ao longo da nossa peregrinação nesse mundo, para sermos aperfeiçoados plenamente nos céus. Essa resposta também está correta. A terceira resposta igualmente correta é a afirmação de que somos santos. Isso se dá pela compreensão de que somos separados por Deus para vivermos tal como Ele é. Ainda que não sejamos perfeitos, fomos habilitados a sermos diferentes dos demais homens, por sermos separados para uma vida semelhante à de Cristo, sendo seus imitadores (Ef 5.1). Entendendo que essas três respostas são igualmente assertivas, precisamos compreender quem estão sendo santificados e o propósito dessa santificação.
Se fôssemos tentar explicar essa temática a luz do nosso conhecimento “moderno” ou “pós-moderno”, poderíamos não fazer jus com a verdade defendida pelos nossos irmãos do passado cm base nas Escrituras. Sendo assim, ajuda-nos a compreender essa santa verdade, a Confissão de Fé de Westminster q expõe, de modo sistemático, a nossa fé baseada nas Escrituras. Vejamos o que ela nos diz[1]:
XIII.1 - Os que são eficazmente chamados e regenerados, tendo criado em si  um  novo  coração  e  um  novo  espírito,  são,  além  disso,  santificados  real  e pessoalmente  pela  virtude  da  morte  e  ressurreição  de  Cristo,  pela  sua  palavra  e pelo  seu  Espírito,  que  neles  habita¹;  o  domínio  do  corpo  do  pecado  neles  todo destruído²,  as  suas  várias  concupiscências  são  mais  e  mais  enfraquecidas  e mortificadas³, e eles são mais e mais vivificados e fortalecidos em todas as graças salvadoras4para  a  prática  da  verdadeira  santidade,  sem  a  qual  ninguém  verá  a Deus5. Ref.: 1-  At 20.32; Rm 6.5,6; Jo 17.17; Ef 5.26; II Ts 2.13. 2-  Rm 6. 6,14. 3-  Rm 8.13; Gl 5.24; Cl 3.5. 4-  Cl 1.11; II Pe 3.13-14. 5-  II Co 7.1; Hb 12.14. (Destaque nosso)
Esse primeiro parágrafo do capítulo XIII da CFW expõe de maneira categórica as verdades quanto ao tema. Mas, talvez, olhando apenas para o texto como ele está não seja tão claro quanto deveria ser em nossas mentes. Desta feita, analisaremos as sentenças de maneira separada para nossa maior e melhor compreensão dessas verdades.
Os que são eficazmente chamados e regenerados...”: Diferente do pensamento comum de nossa época, a santidade não é oferecida a todos. Isso se dá pelo fato de quem não foram todos chamados por Deus para a salvação, mas apenas aqueles que foram predestinados para este fim. Assim sendo, o chamado de Deus para a santificação não se dá a todos os homens, embora todos tenham a necessidade e a obrigação de o serem. Não se trata de quem quer. Até porque o homem natural é opositor a tudo que Deus estabelece e exige por causa da sua tendência à rebeldia contra Deus. Isto é, o homem natural não quer ser santificado pois nem se enxerga como um ser perverso e mau. Mas, ainda que assim visse, ou ainda que nós conheçamos pessoas que são “boas”, elas não podem ser santas por livre escolha de sua própria vontade. Este processo de santificação se dá apenas nos que foram chamados para esta vida separada, mas só depois de serem regenerados. Este processo de Santificação se dá apenas aos que foram eternamente separados para a glória de Deus (Rm 9.14-29);
...tendo criado em si um novo coração e espírito...”: Esse processo de santificação se dá apenas aos que passarem pelo novo nascimento. Não podemos ser os mesmos depois do encontro com Cristo. Não podemos ser os mesmos depois de termos sido impactados e transformados pelo poder de Deus. O nosso velho ser não pode agradar a Deus pois era mal e contrário à Sua vontade. Desse modo, algo em nós precisava ser mudado para que pudéssemos viver segundo a Sua vontade. Sendo assim, um novo coração nos foi dado, um coração submisso ao Senhor e que deseja a Sua glória. O nosso espírito também foi renovado e vivificado, criado, agora, segundo Deus e para Deus. (Ef 4.17-24) Desse modo, tornar-se impossível à nós, que passamos por este processo de mudança de coração e espírito, sermos iguais ou piores do que antes da regeneração. Somos habilitados a sermos santos, numa mudança total de comportamento, inclinado à nossa nova natureza que ainda milita contra a anterior (Ef 4.25-5.1).
...santificados... [por] Cristo, Sua palavra e seu Espírito...”: Não existe outro meio de santificação. Não existe outro modo de mudança real e significativa de vida e comportamento alheio à Cristo, sua Palavra e seu Espírito. Nesse sentido, ninguém pode ser santificado andando distante do Senhor, ou não tendo o prazer de meditar em sua lei para ser como árvore plantada junto às correntes de água, firmes e fortes, enfrentando toda e qualquer tempestade (Sl 1) ou mesmo sem que o Espírito de Cristo habite em nosso ser. Àqueles que foram chamados desde toda a eternidade para a salvação, que tiveram coração e espírito criados segundo Deus, andando com Cristo por meio de Sua palavra e fortalecido por Seu Espírito. Deus santifica quem ele comprou, mas esses buscam isso por meio de Cristo, a Bíblia e pelo Espírito. (Ef 3.14-17; 2Tm 3.16-17; Rm 8.14-15; 26-30)
... as  suas  várias  concupiscências  são  mais  e  mais  enfraquecidas...”: Enquanto aqui vivermos, não teremos prazer no pecado a medida que nos aproximamos de Deus. E não apenas não teremos prazer como lutamos contra a corrupção do nosso ser e, a medida que Cristo habita e fala aos nossos corações,  a nossa luta vai sendo aperfeiçoada e nossa inclinação ao pecado vai sendo diminuído até o momento em que, nos céus, alcançaremos a perfeição. Mas não podemos esquecer que haverá sempre uma batalha nesse mundo e que, enquanto aqui vivermos, seremos sempre pecadores. Veja que o texto não nos diz que venceremos plenamente, mas sim que a concupiscências serão enfraquecidas. Sempre haverá luta. Aqui, jamais seremos totalmente livres dessas paixões. Nesse mundo, não seremos plenamente santos. (Gl 5.16-17; 1Jo 1.8)
“... para a  prática  da  verdadeira  santidade,  sem  a  qual  ninguém  verá  a Deus.”: A ultima questão é a finalidade da santificação nessa vida. A CFW responde esta questão nos dizendo que, desse modo, praticaremos a verdadeira santidade, sendo verdadeiramente separados por Deus, em Cristo, para a glória Dele, mas também para que possamos vê-lo. O propósito da santificação dada por Cristo é para que vejamos ao Senhor Deus. Se não formos purificados, jamais veremos ao Senhor, pois nossos olhos ainda estarão maculados com o pecado. Não há a menor possibilidade de estarmos eternamente diante do Senhor, em sua santidade e glória, se não formos como Ele é. Desse modo, o Senhor nos santifica para habilitar-nos a vê-lo. Sem a ação de Cristo, não conseguiremos ser santos e não veremos ao nosso Deus. Jamais! (Mt 5.8)
Que o Senhor nos fortaleça, purificando-nos e santificando-nos para que possamos contemplar ao Senhor da nossa salvação. Que o Senhor nos ajude, por meio de Sua Palavra, a compreender essas santas verdades, desmistificando o tema e ajudando-nos a viver tal verdade, cada vez mais próximos daquele que é a razão de sermos separados para a glória de Deus. Nos unamos ao poeta ao declarar que o sangue de Jesus nos lavou, dando-nos vitória e conduzindo-nos à Sua glória:

“Exaltação e Louvor” (nº 39 do HNC)
Oh! Vinde crentes dar louvor ao grande Rei Jesus
Que, para a nossa Redenção, morreu na amarga cruz;
Seu sangue derramou, de tudo me lavou,
Mais alvo do que a neve me tornou.

O sangue de Jesus me lavou, me lavou;
O sangue de Jesus, me lavou, me lavou!
Alegre, cantarei louvores ao meu Rei,
Ao meu Senhor Jesus que me salvou!

Oh! Vinde unir-vos a Jesus na luta contra o mal
E, com o grande Salvador em marcha triunfal,
A todos proclamar que seu amor sem par
O fez na cruz seu sangue derramar.

O chefe da milícia é Jesus, meu Salvador,
O Rei dos reis, o Redentor, o eterno e bom Senhor;
A tudo vencerá, vitória nos dará
E à gloria eterna os seus conduzirá
(H.M. Wright)




[1] Confissão de Fé de Westminster. XIII: Da Santificação.