terça-feira, 24 de outubro de 2017

CIRCO, PALHAÇO E PICADEIRO: O QUE HÁ COM A IGREJA HOJE?


O púlpito das Igrejas hoje está em estado de emergência e numa contínua calamidade. Nunca se viu tantas Igrejas, das mais diversas concepções e linhas doutrinárias, abrindo a cada dia para “pregar o evangelho” e, ao mesmo tempo, nunca vimos uma pobreza no que tange ao conhecimento das Escrituras. As Igrejas perderam seu desejo pela sadia pregação e exposição das Escrituras para falarem a respeito de suas opiniões particulares a respeito dos mais variados assuntos. O que, antes, era inegociável, hoje é relativo. A orientação e direção divina, prescrita em sua palavra, hoje é apenas uma sugestão da parte de Deus[1], cujo crivo de aprovação é a mente e o coração humano. Isso acontece pelo empobrecimento daqueles que assumem a tribuna da Palavra de Deus e não a pregam genuinamente e não se esmeram por ensinar o que ela, de fato, diz. E isto tem gerado uma ignorância doutrinária, também, naqueles que freqüentam as Igrejas e não sabem exatamente o que ela diz e, infelizmente, temos nos tornado alheios a esta realidade. Nas palavras de MOHLER[2]:
“É triste, mas a ignorância doutrinária nos púlpitos de hoje está sendo reproduzida na ignorância e na indiferença doutrinárias nos bancos das igrejas, e as pessoas não estão vendo o quadro e muito menos tocando nele”.
Falando sobre a diferença entre a Igreja nos dias apostólicos e a igreja contemporânea, acrescenta, em outro momento, ainda[3]:
“Em contraste, olhemos para a igreja contemporânea. Vamos perceber o empobrecimento da pregação que tomou conta de tantos púlpitos. Raramente ouvimos que a igreja deve ser reconhecida, em primeiro lugar, por sua pregação. Quando ouvimos as pessoas falarem a respeito de suas congregações, ou quando fazem um comentário comparativo com outras congregações, geralmente falam de quase tudo, menos acerca da pregação. Elas falam de seu “ministério”. Elas se referem, talvez, aos ministérios específicos para adultos, crianças ou jovens. Falam da música. Falam dos demais ministérios de uma natureza ou de outra. Às vezes, elas falam de coisas muito mais superficiais do que essas. Ou talvez falem do vigor e do comprometimento da Grande Comissão da igreja – e devemos ser agradecidos se assim o fazem. Mas raramente você ouve uma igreja ser descrita, primeira e principalmente, pelo caráter, poder e conteúdo de sua pregação.”
A Bíblia nos ensina que este seria um dos comportamentos dos homens ao se aproximarem do “grande dia do Senhor”. Paulo afirma a Timóteo (2Tm 4.1-5) que chegariam dias em que os homens não suportariam a sã doutrina – afinal de contas ela é extraída das Escrituras, que é comparada a uma espada de dois gumes (Hb 4.12), capaz de penetrar no mais profundo do ser do homem e tratar das feridas que o próprio Deus faz na consciência do homem, quando quer restaurá-lo (Dt 32.39; Jó 5.18; Os 6.1-4). Por essa razão, os homens não a suportam, pois ela fere a consciência a fim de submetê-la à Cristo – e que procurariam mestres que trouxessem uma mensagem mais fácil de suportar e que fosse coerente com o desejo dos seus corações. Por esta razão, ao passo que tantas igrejas abrem suas portas para atrair fiéis, vemos crentes cada vez mais vazios e sem o conhecimento bíblico.
A Bíblia é muito clara quando trata a respeito do fim desses falsos pregadores, que são chamados de falsos profetas. Diversos textos expõem claramente como será o seu fim (Cf. Dt 18.15-22; Mt 7.15-58; 2Pe 2; Jd 3-23; etc.) e os que os buscam e os seguem terão o mesmo fim (Ap12-29;19.11-21, etc.). Portanto, há uma advertência clara para que a Igreja não siga por este rumo e que aqueles que almejam o episcopado, mantenham-se fiéis às Sagradas Letras que podem tornar sábio, santificar e salvar (Sl 19.7-13). Mas como os pregares atuais agem como falsos profetas?
Em primeiro lugar, tem pregado ensinos que vão à contra mão do que verdadeiramente expõe a Bíblia em seu todo. Sabemos que toda doutrina bíblica precisa estar baseada em mais de um texto e esses textos não podem ser isolados de seus contextos e nem podem contradizer outros ensinos bíblicos. De fato, olhando textos isolados de seus contextos e negligenciando tudo o que a bíblia diz, podemos encontrar textos que afirmam coisas como fornicação, homossexualismo, infanticídio, reencarnação, necromancia, outros caminhos até Deus e etc. Contudo, sempre isolado de uma séria e meticulosa meditação nas verdades bíblicas.
Em segundo lugar, os pregadores estão substituindo a seriedade da mensagem bíblica e a confrontação que a mesma faz ao coração e à consciência humana, por uma mensagem mais leve e branda que, ao invés de desafiar o homem e o levar a uma mudança, aprova seus comportamentos, mesmo os mais bestiais que possam praticar. MOHLER[4] diz, ainda, que:
“Seja pelo pregador ou pelo púlpito, simplesmente não há muita admoestação na igreja hoje. Em nossos dias, isso seria considerado intolerante, invasivo e até mesmo uma imposição. Na verdade, seria mesmo uma arrogância. Mas a função do pregador é expor o erro e revelar o pecado. A Palavra de Deus fará isso, eu garanto, porque é inevitável que isso aconteça quando você prega essa palavra.”
Assim sendo, o púlpito, local donde Deus fala aos corações humanos, virou um lugar para apresentação de “stund- up comedy”, para auto-ajuda e tantos outros recursos deveras heréticos. O pregador, que antes era visto como alguém de suma seriedade, hoje virou um artista quase circense com a tarefa, não mais de ensinar, mas de entreter as pessoas que se assentam nos bancos das Igrejas. Quem antes era um profeta, hoje é um palhaço.
Em terceiro lugar, a Igreja não quer mais ser dirigida por Deus. Em vários momentos da história de Israel isso era uma realidade. Samuel foi testemunha de um dos momentos em que isso ocorreu. Quando já estava velho, e seus filhos não eram retos como ele, o povo clamou por um rei (1Sm 8.1-5). Ouvindo este clamor, Samuel consultou ao Senhor e o Senhor lhe deixou claro que o povo não estava rejeitando ao velho Samuel, mas sim a Ele (1Sm 8.6-9). Como naquele momento, também vivemos nós hoje. Os cristãos da atualidade querem as bênçãos de Deus, mas não querem ouvi-Lo e nem serem guiados por ele. Por essa razão, a Igreja busca profetas que falem o que querem ouvir e não o que precisam ouvir.
Nesse contexto nós somos chamados para romper com esta sub-cultura. 1) Se somos pregadores, precisamos nos esmerar por preparar mensagens que fluam do texto sacro e que façam sentido com todo o contexto bíblico. Não podemos pregar mensagens que fluam de nosso achismo ou sejam frutos de anacronismos ou meras concepções místicas para poder basear nossos “usos e costumes”. Ao contrário, nosso comportamento e fé devem ser bem embasados nas verdades plenas do Evangelho; 2) Se somos o povo que se alimenta das pregações precisamos abandonar a cultura do conformismo, da terceirização do conhecimento bíblico e da preguiça espiritual e fazer como os crentes em Beréia (At 17.10-12): Verificar se tudo o que o pregador em nossa comunidade da fé prega está embasado nas Escrituras ou se tem feito uma colcha de retalhos dela. Não podemos aceitar tudo o que é dito como vindo da parte de Deus, por mais que possa vir de homens “eruditos” e “iluminados”. A Bíblia tem uma mensagem e é esta mensagem que precisa ser pregada para fortalecimentos dos cristãos e para conversão dos ímpios. Qualquer outra coisa dita, mesmo citada nas Escrituras, mas que não tenham base em vastos textos a luz de seus contextos, não pode ter espaço na genuína mensagem de Deus à Sua Igreja; 3) Precisamos refutar qualquer coisa que tende a tomar o espaço das Escrituras em nossa Igreja. A Centralidade da Igreja e o que gera vida é a Palavra de Deus registrada nas Escrituras. Qualquer outra coisa que tome o espaço não gera vida. Pode entreter, convencer, emocionar mas jamais converter de fato. A Ordo Salutis[5] é por via da pregação (Rm 10.10-15). Músicas, desde que plenamente baseada nas Escrituras, é a pregação da Palavra de forma poética. Essas músicas, bíblicas, podem alimentar. As demais são meras concepções e achismos. O púlpito não é lugar para anedotas, auto-ajuda, filosofias, lavagem de roupas sujas, entretenimento e nem para indiretas. A Igreja não é circo e nem o pregador pode ser o palhaço, na finalidade de promover risos dos fiéis que, nesse caso, seriam a platéia. Precisamos nos juntar ao poeta e aspirar para que, nos nossos momentos de meditação pública ou particular das Escrituras, seja uma Leitura Bendita[6]:
1 Enquanto, ó Salvador, teu livro ler,
De auxilio necessito para ver
Da mera letra, além, a ti, Senhor,
E meditar no teu excelso amor.
2 À beira mar, Jesus, partiste o pão,
Alimentando a imensa multidão.
Da vida o pão és tu; podes assim
Satisfazer, Senhor, também a mim. Amém.
(M. A. Lathbury – H. M. Wright)



[1] JÚNIOR, Isaías Lobão Pereira. A Igreja brasileira na pós-modernidade. Disponível em: http://www.monergismo.com/textos/pos_modernismo/igreja_brasileira_posmodernidade_lobao.htm. Acessado em: 24/10/15.
[2] JR., R. ALBERT MOHLER. ET AL. Apascenta o meu rebanho. Um apaixonado apelo em favor da pregação. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2009. Pp. 28
[3] Ibid. Pp. 20
[4] Ibid. Pp. 29-30.
[5] Ordem da salvação.
[6] Nº 352 do Hinário Novo Cântico da Igreja Presbiteriana do Brasil