quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Nessa época do ano é comum fazermos retrospectiva de nossas vidas a fim de avaliarmos tudo o que ocorreu conosco no ano que está finalizando e criamos expectativas para o ano que se inicia. Certamente, se você avaliar todo o decurso de 2015 será capaz de listar tanto momentos bons, quanto momentos não tão bons aos teus olhos. Não podemos escapar de fazer ponderações sobre o ano em questão para manifestarmos gratidão ao nosso Deus e reconhecer Sua destra ao nosso redor, sustentando-nos nos momentos de maior necessidade. O salmista, no Salmo 66, faz uma retrospectiva de sua história e, por meio dela, aprendemos a fazer o mesmo com a nossa vida, abstraindo boas lições que nos encorajam a louvar ao nosso Deus e a reconhecer seus feitos, manifestando nossa gratidão ao Senhor por tudo, atendendo ao ensino do ap. Paulo quando conclama a Igreja a dar graças a Deus por tudo (1Ts 1.16). A seguir, veremos alguns dos ensinos extraídos do Salmo 66:
1) Entre os versos 5-7 o Salmista convida os seus ouvinte e/ou leitores a verem os tremendo feitos do Senhor quando este auxiliou e ajudou-os em momentos de maior dificuldade, sendo o socorro sempre presente (Sl 46.1) contra os inimigos, quando relata as nações rebeldes, bem como o Deus que tornou o impossível, possível, haja vista que para ele não há impossíveis (Lc 1.37), quando o salmista cita a abertura e travessia do mar vermelho (Ex 14) e do Rio Jordão (Js 3). Olhando a nossa história, é preciso que vejamos o socorro e auxílio do Senhor em tempos de dificuldades. Certamente, muitos momentos difíceis passam pela sua cabeça, olhando para o transcorrer do ano que se finda. Mas, apesar dessas dificuldades e desses momentos difíceis, é preciso que olhemos e reconheçamos o modo maravilhoso com o qual o nosso Deus nos auxiliou e ajudou em todos eles, indiscutivelmente e sem qualquer sombra de dúvidas. Deus nos ajudou e nos conduziu nas dificuldades.
2) Entre os versos 8-12, o salmista suscita o louvor do Senhor pelo fato de reconhecer que Deus permitiu, conduziu e presidiu todos os momentos de provações, inclusive nas derrotas e nas humilhações passadas, em que o salmista reconhece ser da autorização de Deus. Suas palavras são o reconhecimento do que Jó também declarou ao dizer que poderia receber também, de Deus, aquilo que era mal (Jó 2.10). Interessantemente, sua conclusão, ao final, era de que tudo aquilo ocorreu para que fosse conduzido para um lugar espaçoso, um lugar bom, um lugar que recompensou tanto as lutas que mereceu admiração e reconhecimento deste feito da parte do Senhor. Nesse aspecto, nós também precisamos, ao olhar para o nosso ano, perceber os momentos de frustrações e decepções, além das lutas e reconhecer a soberana mão de Deus conduzindo a todas as coisas, inclusive nossas lutas que estão dentro dos eternos propósitos de Deus. Podemos não ter entendido quando atravessamos tais circunstâncias e é bem possível que até o momento nós ainda não tenhamos compreendido plenamente o propósito de Deus em nos permitir passar pelos momentos de angústias e aflições que certamente, todos nós atravessamos em 2015. Apesar disso, precisamos confiar plenamente na graça, no poder e na soberania de Deus na história de nossas vidas, de maneira que possamos exclamar o mesmo que Paulo: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito.” (Rm 8.28). Quando confiamos em Deus e estamos certos de sua soberania e poder, por mais que tenhamos dissabores, reconhecemos que tudo está ao alcance e no controle das mãos do Senhor de forma que nada, nem aquilo que nos parece ruim de incorrer e ocorrer, foge a esta soberania. Com o salmista, somos convidados a louvar a Deus pelas aflições.
3) Já entre os versos 16-20, o salmista conclama a todos que temem a Deus a ouvirem o Seu testemunho de que Deus ouve a oração do seu povo. O salmista reconhece que quando clamou a Deus, Ele o ouviu e atendeu sua oração, manifestando sua graça em resposta à sua súplica. Olhando nossa própria história, precisamos reconhecer que Deus, inúmeras vezes, ouviu, atendeu e respondeu aos nossos clamores, manifestando, igualmente a sua graça. O nosso problema é com o tempo e com a forma como Deus responde a cada um de nós. Mui raramente o tempo é de acordo com o nosso querer e a resposta consoante ao nosso desejo. Precisamos aprender a esperar pela resposta de Deus, sabedores de que Ele jamais faz-se de surdo aos nossos clamores. É bem possível que o Senhor responda-nos com um sonoro “não”, mas isso, de modo algum, pode ser encarado como falta de resposta da parte de Deus. Seu silêncio também é resposta as nossas orações e não podemos nos esquecer disso. Quantas vezes você clamou a Deus no decorrer deste ano, sejam por coisas simples ou pelas mais complexas, e Deus atendeu, manifestando sua graça e poder? Deus tem atendido a voz da nossa oração, e por isso ele é bendito, pois não nos deixa sem respostas.
Diante do exposto aqui, fica claro que ao fazermos uma retrospectiva de nossa vida, também temos a necessidade de reconhecer a inúmera quantidade de motivos para agradecer a Deus pela condução de nossas vidas ao longo de 2015. Mas nossa gratidão não deve ser apenas de lábios, mas deve ser acompanhada de atos que demonstrem mui claramente tal gratidão. São elas a nossa dedicação em cumprir o que outrora prometemos a Deus (13-15), quando dissemos que viveríamos para Ele e nos dedicaríamos em Seu serviço e, também, no testemunho e na proclamação do que tem ele feito por nossas vidas (1-4). Não há outra forma de agradecer a Deus por todos os seus benefícios para conosco, exceto viver pra de forma que agrade-o (Sl 116.12-14). Como exclamação máxima de nossa gratidão, tornemos as palavras do poeta nossa oração de Ações de Graças[1].
Graças dou por esta vida,
Pelo bem que revelou.
Graças dou pelo futuro,
E por tudo que passou.
Pelas bênçãos derramadas,
Pela dor, pela aflição,
Pelas graças reveladas!
Graças dou pelo perdão.
Graças pelo azul celeste
E por nuvens que há também,
Pelas rosas do caminho,
E os espinhos que elas têm,
Pelas noites desta vida,
Pela estrela que brilhou,
Pelas preces respondidas,
E a esperança que falhou.
Pela cruz e o sofrimento
E afinal ressurreição!
Pelo amor que é sem medida,
Pela paz no coração,
Pela lágrima vertida,
E o consolo que é sem par.
Pelo dom da eterna vida,
Sempre graças hei de dar!




[1] Hino “Ações de Graças”. Nº 61 do Hinário Novo Cântico.

domingo, 11 de outubro de 2015

Presente à nossas crianças


 O dia das crianças é uma das datas que mais movimentam o comércio em nosso país. Nesse dia, a apelação comercial para que os pais satisfaçam as “necessidades” de seus filhos é imensa e imprimem na mente de nossa sociedade que presentear e atender aos anseios infantis é uma questão de prioridade. Isso está tão enraizado em nossa mentalidade que nós encontramos adultos constrangidos a dar algum presente e temendo quando, por qualquer razão, não o podem. Já as crianças estão tão convencidas da necessidade desse dia que cobram antecipadamente aos adultos o seu presente. Vivemos em uma sociedade consumista e, sem percebermos, estamos ensinando nossas crianças a crescerem com essa ideologia extremamente nociva. E os crentes não são exceção, seja na comemoração, seja na exigência do presente, seja na manutenção dessa cultura. Mas a nós, crentes, surge uma pergunta: qual o melhor presente para nossas crianças?
Indiscutivelmente, a raça humana está decaída. Cremos na depravação total, primeiro dos cinco pontos calvinistas, que nos mostra que não existe, como bem diz o salmista (Sl 14) e o apóstolo (Rm 3.10-12), quem faça o bem, nem quem seja justo ou bom (Mc 10.18). Segundo o apóstolo Paulo, de maneira indiscutível, “todos pecaram” e, portanto, “carecem da glória de Deus” (Rm 3.23). Paulo não excetua ninguém nesse tocante. Por isso, o evangelho, presente de Deus e poder de Deus para a salvação, precisa ser anunciado a todos os homens, independente de questões sociais, políticas, religiosas ou etárias. Infelizmente, nossa sociedade está corrompida pelo pecado e embebida na doutrina romanista que defende a ideia de que haja a idade da inocência e que, todos os seres humanos, nela inseridos, não são corrompidos ou não podem ser vistos como pecadores, contrariando as palavras do salmista ao declarar que já nasceu em iniquidade (Sl 51.5), portanto, nasceu pecador. Por causa dessa visão corrompida a respeito dessa verdade bíblica, somos treinados a não nos preocuparmos tanto com o futuro eterno de nossos filhos, conquanto ainda estejam na “idade da inocência”.
Entretanto, ainda há uma outra verdade. Muitos não racionalizam essa questão como a expressamos aqui. Muitos simplesmente são displicentes nesse sentido, preocupado com suas próprias vidas espirituais e são negligentes quanto à educação religiosa dos filhos, netos, sobrinhos sob sua guarda ou influência. Estão tão relaxados que esquecem da tarefa de anunciar o evangelho da graça à todas as criaturas, inclusive às crianças. Ou, de modo igualmente nocivo, criam a geração conhecida como “Geração EBD”, pois legam importância, ou suficiência à manutenção da vida eclesiástica de seus filhos, apenas a esta atividade da Igreja. Ao não demonstrarem a importância, com seus atos, de participarem das reuniões de oração, e levar os menores sob sua influência, para participarem também, estão demonstrando que a vida de oração pode ser deixada de lado. Ao não levarem ou participarem dos estudos bíblicos, estão ensinando aos menores sob sua influência, de que isso não é importante e que não tem problema se não estudarem as Escrituras (consideremos este como caso último daquilo que estamos ensinando de fato). Infelizmente, estamos ensinando a esta geração de que o importante é apenas “estar” na Igreja no domingo e que uma vida devocional não é necessária e que a participação efetiva aos trabalhos semanais também não o são.
Diante desse pensamento e da realidade bíblica já exposta, precisamos pensar sobre a necessidade de presentear nossos filhos com o que realmente é a necessidade deles. Não têm apenas necessidade de calçados novos. Não tem apenas necessidade de roupas novas. Não tem a necessidade de brinquedos e festas diferentes nesses dias. A real necessidade deles, é a mesma de qualquer outra pessoa: A Graça e o perdão de Deus. Conquanto somos conclamados pelo mundo consumista a dar presentes que satisfazem o ego e não são a real necessidade deles, apresentemos e concedamos-lhes o presente vital de suas vidas. Apresente Jesus a elas e não apenas nesse dia, mas todos os dias, em todos os momentos e em todas as oportunidades. Não há problema e presentear nessa data. O problema é quando conferimos importância a este, em detrimento do que realmente é necessário. Levemos nossas crianças à Jesus!

Venham as Crianças[1]
1      Venham, venham as crianças
Ao Bendito Salvador.
Que na cruz, ao resgatá-las,
Revelou-lhes seu favor.
Cristo agora, cristo sempre
Nos concede seu amor.

2      Venham, venham as crianças
Pois Jesus as convidou!
Foi também por seus pecados
Que na amarga cruz penou.
Cristo agora, Cristo sempre
Com ternura nos amou.

3      Venham, venham as crianças
Ao Senhor Jesus servir!
Receber os seus conselhos,
Sua santa Lei ouvir.
Cristo agora, Cristo sempre
Quer na luz nos conduzir
(S.P. Kalley)




[1] Hino nº 363 do Hinário Novo Cântico/Igreja Presbiteriana do Brasil.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Pensamento positivo não muda a nossa realidade!


 Uma das modas religiosas de nossos dias tem sido a chamada “Confissão positiva”. Segundo esta corrente de pensamento, é preciso sempre dizer que estamos bem ou que estamos sadios para que, de fato, passemos a estar bem e sadios. E muitos cristãos, imbuídos desse malfazejo pensamento, tem seguido por este caminho que é pecaminoso e não realiza nenhum tipo de cura.
Precisamos lembrar que a confissão positiva é uma mentira. Isso porque ela prega que sempre devemos dizer que estamos bem, quando a realidade é o oposto. Por mais que não pareça nada demais, o que estamos fazendo é mentir e a mentira é um pecado. O Senhor Jesus, durante seu ministério terreno, deixou claro aos seus opositores de que o pai da mentira não pode ser outro, senão satanás, que é mentiroso desde sempre (Jo 8.44), e todo aquele que segue seu caminho, realizando as suas mesmas obras, são seus filhos (1Jo 3.6-9). Mas isso não pode ser uma realidade em nossas vidas, depois de chamados à conversão pois, quando chamado por Jesus à conversão, precisamos abandonar as obras da antiga natureza, e, dentre elas, está a mentira (Ef 4.25), a fim de que a nossa nova natureza em Cristo seja evidente (Ef 4.17-5.1).
Em segundo lugar, precisamos lembrar, também, que essa confissão está baseada num misticismo e não no poder de Deus. As pessoas acham que precisam dizer coisas positivas para atrair coisas positivas, entendendo, erroneamente, que nossas palavras têm poder. Mas, por mais “poder” que nossas palavras pudessem ter, seria nada comparado ao poder do SENHOR em realizar o que quer, seja a cura ou não, a resolução ou não de nossos problemas. Não há diferença entre esse pensamento e a ideia de  mantras e afins. A Bíblia deixa muito claro que o que podemos fazer para receber as bênçãos de Deus, que Ele vinculou à ações nossas, é obedecer sua Palavra (Lv 26.3-13; Js 1.8), mas isso não significa que não possamos sofrer, por mais que nós tenhamos pensamentos de paz, afinal, o próprio Deus encarnado, Jesus, sofreu (Lc 22.42; Mc 14.36; Mt 26.39), e nos diz que passaremos por aflições (Jo 16.33). O Senhor não nos manda ter pensamento positivo, muito menos negativo ou murmurador. Manda-nos ter bom ânimo. Não existe pensamento que possa trazer qualquer situação ao nosso cotidiano se o Senhor Deus não o permitir. E, se permitir, quem poderá Lhe impedir (Is 43.13)? Nâo há nenhum poder em nós, em nossas palavras ou em nossos pensamentos que possa frustrar, acelerar ou sobrepujar os planos do Senhor (Jó 42.2)!
Em terceiro Lugar, precisamos estar cientes de que nossas palavras não são profecias. Esta corrente diz que nós precisamos profetizar a cura e as coisas boas sobre nossas vidas. De fato, a carta de Tiago, capítulo 3, nos fala sobre as bênçãos que surgem ou das maldições que resultam de nossas bocas. Mas a questão é que não existe profecia verdadeira que não venha de Deus e que revele a vontade de Deus. E o que valida uma profecia não é nossa vida, palavra ou fé, mas a realização da parte de Deus (Dt 18.20-22) que tem compromisso apenas com sua própria vontade, e não conosco. Não podemos sair por ai dizendo aquilo que Deus não nos ordenou dizer, seja sobre nós ou sobre outras pessoas, sem controle e sem refletir sobre a questão (1Co 14.32-33a). Nosso querer não muda a vontade soberana do Criador e agirmos como se tivéssemos tal poder nos torna falsos profetas, portanto, inimigos do SENHOR, e não Seus servos.
Precisamos, por fim, estar cientes de que, independente do que aconteça conosco, tudo cumpre os propósitos do SENHOR e são esses propósitos que precisamos estar sempre dispostos a perceber e, por eles, lutar. É bem verdade que as Escrituras nos instam a orar. E devemos fazê-lo sempre, não para exigir, decretar ou etc., mas para suplicar e rogar ao Pai que nos manifeste a Sua vontade, seja ela positiva ou não aos nossos olhos. Paulo, em 2Co 12.7-9, por três vezes pede ao Pai que lhe tirasse o espinho na carne. Mas seus pedidos não alteraram ou mudaram os propósitos de Deus, por isso lhe é respondido que a Graça divina lhe era suficiente. Olhando para Paulo e comparando-o a nós, somos mais crentes e temos maior comunhão com Deus do que ele? Quando ensina no que devemos pensar (Fp 4.8), não seria isso também o que estava na mente dele? Portanto, se pensamentos positivos e confissões positivas nos pudessem livrar das agruras e dificuldades, Paulo seria liberto do seu espinho na carne. Mas lembremos que, diante do SENHOR, todas as coisas cooperam para a o bem daqueles que são chamados e amados por Ele (Rm 8.28), mesmo quando essas coisas soam ruins aos nossos ouvidos e nos pareçam terríveis aos nossos olhos. Somos conclamados, antes de pensar positivamente e de proferir uma confissão positiva, à pensar biblicamente e a fazer uma verdadeira confissão cristã, como fizera Lutero, declarando que Deus era o seu Castelo Forte[1], mesmo em face aos perigos e dissabores:

Castelo forte é nosso Deus,
Espada e bom escudo!
Com seu poder defende os seus
Em todo transe agudo.
Com fúria pertinaz
Persegue satanás
Com ânimo cruel!
Mui forte é o Deus fiel,
Igual não há na terra.

A força do homem nada faz,
Sozinho está perdido!
Mas nosso Deus socorro traz
Em seu Filho escolhido.
Sabeis quem é? Jesus,
O que venceu na cruz,
Senhor dos altos céus,
E sendo o próprio Deus,
Triunfa na batalha.

Se nos quisessem devorar
Demônios não contados,
Não nos iriam derrotar
Nem ver-nos assustados.
O príncipe do mal,
Com seu plano infernal,
Já condenado está!
Vencido cairá
Por uma só palavra.

De Deus o verbo ficará,
Sabemos com certeza,
E nada nos assustará
Com Cristo por defesa!
Se temos de perder
Família, bens, prazer,
Se tudo se acabar
E a morte enfim chegar,
Com ele reinaremos!
(M. Lutero – J. E. Von Hafe)




[1] Hino nº 155 do Hinário Novo Cântico/Igreja Presbiteriana do Brasil

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Santa Ceia

O relato dos evangelhos, quanto a ministração da Santa Ceia, é fantástico (Mt 26.20-30; Mc 14.17-26; Lc 22.14-23; Jo 13.21-30). Este foi um dos momentos mais sublimes do ministério de Jesus e uma das lições mais preciosas que Ele ensinou àqueles que lá estavam e, por graça e inspiração do Espírito Santo, os relatos desse evento, ensina-nos até aos dias de hoje. Durante a preparação da Ceia, a indicação do traidor – Judas – e o momento da instituição da Ceia como sacramento à Igreja, o Senhor nos mostra a seriedade e a santidade desse momento.
Judas não havia sido excluído de nada até aquele instante. Todos os milagres que o Senhor fizera ao grupo dos doze, nenhum deles foi na ausência de Judas (exceto os milagres que ele fez apenas na presença de Pedro, André, Tiago e João). Nenhuma das lições ensinadas, fora feito longe da presença de Judas. Até mesmo ao lavar os pés dos discípulos, Jesus o fez na presença desse algoz e lavou seu pé com o mesmo amor com o qual lavou os pés dos demais (Jo 13.1), mesmo sabendo que ele não estava limpo de coração (13.10-11).
Contudo, aquele momento era sublime. A santidade daquele evento era real e, por isso, alguém que não fosse santo e que fosse, na verdade, hipócrita, não poderia participar desse evento. Por esse motivo, Jesus tira Judas daquele local antes de instituir e sacramentar aquele evento. O Senhor não poderia manifestar algo tão sublime na presença de satanás ou na presença de alguém cujo o coração fora tomado por ele. O Senhor não poderia fazer com que a santidade daquele momento, que também significava sua vitória e triunfo sobre o mal, sobre o príncipe das trevas e sobre o pecado, se manchasse e se perdesse diante de presenças tão vis.
Aquele momento era único! Porém, Judas, não estava como os demais discípulos, cujo coração já fora trabalhado pelo Mestre. Não se tratava de serem pecadores, pois todos o eram e iriam se escandalizar nele e até mesmo negá-lo. A questão é que Judas, diferente dos demais que estavam ali por crer e amar à Jesus, embora sem entender, ainda, a dimensão do que estava por ocorrer nos momentos posteriores, estava resoluto, decidido e obstinado a trair à Jesus. Ele já o havia vendido. Ele já o odiava há muito tempo. Ele já havia selado o pacto da traição. Agora, ele se retira desse momento, por ordem e determinação de Cristo, para efetivar a traição[1], culminando, por meio do beijo, à sua prisão, tortura e crucificação.
Por entender a seriedade desse momento e a incapacidade de ser realizado na presença de homens vis e diabólicos, é que Paulo ordena ao homem o “examinar a si mesmo”, antes de tomar assento à mesa do Senhor (1Co 11.23-30). Pessoas cujo coração esteja manchado, dominado pelo pecado e decididamente servindo ao diabo não podem participar desse momento. Isso não tem a ver apenas com possessões demoníacas. Isso diz respeito à hipocrisia do homem diante da santidade desse momento. Quando o homem não entende a seriedade, santidade, sublimidade e majestade desse momento, ele se torna hipócrita e, ao participar da Santa Ceia, está trazendo juízo para si, tornando-se réu do corpo e sangue de Jesus. Por isso, a necessidade, segundo Paulo, do homem fazer um autoexame antes de participar desse baquete. Mas, ao fazê-lo, não deve apenas identificar seus erros e participar da Mesa. Deve-se, primeiro, confessá-los diante do Senhor, abandoná-los e, então, participar desse momento sublime.
Muitas vezes, nós, Igreja do Senhor na atualidade, não entendemos a preciosidade e a seriedade desse momento e, assim como nos dias de Malaquias (Ml 1.6-14), ou Jesus (em relação à Judas), profanamos a Mesa do Senhor, nos apresentando diante Dele hipocritamente. Ao fazê-lo, estão em pecado maior ainda e não o podem fazer enquanto estiverem nesse estado. Por isso, declara a Confissão de Fé:
Ainda que os ignorantes e os ímpios recebam os elementos visíveis deste sacramento, não recebem a coisa por eles significada, mas, pela sua indigna participação, tornam-se réus do corpo e do sangue do Senhor para a sua própria condenação; portanto eles como são indignos de gozar comunhão com o Senhor, são também indignos da sua mesa, e não podem, sem grande pecado contra Cristo, participar destes santos mistérios nem a eles ser admitidos, enquanto permanecerem nesse estado[2].
Irmãos, quando somos chamados à “Mesa Do Senhor”, não podemos fazê-lo como Judas. Sejamos sinceros diante Dele, atendendo à exortação de Paulo, fazendo um autoexame, nos arrependendo e abandonando nossas práticas pecaminosas. Esse momento é festivo, comemorativo[3], crucial para nossa comunhão com Ele por meio do que lembramos nesse evento. Mas o deve ser em santidade, para que recebamos os benefícios dessa instituição[4] e não a condenação por participarmos sem consciência do seu significado e manchados pelo pecado. Supliquemos, ao Senhor, vivificação[5], para que possamos participar desse momento sublime:

Tu, que sobre a amarga cruz
Revelaste teu amor;
Tu, que vives, ó Jesus,
Vivifica-nos, Senhor!

Vem! Oh! Vem, Jesus Senhor,
Nossas almas despertar!
Com teu santo e puro amor,
Vem, Senhor, nos inflamar!
Oh! Vem! Oh! Vem Nossas almas inflamar!

Eis o mundo tentador
A querer nos atrair;
Sem teu fogo abrasador,
Não podemos resistir.

Quantos que corriam bem,
De ti longe agora vão!
Outros seguem, mas, também,
Sem fervor vivendo estão.

Vem agora consumir
Tudo quanto, ó Salvador,
Quer altivo resistir
Ao teu brando e santo amor.
(Letra: Henry Maxwell Wright, 1914 - inspirado em: Charles William Fry, 1837 – 1882 Música: da coleção "Salvation Army Music")






[1] MACARTHUR, John. Doze homens comuns. A experiência das primeiras pessoas chamadas por Cristo ao discipulado. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2011 (2ª ed.). Pp.181-184.
[2] Confissão de Fé de Westminster. DA CEIA DO SENHOR. Cap. XXIX.VIII
[3] Ibid. XXIX.II
[4] Ibid. XXIX.I
[5] Hino nº 132 do Hinário Novo Cântico (Igreja Presbiteriana do Brasil)

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

156 anos de IPB: Como construiremos seu futuro?

Ontem, 12 de agosto de 2015, comemoramos os 156 anos da Igreja Presbiteriana do Brasil. Essa comemoração se dá por ser a data em que o Rev. Ashbel Green Simonton chegou ao Brasil em 1859, no estado da Guanabara (atual estado do Rio de Janeiro), onde iniciou os trabalhos de evangelização em solo brasileiro. Em 12 de Janeiro de 1862, junto de seu cunhado, rev. Alexander Blackford, organizou a primeira igreja Presbiteriana do Brasil, na rua do ouvir, 31. Anos mais tarde, e por conta do crescimento desta Igreja, mudou-se para onde é localizada a catedral Presbiteriana do Rio. Cerca de 156 anos depois, a Igreja cresceu de modo que, em 2011 quando o último senso oficial da IPB foi demonstrado, tínhamos 5.392 Igrejas organizadas, 5.015 congregações e 3.054 pontos de pregação, perfazendo um total de 13.461 localidades em que o evangelho reformado é pregado e um total de 1.011.300 membros (comungantes e não comungantes)[1]. Mas qual será o futuro dessa Igreja? E o que nós, membros dessa Igreja Nacional, temos feito a respeito para que o futuro do Brasil seja diferente do que está sendo no momento?
 Estamos numa geração terrível em todos os aspectos. E o âmbito religioso não seria diferente. A Igreja se perdeu em muitas coisas e abandonou tantas outras que tem sido, historicamente, seu legado. Não falamos de tradições eclesiais, mas sim daquilo que o evangelho, de fato, nos exorta e demonstra. Perdemos, em muitas circunstâncias, a noção da santidade de Deus e não nos comportamos com total reverência ao Senhor, pois ainda temos a ideia frívola de que do jeito que estamos, basta e que Deus deve aceitar nosso serviço e louvor, como fora nos dias de Malaquias (Ml 1.6-14). Perdemos a noção de comunhão com Deus e temos dedicado cada vez menos tempo para estarmos a sós com ele, pois nossos afazeres tomam nosso tempo de forma quase que totalitária e passamos a orar mecanicamente, rapidamente e, porque não, hipocritamente, quando oramos apenas quando estamos em momentos de culto, na congregação solene (Mt 6.5-8). Perdemos o sentido de “perseverança dos santos” e achamos que perseverar é apenas aguentar as dificuldades ou sobreviver a elas. Mas, na verdade, somos biblicamente orientados a nos alegrar nas aflições e provações (Tg 1.2-4) e isso em orações (Fp 4.6), sabendo do constante cuidado do Senhor para conosco (1Pe 5.6-7). Perdemos a noção de comunhão com o próximo, e nos tornamos cada vez mais impessoais e egoístas, esquecendo-nos das bênçãos que provém da comunhão (Sl 133), e vivendo isolados de tudo e de todos e o ambiente de “família” que vivemos se resume na entrada ou saída dos cultos em que participamos. Perdemos a noção do que é ser testemunha de Cristo e ser diferente do mundo, colocando-nos como seu inimigo e, muitas vezes, estiamos a bandeira branca da paz, fazendo a política da boa-vizinhança e nos assemelhando a ele, criando uma versão “gospel” de tudo, nos esquecendo que, ao andarmos com Deus, imediatamente nos colocamos como inimigos do mundo e não há como mudar essa verdade profética (1Jo 2.15-17). Perdemos a percepção do que significa “negar a si mesmo, tomar a cruz e seguir” a Jesus (Lc 9.23; Mc 8.34), querendo que Jesus siga-nos e satisfaça a nossa vontade em detrimento da dele. Voltamos a agir como os saduceus, que erravam por não conhecer a Deus e Sua Palavra (Mt 22.29). Mas o que fazemos para mudar essa realidade para que os próximos anos sejam tão produtivos quanto os primeiros?
Nós não podemos permanecer como uma igreja parada no tempo, vivendo do passado, mas sem perspectiva de futuro e sem carregar o legado da Palavra de Deus de forma viva e eficaz. Embora muito se tenha feito no passado, precisamos de uma profunda transformação do pensamento, à Luz das Escrituras, para que mudemos a triste realidade no presente e tenhamos um futuro tão grandioso quanto o passado. É claro que levamos em consideração a soberania de Deus em conduzir os rumos da sua Igreja e sabemos que profeticamente, a Bíblia nos informa da frieza dos últimos dias, principalmente dentro da comunidade dos fiéis, afim de que o remanescente fiel se manifeste. Mas isso não tira a nossa responsabilidade em mudar nosso comportamento e nos voltarmos ao Senhor para ouvir a sua voz. Ao contrário, aumenta, e muito, a nossa tarefa de sermos o sal e a luz desse mundo, imerso nas trevas (Mt 5.13-16; 1Jo 5.19). Para que esse legado seja levado adiante e a Igreja do Senhor possa continuar produzindo muitos frutos como tem produzido, historicamente, ao longo dos últimos 156 anos, é preciso que deixemos de ser apenas cristãos teóricos das Escrituras e, com base na nossa boa e saudável teologia reformada, vivamos as verdades do evangelho de modo prático (Tg 1.23-25).
Completamos 156 anos de Igreja Nacional. Mas o que você e eu faremos com essa história para o futuro? Que legado deixaremos? Tudo isso começou porque um homem ouviu e atendeu a voz do Salvador. Talvez nenhum de nós plantemos uma igreja nacional, nem sequer plantemos uma Igreja individualmente. Mas temos o privilégio, por graça, de sermos usados por Deus para sedimentar as bases doutrinárias da Igreja para a próxima geração. E não podemos nos deixar levar pelos ventos de doutrina e nos enganar com as heresias que surgem a todo instante. Precisamos estar firmes na Pedra Angular (1Pe 2.1-8), Cristo Jesus, para que nossa firmeza atravesse gerações, como foi o caso da firmeza dos reformadores do século XVI, Simonton, José Manoel da Conceição, Boanerges Ribeiro e tantos outros homens, instrumentos de Deus, para a propagação do evangelho Santo. Ergamos o nosso Pendão Real e levemos adiante essa história!

Um pendão real vos entregou o Rei
A vós soldados seus!
Corajosos, pois, em tudo o defendei,
Marchando para os céus.

Com Valor! Sem temor!
Por Cristo prontos a sofrer,
Bem alto erguei o seu pendão
Firmes, sempre, até morrer!

Eis formado já terríveis batalhões
Do grande usurpador!
Revelai-vos hoje bravos campeões!
Avante, sem temor!

Quem receio sente no seu coração
E fraco se mostrar,
Não receberá o eterno galardão
Que Cristo tem pra dar!

Pois sejamos todos a Jesus fiéis
E a seu real pendão!
Os que da vitória colhem os lauréis
Com ele reinarão.
                                                      (D. W. Whittle – H. M. Wrigth)

sábado, 11 de julho de 2015

Para que servem os diáconos?

Muitas pessoas não compreendem bem a importância e a utilização do papel do diácono. Infelizmente, nem os próprios diáconos sabem o porquê de seu chamado e a importância do seu papel. Em nossos dias, a igreja tem criado cada vez mais ofícios e títulos, não defendidos pelas sagradas escrituras e nem difundidos historicamente, mas abrem mão da importância e da existência das funções que foram escolhidas nos dias apostólicos, sob direção direta do Espírito Santos, para o bom andamento e funcionamento da Igreja. Especificamente falando dos diáconos, que comemoraram seu dia no último dia 09/07, vejamos, em rápidas palavras, a função e a importância desses homens, chamados por Cristo e eleitos pela Igreja.
Por causa dessas mesmas invencionices da Igreja moderna, a função diaconal tem sido cada vez mais desprezada pelos homens e sendo incentivado não apenas o exercício, mas a ordenação feminina nessa área, como no presbiterato e pastorado. Por isso, tem sido cada vez mais difícil encontrar homens que cumpram fielmente tal função, fazendo com que, muitas vezes, a Igreja coloque qualquer um que queira exercer essa função, sem observar claramente os preceitos bíblicos para essa escolha. Atos 6.1-7 é o texto que fala sobre como surgiu o ofício diaconal e o critério de escolha dos mesmos. Vejamos o modelo bíblico:
A necessidade (6.1-2,4): A Igreja estava crescendo naqueles dias. Com isso, as necessidades foram ficando cada vez maiores. Como a comunhão era algo natural, também era natural a percepção das necessidades individuais daqueles que iam sendo salvos e aderindo a nova fé. Os apóstolos, ministros do evangelho e pastores de almas, não poderiam se dedicar integralmente ao cuidado das necessidades particulares das pessoas que se chegavam a eles. Era preciso que eles se dedicassem à oração e ao ensino da Palavra. Mas, por entender que as necessidades e dificuldades das pessoas eram importantes, sentiram a necessidade de destacar homens para exercerem tais funções. Os diáconos são auxiliares dos pregadores, cuidando das necessidades do rebanho de Cristo;
Os Critérios (6.3,5): Os diáconos não eram qualquer pessoa. Não poderiam ser eleitos os homens que simplesmente eram “bonzinhos” aos olhos da comunidade da fé ou os prediletos dos apóstolos. A orientação dos apóstolos, quanto à escolha, era que se procurassem características espirituais em tais homens. Deveriam ser homens de testemunho dentro e fora da irmandade da fé; realmente espirituais e cheios do Espírito de Cristo, como os apóstolos, portanto piedosos e sábios. Tais características eram necessárias pois, embora fossem cuidar das necessidades físicas e materiais, deveriam fazê-lo no temor do Senhor e na busca por ajudar a pastorear o rebanho de Cristo. E o povo, atento a tais características, elegeram homens que cumprissem esse requisito;
A autoridade (6.6): Aqueles que foram eleitos naquele dia, eram pessoas que auxiliariam os ministros no cuidado com o rebanho de Cristo. Portanto, era preciso que, como liderança, partilhassem da autoridade dos líderes da Igreja. Eles eram servos do corpo de Cristo, não empregados da Igreja. Para que isso ficasse claro aos irmãos, os apóstolos oraram, impondo-lhes as mãos e conferindo-lhes autoridade sob a Igreja para desempenharem o papel para o qual foram eternamente designados. A partir daquele momento, seriam líderes do Corpo e auxiliares no Corpo de Cristo.
O resultado (6.7): Depois que tais homens começaram a desenvolver suas funções, permitindo que os apóstolos se dedicassem exclusivamente à pregação, a Igreja continuou crescendo sadia em sua teologia e ativa em seu cuidado fraternal. O ministério dos apóstolos tornou-se mais eficaz graças ao auxílio direto de tais irmãos.

Hoje, a igreja inventou muitos ofícios não defendidos pelas Escrituras e despreza a importância dos ofícios defendidos por ela. Isso quando não somos levados a respeitar títulos e não as pessoas que exercem funções eclesiásticas. Mas, em nossos dias, principalmente quando comemoramos o “dia do diácono”, precisamos nos lembrar que eles existem, ainda hoje, como auxiliares no pastoreio do rebanho, cuidando das necessidades dos membros da Igreja; precisam ser piedosos e exemplos de piedade e devoção e são autoridade no povo de Deus, não funcionários da Igreja. Esta santa função vai além de ficar na porta e entregar boletim e servir água. Esta função vai além do domingo. É um santo chamado e, assim como somente os chamados por Cristo podem cumprir cabalmente o ministério pastoral, seja ordenado ou não ao ministério, somente os chamados por Ele podem ser diáconos na plenitude do termo e da função bíblica. Oremos pela Igreja e oremos pelos nossos diáconos, se desejamos o crescimento Bíblico da Igreja, como nos dias apostólicos.