sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Pensamento positivo não muda a nossa realidade!


 Uma das modas religiosas de nossos dias tem sido a chamada “Confissão positiva”. Segundo esta corrente de pensamento, é preciso sempre dizer que estamos bem ou que estamos sadios para que, de fato, passemos a estar bem e sadios. E muitos cristãos, imbuídos desse malfazejo pensamento, tem seguido por este caminho que é pecaminoso e não realiza nenhum tipo de cura.
Precisamos lembrar que a confissão positiva é uma mentira. Isso porque ela prega que sempre devemos dizer que estamos bem, quando a realidade é o oposto. Por mais que não pareça nada demais, o que estamos fazendo é mentir e a mentira é um pecado. O Senhor Jesus, durante seu ministério terreno, deixou claro aos seus opositores de que o pai da mentira não pode ser outro, senão satanás, que é mentiroso desde sempre (Jo 8.44), e todo aquele que segue seu caminho, realizando as suas mesmas obras, são seus filhos (1Jo 3.6-9). Mas isso não pode ser uma realidade em nossas vidas, depois de chamados à conversão pois, quando chamado por Jesus à conversão, precisamos abandonar as obras da antiga natureza, e, dentre elas, está a mentira (Ef 4.25), a fim de que a nossa nova natureza em Cristo seja evidente (Ef 4.17-5.1).
Em segundo lugar, precisamos lembrar, também, que essa confissão está baseada num misticismo e não no poder de Deus. As pessoas acham que precisam dizer coisas positivas para atrair coisas positivas, entendendo, erroneamente, que nossas palavras têm poder. Mas, por mais “poder” que nossas palavras pudessem ter, seria nada comparado ao poder do SENHOR em realizar o que quer, seja a cura ou não, a resolução ou não de nossos problemas. Não há diferença entre esse pensamento e a ideia de  mantras e afins. A Bíblia deixa muito claro que o que podemos fazer para receber as bênçãos de Deus, que Ele vinculou à ações nossas, é obedecer sua Palavra (Lv 26.3-13; Js 1.8), mas isso não significa que não possamos sofrer, por mais que nós tenhamos pensamentos de paz, afinal, o próprio Deus encarnado, Jesus, sofreu (Lc 22.42; Mc 14.36; Mt 26.39), e nos diz que passaremos por aflições (Jo 16.33). O Senhor não nos manda ter pensamento positivo, muito menos negativo ou murmurador. Manda-nos ter bom ânimo. Não existe pensamento que possa trazer qualquer situação ao nosso cotidiano se o Senhor Deus não o permitir. E, se permitir, quem poderá Lhe impedir (Is 43.13)? Nâo há nenhum poder em nós, em nossas palavras ou em nossos pensamentos que possa frustrar, acelerar ou sobrepujar os planos do Senhor (Jó 42.2)!
Em terceiro Lugar, precisamos estar cientes de que nossas palavras não são profecias. Esta corrente diz que nós precisamos profetizar a cura e as coisas boas sobre nossas vidas. De fato, a carta de Tiago, capítulo 3, nos fala sobre as bênçãos que surgem ou das maldições que resultam de nossas bocas. Mas a questão é que não existe profecia verdadeira que não venha de Deus e que revele a vontade de Deus. E o que valida uma profecia não é nossa vida, palavra ou fé, mas a realização da parte de Deus (Dt 18.20-22) que tem compromisso apenas com sua própria vontade, e não conosco. Não podemos sair por ai dizendo aquilo que Deus não nos ordenou dizer, seja sobre nós ou sobre outras pessoas, sem controle e sem refletir sobre a questão (1Co 14.32-33a). Nosso querer não muda a vontade soberana do Criador e agirmos como se tivéssemos tal poder nos torna falsos profetas, portanto, inimigos do SENHOR, e não Seus servos.
Precisamos, por fim, estar cientes de que, independente do que aconteça conosco, tudo cumpre os propósitos do SENHOR e são esses propósitos que precisamos estar sempre dispostos a perceber e, por eles, lutar. É bem verdade que as Escrituras nos instam a orar. E devemos fazê-lo sempre, não para exigir, decretar ou etc., mas para suplicar e rogar ao Pai que nos manifeste a Sua vontade, seja ela positiva ou não aos nossos olhos. Paulo, em 2Co 12.7-9, por três vezes pede ao Pai que lhe tirasse o espinho na carne. Mas seus pedidos não alteraram ou mudaram os propósitos de Deus, por isso lhe é respondido que a Graça divina lhe era suficiente. Olhando para Paulo e comparando-o a nós, somos mais crentes e temos maior comunhão com Deus do que ele? Quando ensina no que devemos pensar (Fp 4.8), não seria isso também o que estava na mente dele? Portanto, se pensamentos positivos e confissões positivas nos pudessem livrar das agruras e dificuldades, Paulo seria liberto do seu espinho na carne. Mas lembremos que, diante do SENHOR, todas as coisas cooperam para a o bem daqueles que são chamados e amados por Ele (Rm 8.28), mesmo quando essas coisas soam ruins aos nossos ouvidos e nos pareçam terríveis aos nossos olhos. Somos conclamados, antes de pensar positivamente e de proferir uma confissão positiva, à pensar biblicamente e a fazer uma verdadeira confissão cristã, como fizera Lutero, declarando que Deus era o seu Castelo Forte[1], mesmo em face aos perigos e dissabores:

Castelo forte é nosso Deus,
Espada e bom escudo!
Com seu poder defende os seus
Em todo transe agudo.
Com fúria pertinaz
Persegue satanás
Com ânimo cruel!
Mui forte é o Deus fiel,
Igual não há na terra.

A força do homem nada faz,
Sozinho está perdido!
Mas nosso Deus socorro traz
Em seu Filho escolhido.
Sabeis quem é? Jesus,
O que venceu na cruz,
Senhor dos altos céus,
E sendo o próprio Deus,
Triunfa na batalha.

Se nos quisessem devorar
Demônios não contados,
Não nos iriam derrotar
Nem ver-nos assustados.
O príncipe do mal,
Com seu plano infernal,
Já condenado está!
Vencido cairá
Por uma só palavra.

De Deus o verbo ficará,
Sabemos com certeza,
E nada nos assustará
Com Cristo por defesa!
Se temos de perder
Família, bens, prazer,
Se tudo se acabar
E a morte enfim chegar,
Com ele reinaremos!
(M. Lutero – J. E. Von Hafe)




[1] Hino nº 155 do Hinário Novo Cântico/Igreja Presbiteriana do Brasil

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