quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Brasil: a Esperança e o Compromisso do Cristão


Estamos passando por um momento extremamente delicado. Nunca, na história da democracia em nosso país, assistimos o que têm acontecido em nossa classe política. O processo de declínio se demonstra nos âmbitos morais, econômicos, éticos e etc. Em meio a isso tudo está o povo brasileiro que assiste, atônito, a todas essas questões e já não deposita mais esperança na classe que ai está, embora ainda deposite sua esperança e confiança naqueles que já passaram ou em quem possa surgir para “salvar a nação”, exercendo uma função de “Messias político”, que conduzirá o povo rumo a libertação de todas essas questões, rumo a uma nação prometida há anos, mas jamais alcançada. Nesse instante surge a Igreja do Senhor, no Brasil, chamada a se opor a tais questões, não optando por lado algum de maneira cega, mas a sustentar os princípios da Palavra de Deus como meio norteador, depositando sua confiança exclusiva e total no Senhor do Universo. Eis o grande desafio.
Assim como a população, obscurecida de entendimento, busca um libertador dos problemas e do caos que se instaurou nesse país. A grande questão é que a Igreja do Senhor precisa entender que o Brasil só terá jeito quando render-se aos pés do Senhor e o Cristo conduzir este país, através de Seus servos, exercendo a liderança política, orando por eles (1Tm 2.1,2), cumprindo as leis do estado (Rm 8.1-7), o que inclui o pagamento de tributos (Mt 17.24-27; Rm 13.7). Embora saibamos que os “reis da terra” não se submetem ao Senhor e não haja compromisso com o Senhor Deus (Sl 2), o cristão é chamado a ter a mesma visão que João: Cristo é Senhor absoluto da terra (Ap 15.2-4; 19.1-21; 5.1-10). Portanto, é chamado a não submeter sua esperança em outro que não seja o próprio Cordeiro de Deus.
Além disso, vivemos um momento em que parece que voltamos no tempo e separamos o sagrado e o profano. Não conseguimos entender que a resposta para nosso país é a graça de Deus e a sujeição a Ele. Não entendemos que todos os problemas que enfrentamos são, na verdade, causados por um distanciamento de Deus e de Sua Palavra. Não seguimos o exemplo de Calvino que entendia que Genebra só poderia ser moral, social e politicamente redimida quando se aproximasse dos princípios das Escrituras[1]. Vivemos uma espiritualidade em que Deus tornou-se um ídolo residente no templo da Igreja. Nós estamos vivendo um momento em que não adoramos o Deus Vivo, mas idolatramos uma versão leniente e conivente desse deus com o pecado e com nossos achismos. Como resultado disso, não conseguimos mais entender que a doutrina, outrora defendida com afinco pelos nossos irmãos do passado, da depravação total[2] seja real e que todos os problemas que temos, seja no âmbito em que for, é por nos afastarmos de Deus e de Sua Palavra. Enquanto não entendermos que os problemas do Brasil são, primeiramente, espirituais e não lutarmos para viver os princípios de Cristo e de Sua Palavra, e não nossa interpretação da mesma, não haverá mudanças significativas no atual quadro do Brasil. Ainda que possamos argumentar de que o declínio deste mundo vai acontecer como está escrito, os cristãos não podem ser instrumentos para tal resultado. Não podemos nos associar a elas e nem termos responsabilidade ativa nesse declínio (Lc 17.1,2; Mt 18.6,7; Mc 9.42).
Também é necessário de que estejamos conscientes de nossa tarefa e responsabilidade como cristãos neste mundo. Embora nasçamos no Brasil, somos primeiramente, depois da redenção em Cristo, cidadãos dos céus, vivendo neste mundo e vivendo no Brasil. Como cidadãos dos céus neste mundo, temos a grande responsabilidade de viver fielmente como súditos do Rei e como integrantes do Reino. Nossos princípios devem ser os princípios de Cristo. Nossas prioridades devem ser as Dele. Nosso senso de justiça e pontos de luta devem ser os Dele. Somos chamados das trevas para a luz para torná-lo conhecido (1Pe 2.9) e para brilhar a Sua luz (Mt 5.14-16), fazendo a diferença neste mundo (Mt 5.13) por viver e fazer a vontade de Deus. Nossa missão é brilhar a Luz de Cristo e anunciar Sua mensagem em todo o mundo e a todos neste mundo. Onde quer que estejamos nós não podemos esquecer de que esta é a nossa missão. Se somos políticos, funcionários públicos, privados, estudantes, “do lar”e afins, não podemos esquecer que devemos executar todos esses papeis para a glória de Deus e para anunciar sua grandeza (Ef 2.10; 1Co 10.31; Cl 3.23; Mt 5.16). Nenhuma tarefa, nenhuma missão, nenhum trabalho, nenhum afazer ou labor nosso pode estar distante dessa realidade. Nosso compromisso não é com o Brasil, mas com o Senhor do Universo. E enquanto nós o servirmos estaremos optando pelo melhor do Brasil, ainda que tenhamos de apoiar medidas impopulares.
Nosso país atravessa um momento delicado. Nosso país enfrenta uma crise imensa. Nesse contexto a Igreja de Cristo é chamada para ser luz e fazer a diferença. Mas jamais o faremos enquanto não entendermos que a esperança de salvação e libertação do Brasil é o Senhor Jesus. Jamais o faremos enquanto afastarmos Deus de nossa vivência e de nossas ações cívicas. Jamais seremos instrumentos para a transformação do Brasil enquanto o nosso compromisso for com o povo, com as instituições, com a história, com as ideologias e não for exclusivamente com o Deus Triúno e com Sua Palavra. Mas quando o for, poderemos clamar com o poeta e trabalhar pela salvação do Brasil[3].

1 Do vasto Mato Grosso
Até ao Ceará,
Por vilas e cidades
Do sul ao Grão-Pará,
Deste evangelho santo
Que nos legou Jesus,
Ao povo brasileiro
Levemos nós a luz!
2 Do Sul ao Amazonas,
Do Oeste até ao mar,
Já corre a doce nova
Do amor que não tem par.
Já muitos foram salvos
Da morte e perdição;
No sangue do Cordeiro
Acharam salvação!
3 Contudo, ainda muitos,
Bem longe de Cristãos,
Adoram deuses feitos
Por suas próprias mãos.
De tão fatal pecado,
Da idolatria vil,
Unidos no evangelho,
Salvemos o Brasil.
(A. H. da Silva)



[1] LOPES, Augustus Nicodemus. Calvino e a responsabilidade social da Igreja. PES – Publicações Evangélicas Selecionadas. 24p.
[2] Consulte: SILVÉRIO, André do Carmo. João Calvino e “Os Cinco Pontos Do Calvinismo”. Disponível em: http://www.monergismo.com/textos/jcalvino/joao_calvino_5pontos_silverio.htm. Acessado em: 03/08/17.
[3] Nº 285 do Hinário Novo Cântico, da Igreja Presbiteriana do Brasil.