quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Jesus, o exemplo exaltado por Deus!

É comum aos homens buscarem um modelo, um exemplo, um padrão a seguir. Nossa geração não é exceção disso. As pessoas elegem modelos maternais, paternais, esportistas e até modelos de vidas, como ideais para seguirmos. Quando se trata da igreja, também não somos exceção. Temos a mesma busca pelos mesmos modelos e, por vezes, elegemos nossos líderes ou um irmão ou irmã com quem temos maior afinidade e admiração, como modelo a ser seguido por nós. Deus, sabendo dessa tendência natural do ser humano, estabeleceu um modelo perfeito para nós: Jesus! A Carta aos Filipenses, traz o exemplo de Jesus e em como Ele se torna modelo para nós, de modo que precisemos nos dedicar em imitá-Lo.
A igreja em Filipos foi a primeira igreja em solo europeu, plantada por Paulo, por volta do ano 50 d.C. Paulo nutria um profundo amor por essa igreja e essa epístola, juntamente com a epístola à Filemon, são as cartas mais pessoais que ele escreve. Cerca de 10 anos depois de sua fundação, por volta do ano 60 d.C., Paulo está preso em Roma, cidade em que ele seria morto, por amor ao evangelho. Ciente dessa situação de Paulo, os Filipenses angariam uma oferta e a remetem à Paulo pelas mãos de Epafrodito. Durante essa visita de Epafrodito, Paulo é noticiado dos problemas daquela igreja que estava sofrendo, como rixas, discussões frívolas, discórdias – principalmente por Evódia e Síntique – e a obra do Senhor estava sendo feita por vanglória e partidarismo.
No primeiro capítulo da carta, Paulo escreve falando sobre sua saudade dessa igreja e sobre a certeza de que eles eram participantes de seu ministério. Ele descreve ainda sua situação e deixa claro que a obra do Senhor deve ser feita independente das circunstâncias, haja visto que ele próprio, preso, estava anunciando a Cristo. Suas algemas eram as provas de que ele era prisioneiro em Cristo. Já no segundo capítulo, Paulo trata sobre a unidade da Igreja e mostra a Cristo Jesus como o exemplo, o modelo a ser seguido por aquela comunidade, com vistas à glória de Deus. Em Fp 2.5-11, Paulo descreve a Jesus, o modelo exaltado por Deus.
Jesus, o modelo de Deus (Fp 2.5-8): Por se tratar duma igreja madura em idade naquele contexto e, por tanto, uma das mais esclarecidas do conhecimento do Senhor, Paulo cita o que alguns estudiosos apontam como sendo a letra dum cântico entoado na igreja primitiva para relembrá-los sobre a obra de Cristo. Ciente das dificuldades daquela igreja e, embora ele se colocasse como exemplo deles no texto anterior, em se tratando de modelo para a resolução dos problemas enfrentados pelos Filipenses, Paulo cita aquele que é perfeito e de quem nenhum cristão pode duvidar ou discutir como modelo. Paulo cita aquele que foi dado pelo próprio Deus como modelo para a sua igreja: Jesus.
Mas a ideia de Paulo não é apenas colocar Cristo como um modelo e deixa a questão entregue à mentalidade daquela comunidade. Ele define bem o assunto mostrando em que Jesus é o modelo de Deus para a Sua igreja.
1.           Jesus, Modelo de Humildade (5-6): Sendo o próprio Deus, Cristo abriu mão momentaneamente da sua glória completa, limitando-se à forma humana, embora dotado plenamente de sua deidade. O exemplo de humildade de Jesus já era conhecido pela comunidade, tendo em vista os ensinos perpetuados pelos apóstolos. Em Jo 13, temos a passagem em que Jesus lava os pés de seus discípulos, função que, na época, era exclusiva dos escravos. O Rei da glória, Senhor do universo, lavava os pés dos seus discípulos e ensinou-lhes que eles deveriam seguir Seu exemplo e abrir mão de toda a vanglória humana. Sendo Deus, não quis ser igual a Deus, mas viveu de maneira humilde, sem ostentação, sem arrogância, sem exigências, sem obter e querer glória para Si mesmo. Enquanto os Filipenses buscavam vanglória, o Senhor da Igreja buscou, em tudo, a glória do Pai.
2.           Jesus, modelo de servo (7a):E ele, assentando-se, chamou os doze e lhes disse: Se alguém quer ser o primeiro, será o último e servo de todos.” (Mc 9.35). Essa foi uma das principais instruções de Jesus, quando questionado sobre quem seria o maior entre seus seguidores, ou sobre quem se assentaria ao Seu lado em Seu reino. Ele deixou claro que para ser seu seguidor, não deve-se colocar como Senhor sobre todos, mas sim como servo de Todos. Ele mesmo estava familiarizado com essa posição. As profecias veterotestamentárias a Seu respeito descreviam-No como servo dos seus irmãos. Ele mesmo não desejou ou lutou por outra posição, mas serviu em todo o seu ministério. Como Rei, serviu aos seus semelhantes. Como o Filho do Deus vivo, não viveu e nem desejou viver como príncipe. Simplesmente serviu. Enquanto os Filipenses queriam as glórias e as vantagens imaginadas sobre ser cristão, Paulo demonstra que Cristo, sendo Deus, viveu como servo e é servo que Ele procura para pertencer ao Seu povo.
3.           Jesus, Modelo de Obediência (7b-8): Durante toda a sua vida sobre a terra, Jesus Cristo foi obediente à todas as autoridades. Foi obediente a José, seu padrasto, e à Maria, sua mãe, honrando-os até o fim. Jesus Cristo foi obediente aos seus governantes, cumprindo com as leis romanas da época. Jesus foi obediente às leis sinaíticas[1], não preocupado com as tradições, mas com o principio por trás da lei. Mas, principalmente e sendo o motivo para ser obedientes aos demais, Jesus foi obediente ao Pai até o fim. Antes de sua prisão, suas palavras foram “Pai, se possível, passe de mim este Cálice. Contudo, seja como tu queres” (Lc 22.42; Mt 26.4). Sendo Deus, poderia irromper com este momento, escapar da morte e não submeter-se a nada que humanamente não quisesse se submeter. Entretanto, Jesus, como nas palavras citadas por Paulo, foi obediente até a morte e morte de Cruz. Segundo as leis romanas, a cruz era para os piores criminosos. Para os Judeus, a cruz era sinal da maldição de Deus sobre o homem (Cl 3.13). Jesus tinha ciência sobre isso e tinha poder para livrar-se dessa vergonha e humilhação momentânea. Contudo, como exemplo de obediência, seguiu seu caminho até o fim, para satisfazer a vontade de Deus. Não preocupou-se com o que estava perdendo ou com a aparente vergonha que passaria. Ele decidiu obedecer e obedeceu até o fim. Enquanto os Filipenses brigavam e faziam a obra do Senhor apenas para atrair os holofotes, Jesus obedeceu ao Pai ao custo de sua própria vida. Jesus deveria ser imitado como modelo para aquela Igreja.
Depois de demonstrar como Jesus serve de padrão, de modelo para a Igreja, Paulo continua seu discurso demonstrando que ele foi exaltado por Deus (Fp 2.9-11) depois de trilhar o caminho da humilhação, aos olhos humanos, sendo humilde, servo e obediente.
1.           Jesus, exaltado por Deus após a humilhação (9): É conhecido entre os cristãos a paráfrase de Ez 21.26: “Os humilhados serão exaltados”. E embora o homem naturalmente, depois da queda, desejem a glória e a exaltação para si mesmo, esquecem-se que para verem a exaltação em Cristo é preciso que vivam a humilhação por Cristo. Jesus foi exaltado por Deus diante dos homens, mas isso depois de suas constantes humilhações ao longo de sua vida terrena e, principalmente, nos momentos finais de sua vida, culminando com a crucificação. Pedro, em Seu discurso em At 4 deixa claro que Deus exaltou a Jesus, ressuscitando dentre os mortos, sendo a morte o ápice de sua humilhação. Somente depois de vivenciar as agruras de sua vida, em obediência humilde ao Pai, tomando o lugar de servo, é que Jesus foi exaltado pelo Pai. Enquanto a igreja de Filipos  se perdia de problemas menores buscando a glória de si mesmos, Jesus foi exaltado e glorificado pelo Pai, depois de seguir o caminho da humilhação.
2.           Exaltado como Senhor sobre todos (10-11a): Aquele que colocou-se como servo de todos e ensinou que o maior deve ser o servo dos seus irmãos, foi elevado, agora, como Senhor sobre todos. Aquele que foi preterido pelos seus compatriotas, agora foi honrado e será reconhecido diante e por todos os homens. Aquele que foi humilhado, agora é honrado. Se anteriormente os homens não reconheceram sua deidade e senhorio, agora, tais homens devem se curvar diante da sua glória e soberania. Toda língua confessará e toda joelho se dobrará ante à glória de Jesus. O Pai submeteu e continuará submetendo todos os homens ao Senhor dos senhores, ao Rei dos Reis, a Jesus, o Cristo. Enquanto a igreja de Filipos estava discutindo e não queriam unir-se e nem buscar outra vida, senão a de vanglória, Paulo demonstra que Deus exaltou a Cristo, depois de sua humilhação, como Senhor de todos, inclusive dos desunidos filipenses.
3.           Jesus, exaltado para a glória de Deus (11b): O motivo pelo qual Deus estabeleceu Jesus como modelo, e depois o exaltou, foi para a glória do Seu próprio nome. O reconhecimento que as nações farão sobre o senhorio e deidade de Jesus é para a glória do Pai. Tudo que o que foi feito para a criação, pela criação, por meio da criação e através da criação foi e será sempre para a glória de Deus. Essa visão é crucial para o homem na teologia paulina. Aos coríntios, ele disse que devemos “fazer tudo para a glória de Deus” (1Co 10.31). Aos Efésios, ele diz que Deus tem poder para fazer muito mais do que podemos imaginar para que Seu nome seja glorificado em Cristo e na Igreja (Ef 3.21). Deus preserva a glória do Seu nome e tudo quanto faz, o faz para este fim. Sendo assim, Paulo deixa claro que a exaltação de Jesus é por este mesmo motivo. Mas não apenas isso. Tudo o que Jesus fez e que Paulo apontou nesse pequeno trecho, é tão somente para a glória de Deus. E é por esse motivo que Jesus submeteu-se ao Pai em tudo: Para a glória do Pai. Enquanto os filipenses estavam preocupados consigo mesmos e com suas rixas, buscando sua própria glória, Deus exalta a Cristo e demonstra que tudo deve ser feito tão somente para a Sua glória.
Num contexto em que sempre buscamos alguém para nos assemelhar e imitar, busquemos o melhor, imitando-O em tudo, sabendo do que nos aguarda quando estamos dispostos a seguir nosso padrão. Precisamos, com Jesus, aprender: 1) a abrir mão do que e de quem somos e temos. Existem na igreja muitas pessoas que orgulham-se por ter o posto que tem ou pelo emprego que possuem, ou pelo status que mantém. Com Jesus, aprendemos que precisamos ser humildes, pois foi essa uma das maiores lições que nos legou. Não importa quem somos, ou quem Deus nos permite ser. Devemos ser humildes abrindo mão das nossas vaidades naturais e não ouvindo nosso coração que desesperadamente quer as glórias para si. 2) Precisamos aprender que Deus busca servos para sua igreja. Embora sejamos seus filhos, Deus não nos chama para viver como príncipes neste mundo. Sendo Jesus o próprio Deus e tendo aberto mão de sua posição, momentaneamente, para ocupar a posição de servo, precisamos aprender a fazer o mesmo. Algum pastor já disse que colocaria em sua igreja uma placa na porta dizendo “precisa-se de servos porque senhores já temos muitos”. E essa é uma triste verdade. Na igreja do Senhor, muitos querem mandar e serem servidos. Entretanto, o Senhor nos elegeu e nos chamou para uma vida de servidão a Ele, conforme Sua Santa vontade. 3) Cristo foi obediente ao custo de sua vida. E nós? O que estamos dispostos a abrir mão por amor e obediência ao Senhor? Cristo foi obediente até o fim. Noé,durante a construção da Arca, foi obediente até o fim da construção, mesmo parecendo, naquele contexto, loucura obedecer a Deus. Ele anunciou o dilúvio (Gn 6; 2Pe 2.5, Hb 11) durante 120 anos e ninguém lhe ouviu, e no céu não se via sinal de abundante chuva. Contudo, ele obedeceu, mesmo sendo chacoteado pelos seus. E nós, estamos dispostos a obedecer a Deus mesmo em situações em que parece loucura fazê-lo? Estamos dispostos a abrir mão da nossa reputação e de sermos taxados algumas vezes, por obedecermos ao Senhor? Com Cristo, precisamos aprender a obedecer ao Senhor. 4) Precisamos aprender que somente seremos exaltados em Cristo depois de vivermos uma vida de humilhação pelo Senhor. Não há como querermos os louros da vitória, sem antes levarmos as cicatrizes da batalha. É fácil procurarmos e buscarmos a glória e a exaltação. A teologia moderna prega que, como filhos de Deus, precisamos desfrutar da Sua glória aqui. Contudo, com Jesus, aprendemos que a nossa glória, Nele, se dará apenas após as lutas, provações, tribulações e triunfo nelas. 5) Precisamos estar cientes de que tudo será feito para a glória de Deus. Deus não age para a glória da igreja ou do cristão, mas sim o cristão, na igreja, deve fazer tudo para a glória de Deus. Isso nos faz pensar sobre o propósito de tudo o que fazemos. A quem queremos exaltar? Nós ou ao próprio Deus? A resposta a essa pergunta definirá as nossas ações e a reações. Sigamos o exemplo de Cristo e imitemo-Lo!



[1] Leis Sinaíticas: Leis dadas por Deus no monte Sinai à Moisés

sábado, 15 de novembro de 2014

"Sê tu uma bênção!"

   "Sê tu uma bênção!" (Gn 12.2b) Quando Deus chama Abrão para servi-Lo incondicionalmente e segui-Lo sem saber por onde, Deus lhe faz algumas promessas (Gn 12.1-7). Contudo, nem tudo seria flores para Abrão. Ele tinha parte na aliança que Deus estava firmando com ele e iniciando com sua posteridade.
   Enxergar a obediência de Abrão nesse texto, como a parte da aliança que lhe cabia, não é difícil. A questão é que esta obediência não se resumia apenas em sair da terra e de entre os parentes e seguir a um lugar desconhecido (12.1). Além disso, a expressão final do verso 2 traz consigo uma ordem clara a Abrão e que deveria ser obedecida como as outras.
   Embora tenhamos o costume de interpretar, muitas vezes, essa expressão como um reconhecimento de Deus sobre o papel de Abrão diante de Seus olhos, longe disso, o Senhor dá-lhe uma clara ordem para que ele fosse uma bênção onde quer que fosse, seja com quem fosse. Nâo é uma condicional (Dependendo dos fatores externos/internos ou das pessoas ou circunstâncias) e não é optativo (Não cabia a ele escolher se queria sê-lo ou não). É uma ordem. Abrão deveria ser uma marca viva da presença do grande EU SOU onde ele estivesse e isso fazia parte do que deveria fazer na aliança estipulada pelo próprio Deus. E essa foi a grande marca de Abrão por toda a sua existência e depois que foi recolhido à morte. Sua obediência é marcante para o povo de Deus a partir daquele momento e seu papel como bênção nas mãos de Deus é evidente ao longo de toda a narrativa bíblica.
   Trazendo para as nossas vidas, quando somos chamados por Deus para pertencermos ao Seu povo e para lhe serguirmos, cabe a nós uma vida de total e irrestrita obediência, deixando para traz tudo o que pode nos impedir de avançar rumo ao alvo que é Jesus (Fp 3.12-14). Mas, como parte dessa obediência, temos o dever de sermos o sinal da presença de Deus onde estamos. Temos o dever de sermos uma bênção na vida das pessoas que estão ao nosso redor. De igual modo que Abrão, não é condicional para nós e tão pouco é optativo. É uma clara ordem para o crente ser uma bênção onde estiver. Sempre delegamos tal função aos líderes e à igreja ou aos nossos momentos nela. A questão é que onde eu estou, ai está a Igreja de Cristo, ali está - ou pelo menos deveria estar - o próprio Deus.
   A pergunta que devemos nos fazer é: Será que eu tenho sido uma bênção nas maos do Senhor e na vida dos meus próximos (crentes ou não)? Por onde eu passo, sou um sinal Evidente da presença e da graça de Deus, ou estou longe disso? Paulo, escrevendo aos Coríntios, afirma categoricamente que aquela igreja era a carta de Cristo para o mundo e nós, igreja do Senhor, também o somos (2Co 3.3). Precisamos iluminar este mundo com a luz de Cristo. Precisamos ser uma bênção de Deus neste mundo. Que assim o sejamos, como Abrão o foi, para a glória do SENHOR.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Os "Simpsons" e o culto cristão

Um dos desenhos de maior sucesso há alguns anos, tanto nos Estados Unidos como aqui no Brasil e em muitos outros países é o que retrata o cotidiano da família Simpson. No ar há 25 temporadas, faz sucesso com pessoas de todas as idades por demonstrar as aventuras dessa família típica e comum, de classe média dos Estados Unidos. Seu criador, Mathew Groening satiriza de forma peculiar as experiências dos americanos nos enredos dessa família. Mas uma dessas sátiras, dentre tantas outras, saltam-nos à vista, considerando o fato de que retrata a forma como ele, o autor dos desenhos, enxerga a religiosidade dos americanos e exprime de maneira evidente através de seus personagens principais que compõe a família Simpson: Homer J. Simpson, Marge Simpson, Bartholomeu “Bart” Simpson, Lisa Simpson e Mag Simpson.
Dentre tantas coisas que são demonstradas por meio das personagens, quanto à vida religiosa, encontra-se o fato de que nenhum deles leva a vida religiosa a sério e não praticam os preceitos ensinados por meio da bíblia pelo reverendo da igreja de Springfield. Mas em alguns momentos, diante da igreja, se comportam como exímios e autênticos Cristãos que não deixam de cumprir com os ensinos transmitidos. Em alguns casos, o cinismo entre eles é tamanho que eles mesmos se admiram com o comportamento de alguns deles, na igreja, quando diante dos irmãos. Principalmente o comportamento de Homer que, ao longo dos anos, demonstra uma aversão clara a religião.
A grande questão é que este comportamento retratado por Groening não é tipicamente norte-americano, tão pouco está longe de nós. Muitas vezes, assim como os Simpsons, nos apresentamos diante da igreja com comportamentos dignos de ser elogiados e copiados. A questão é que Deus conhece completamente a nossa vida e sabe da inteireza e da sinceridade de nossos corações.
Não é de hoje que o povo de Deus apresenta-se perante Ele de maneira que, externamente falando, poderia até impressionar quem está olhando. Houve momentos na história da igreja em que os serviços públicos oferecidos eram muito mais por uma questão de status, do que por integralidade de coração. J. C. Ryle, falando sobre a religiosidade mecânica e fria na Inglaterra na década de 1870, nos diz:
Vivemos numa época em que há grande quantidade de adoração religiosa pública. A maioria das pessoas – particularmente na Inglaterra – que tem respeito pelas aparências vão a alguma igreja no domingo. Frequentar um lugar de adoração tem se tornado comum. Mas todos sabemos que quantidade sem qualidade tem pouco valor.[1]
Deus, entretanto, conhecendo o coração do Seu povo, sabe dos motivos que nos levam a nos apresentarmos diante dele. Por essa razão, Deus classificou o culto oferecido por Israel, nos dias do Profeta Malaquias, como sendo um culto hipócrita (Ml 1.6-14), envolvido em tantos ritualismos, mas vazios de significados e de conteúdos. Infelizmente, o comportamento de muitos cristão tem sido como os descritos pelos Simpsons. Mas estes, infelizmente, não se apercebem ainda da gravidade que representa oferecer um serviço tão vil ao Senhor, Criador do Universo.
A mensagem proclamada por Malaquias era forte em seus dias, dado a gravidade das acusações feitas pelo próprio Deus ao Seu povo. A mensagem que deve ser proclamada nas igrejas atuais, por meio de Malaquias tem igual peso, por cometerem iguais atos. Assim como nos dias de Malaquias, o povo do Senhor, eleito e amado por Ele, redimido e resgatado pela cruz de Cristo e regenerado por meio da ação do Espírito Santo, deve comparecer perante o tribunal de Deus para reavaliar a qualidade do serviço prestado ao Senhor, bem como para que possam ouvir o que Deus pensa a respeito de Si mesmo e do Seu culto.




[1] RYLE, J. C. ADORAÇÃO: PRIORIDADE, PRINCÍPIOS E PRÁTICA. São José dos Campos: Editora Fiel, 2010. Pp. 7

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Oração Sincera de Confissão de Pecados

O Salmo 51 contém umas das mais belas orações de confissão de pecados de toda a Bíblia. Davi, o homem segundo o coração de Deus (At 13.22), é o autor dessa oração profunda que nos mostra, em rápidas palavras, de como deve ser uma confissão sincera de pecados, produto de um coração tocado pelo Espírito de Deus e que reconhece, de fato, o peso dos seus pecados.
Súplica: Diante do confronto do profeta Natã, que foi ter com ele depois de sua queda com Bate-Seba (2Sm 12.1-14), Davi, entendendo a gravidade de seus atos, suplica ao Senhor pela “multidão das tuas misericórdias” (VS 1), sabendo que não era por merecimento, mas sim porque “as misericórdias do Senhor não tem fim” (Lm 3.22) que ele poderia ser perdoado. Ele não coloca-se diante do Senhor como o proeminente rei que era, mas como necessitado da graça de Deus, como todos os homens (Rm 3.23). Sabendo dessa preciosa verdade, Davi suplica ao Senhor que o limpasse, sabendo que a limpeza e a purificação vem só do Senhor (VS 2). Nada do que ele fizesse poderia purificá-lo. Mas o coração dele, contristado e arrependido, era o que o Senhor procurava para purifica-lo e restaurá-lo (VS 16-17).
Reconhecimento: Depois de suplicar ao Senhor pelas misericórdias Dele e por purificação, Davi reconhece o seu pecado e a sua natureza pecaminosa (VS 3,5). Davi entendia que ele não nasceu bom e tornou-se mal. Antes disso, sabia bem que nasceu na maldade e era essencialmente mau tudo o que ele fazia, ainda que tivesse bons atos. Davi tinha ciência tal de seus pecados que ele diz ao Senhor que conhece as suas transgressões. Davi não se coloca diante de Deus como um pecador apenas pela certeza de que todo homem é pecador. Ele apresenta-se diante de Deus como pecador porque ele conhecia seus próprios pecados e sabia bem o que tinha feito e como tinha feito. Ele sabia do conhecimento que Deus tinha dele, desde o ventre de sua mãe (Sl 139.1-6; 13-16), portanto, Deus conhecia bem todos os seus pecados e seu estado de depravação total, como posteriormente Calvino compreenderia a situação do homem diante da desgraça do pecado[1]. Porém, Davi reconhece também a santidade e a justiça de Deus, exercida face ao pecado (VS 4). Calvino, nas Institutas da Religião (Livro I), afirma que o conhecimento sobre Deus e o conhecimento sobre o homem anda entrelaçado. Diante dessa afirmação, W. Gray Cramptom afirma que Só conhecemos a nós mesmos quando conhecemos a Deus[2], a semelhança da experiência do Profeta Isaías que reconheceu seu estado vil, quando contemplou a santidade de Deus (Is 6.1-5). Diante dessa mesma realidade da santidade de Deus, Davi reconhece a necessidade de ter uma vida santa diante dos olhos do Senhor (VS 6). Sua vida em todos os seus procedimentos devem ser retos (Sl 15; 101), pois é isso que Deus exige do seu povo na Lei de Moisés (Lv 11.44a), cujo padrão é o próprio Deus. Davi jamais obteria o favor do Senhor se ele não reconhecesse sua natureza corrompida e a exigência do Senhor de que deveria ser tal como Ele é (Mt 5.48).
 Busca pela restauração de Deus: Após suplicar e reconhecer tudo o que já fez anteriormente, Davi sabe que a restauração só pode vir de Deus. Alias, este conhecimento era presente em todo o Israel, pois sabiam que apenas Deus pode restaurar a sorte do seu povo (Sl 126.4). Davi sabe que apenas Deus poder tornar o pecador alvo mais que a neve (VS 7), por mais escuros que sejam as manchas do pecado (Is 1.18). O rei tinha tanta certeza sobre esse fato que pede a Deus para que o purificasse plenamente e usa como exemplo para tal purificação o hissopo. Hissopo era uma planta usada medicinalmente para lavagem e purificação de feridas purulentas no período antigo e era usada no banho dos leprosos. Davi sabia que seus pecados diante de Deus era tão desprezível quanto a lepra e que ele não poderia estar diante de Deus enquanto não fosse limpo. Ele não se contentava em apenas ser limpo, mas desejava ser purificado e sabia que apenas Deus poderia fazê-lo, portanto, reconhecendo essa verdade, pede e busca isso em Deus.  Davi sabia também que somente a restauração de Deus pode dar a verdadeira alegria (VS 8,12), pois entende que o pecado nos separa de Deus e que Deus é a fonte de toda a nossa alegria. Não existe alegria longe de Deus ou separado Dele. Como a alegria é somente em Deus, o rei pede ao Senhor que lhe restaure essa alegria e esse jubilo demonstrado por ele em vários outros momentos. Para um homem que andou com Deus, estar distante Dele lhe tirava a felicidade e a alegria verdadeira, que é marca de alguém que vive no Espírito Santo (Gl 5.22). Davi também sabe que só Deus restaurando sua vida é que ele poderá ser perdoado de seus atos vis contra o Senhor (VS 9), e que sozinho não pode mudar os intentos do seu próprio coração (VS 10) que, por essência, é mau (Jr 17.9) e que só essa restauração pode manter o perdoado em comunhão com Deus (VS 11-12).
Vendo, então, a realidade apresentada por essa belíssima oração de confissão, aprendemos algumas valorosas lições para as nossas vidas:
 1) Precisamos aprender a suplicar o favor do Senhor não olhando para os nossos acertos ou quase como exigindo que Deus nos perdoe ou mesmo avaliando e classificando nossos pecados como sendo grandes ou pequenos. Também não podemos achar que devemos ser perdoados por causa de nossas boas ações quase que automaticamente como se elas invalidassem os nossos pecados. Precisamos entender que a graça do perdão se dá, em Cristo, pela vontade de Deus que nos amou ao ponto de entregar Seu Filho por nós (Rm 5.8; 8.32-33; Ef 2.8-9) Devemos suplicar ao Senhor pela multidão de suas misericórdias e também pedir ao Senhor que nos lave de todo pecado, em Cristo, o Cordeiro de Deus que tem para isso poder e autoridade (Jo 1.29; 6.52-57).
2) Precisamos reconhecer os nossos pecados diante de Deus. Falar deles ou confessá-los subjetivamente não adianta, pois nossos pecados não são, em sua maioria, cometidos por ignorância. Assim como o pecado de Davi, nós, muitas vezes planejamos bem, ainda que rapidamente, nossos pecados. Podemos não ter ciência plena sobre a extensão do pecado, mas, por causa do Espírito de Deus e de Sua Palavra, sabemos que temos cometido pecado e sabemos quais são, de modo que não somos inocentes sob o olhar de Deus (Tg 1.12-15; Na 1.3). Precisamos aprender a reconhecer nosso estado pecaminoso e nossa natureza pecaminosa que está em constante clima de tensão com nossa nova natureza (Rm 7.13-25; Gl 5.17) e que nascemos em pecado e que não somos, em nós mesmos, justos de modo algum (Sl 14.1-3; Rm 3.10-12). Mas apenas isso não é suficiente. Só conseguimos ter uma visão clara de quem somos, quando olhamos a Deus tal como Ele é. Portanto, precisamos conhecer a Deus e sua vontade por meio de Sua Palavra para que possamos compreender satisfatoriamente a necessidade de ter uma vida santa e reta diante de Deus. Não basta apenas reconhecimento do pecado e reconhecimento da santidade de Deus, se nós não reconhecermos a necessidade duma vida santa e piedosa e lutarmos por tal vida como nossa meta, a partir do novo nascimento (Ef 4.20-31; Fp 3.12-14; 1Pe 1.14-16).
3) Precisamos também buscar a restauração que só pode vir de Deus, por meio de Cristo. Somente Cristo pode nos tornar alvos mais do que a neve, a ponto de não haver nenhuma acusação de mácula contra nossas vidas (Rm 8.31-34; Ap. 22.14). Nenhum outro pode restaurar nossas vidas diante de Deus e, por meio dessa restauração, restabelecer a comunhão perdida e renovar nossa alegria no Senhor. Apenas Cristo pode fazê-lo e, para tanto, precisamos verdadeiramente confessar nossos pecados diante do Senhor para que Ele, por meio de sua obra expiatória, possa restaurar essas maravilhas em nossas vidas. Somente haverá alegria na presença de Deus (Sl 122), certeza de perdão e restauração na presença de Deus (Sl 32) e mudança de pensamento e atitudes (Sl 101) quando formos alvos da verdadeira restauração de Deus, a partir do arrependimento de nossos pecados.
Diante da grandeza dessa bela oração e de todas as verdades aprendidas por meio dela, precisamos rever nossos momentos de confissão e nossos atos de arrependimento. Davi foi o homem segundo o coração de Deus e o seu pecado não mudou sua posição diante do Senhor, pois o Senhor conhecia a Davi e, diante do seu próprio erro, Davi mostrou sua devoção, temor e amor ao Senhor. Deus não muda a visão Dele a nosso respeito, pois sabe bem quem somos. Portanto, sejamos como Davi e sejamos sinceros diante de Deus em todos os momentos, inclusive quando da confissão de nossos pecados. Só assim alcançaremos, por graça, o favor do Senhor. Que Ele se apiede de nós, e que nós sejamos preenchidos pelo Espírito de Deus a ponto de nos juntarmos ao rei Davi nessa oração, e ao poeta, ao reconhecer nossos pecados:

Perdão[3]
1       Se sofrimento te causei, ó Deus,
Se ao meu exemplo o fraco tropeçou,
Se eu não andei nos bons caminhos teus.
Perdão, Senhor!

2       Se vão e fútil foi o meu falar
Se amor ao meu irmão não demonstrei;
Se ao sofredor eu não quis ajudar.
Perdão, Senhor!

3       Se negligente foi o meu viver,
Sem me dispor a pelejar por ti,
Se firme em teu trabalho eu não quis ser.
Perdão, Senhor!

4       Escuta, ó Deus, a minha oração
E vem livrar-me do pecado vil.
Renova este pobre coração!
Amém, Senhor!
(C. M. Battersby – H. Cantoni – J. S. Costa)




[1] Cf. http://www.monergismo.com/textos/jcalvino/joao_calvino_5pontos_silverio.htm
[2] Cf. http://www.monergismo.com/textos/jcalvino/calvino-conhecimento_crampton.pdf
[3] Nº 71 do Hinário Novo Cântico

sábado, 24 de maio de 2014

A vida Cristã e seus desafios: A crise de Elias

A vida cristã é cheia de desafios. Não há um momento, nesta vida, em que nós não estejamos enfrentando alguma luta, seja de ordem emocional, financeira, enfermidade e, principalmente, espiritual. Nessa sucessão de lutas que enfrentamos, em alguns momentos, é natural de nossa parte nos sentirmos fracos, oprimidos, deprimidos e queixosos a ponto de pensarmos em desistir. Em alguns momentos, parece-nos que a tristeza toma conta de nosso coração e limita ainda mais a nossa visão, ofusca nossa confiança em Deus e nos vemos completamente sós, ainda que não estejamos.
Diferentemente do pensamento propagado na atualidade, quando somos redimidos por Cristo, não deixamos de enfrentar lutas em nossas vidas. Essas lutas, que se abatem sobre todos os seres humanos, são, agora, enfrentadas de maneiras diferentes, uma vez que confiamos na graça soberana de Cristo.
Entretanto, em alguns momentos, estamos tão cansados das lutas já travadas que ao sinal da menor dificuldade, se comparada ao todo que enfrentamos, nos sentimos fracos, sem ânimo, sem coragem e dispostos a desistir de tudo. Nesse instante, algumas atitudes são características em nós: Queremos nos isolar num sentimento de autocomiseração, alimentamos e nos refugiamos numa tristeza profunda, queremos lembrar a Deus tudo quanto já fizemos e todas as lutas já enfrentadas como se pudéssemos cobrar algo de Deus e, ao mesmo tempo, mostrar-lhe que já lutamos demais e que seria injusto da parte do Todo-Poderoso enfrentarmos mais uma batalha. Somam-se a essas características o desejo por ver Deus descer dos céus e enfrentar nossas lutas em nosso lugar, poupando-nos de lutar, com grande poder e glória e o sentimento de que estamos sozinhos na batalha.
Mas não somos os únicos a passarmos por essas crises. Alguns heróis da Bíblia Sagrada, como homens que são, enfrentaram momentos assim e, longe de terem uma atitude positivista, também sofreram, lutaram e, em alguns casos, quiseram desistir.
No primeiro livro dos Reis, no capítulo 18, temos o relato da dura batalha entre Elias, Acabe, rei de Israel, Jezabel, a diabólica e maquiavélica esposa do rei, e os profetas de Baal. A partir do capítulo 19, temos o episódio em que Elias, cansado das batalhas contra seus ardorosos opositores, vai ao deserto esperando que pudesse, enfim, morrer e encontrar o descanso de suas lutas. Enquanto esteve no deserto, tendo desistido de tudo, Elias aguardava seu fim, esquecendo-se de tudo o que Deus, anteriormente, fizera em sua vida e que, agora, o estava sustentando para a próxima jornada que duraria 40 dias.
Ao sair do deserto, sob a ordem de Deus, ele se dirige ao monte Horebe. Lá, ao invés de subir ao cume do monte como Deus lhe ordenara, ele prefere se esconder numa caverna, refugiando-se em sua autocomiseração e na tristeza que, agora, tomara conta de sua alma. Lá, ele começa a reclamar com Deus sobre os últimos eventos que tem lhe ocorrido e a dizer qual era a sua utilidade e finalidade na obra, como se cobrasse algo de Deus por servi-Lo por estar cansado de sua lida dentro do ministério profético.
Em resposta as queixas de Elias, Deus manda-o sair da caverna com a finalidade de mostrar-lhe sua presença, duma maneira que contraria a expectativa humana. Nesse instante, temos o relato de vários elementos dos quais, acertadamente, diríamos: Deus está aqui! Sopra um forte vento, acontece um tremor de terra na montanha e até fogo do céu cai, como ocorrera antes quando Elias enfrentou os profetas de Baal, mas ele não sente a presença de Deus ali. Contudo, quando o relato nos diz que soprou um cicio suave, ou seja, uma brisa, no rosto do profeta, vemos ele sentir a presença de Deus ali, a ponto de, naquele instante, ouvir a voz do seu Senhor. Elias aprendeu que muitas vezes é preciso o silêncio para ver a ação de Deus e ouvir sua voz.
Logo após esse momento, já fora da caverna, Elias novamente relembra algumas coisas a Deus, mas Deus demonstra seu poder e soberania na condução da história ao ponto de lembrar Elias que ele não estava só, pois havia mais alguns que não se curvaram perante Baal. Deus cuidou do depressivo Elias quando tudo aos seus olhos, limitados pelas circunstâncias, estava perdido.
Diante disso, quando olhamos nossas vidas, a semelhança de Elias, também enfrentamos momentos em que queremos desistir e esperamos pelo fim quando nos deprimimos. Também queremos lembrar a Deus sobre nossas experiências passadas e nossa serventia na obra, como se Deus fosse forçado a nos livrar pela nossa fidelidade. Contudo, Deus não nos impede de enfrentarmos nossas lutas. Como Deus dos exércitos que é, peleja conosco (Sl 3). Graciosamente, Deus cuida de nós mesmo quando nós não estamos vendo, ou sentindo sua ação. Mesmo quando parece que todos nos deixaram, Deus sempre está ao nosso lado (Sl 27.10; Sl 46; Sl 139.7-12). De maneira pedagógica, Deus nos ensina que Seu poder é manifesto, e que fala do modo mais simples: Por meio de Sua Palavra (Hb 1.1-2).
Ao lidarmos com as nossas crises, precisamos aprender as mesmas coisas que Elias aprendeu. Podemos cansar de nossas lutas e até termos momentos de fraquezas, porque somos humanos e tendemos a sucumbir diante de tantos desafios sucessivos. Mas, também como Elias, precisamos aprender a contar com a graça de Deus manifesta através de Sua soberania e crermos que Deus está agindo e controlando todas as coisas para o louvor de sua própria Glória (Rm 11.33-36).
Em Jesus, temos os mesmos exemplos de perseverança em tempos difíceis. Enfrentou lutas, dificuldade, dissabores, mas, como perfeito varão que era, confiava na graça de Deus e em Sua sabedoria na condução da História. Como nosso representante diante de Deus, conhece nossas aflições(Hb 4.14-16). Diante das nossas crises e das nossas lutas e dificuldades, confiemos em Deus e testemunhemos que, em Deus, com Cristo, somos felizes mesmo em tempos de difíceis. Nos juntemos ao poeta e declaremos:

Aflição e Paz[1]:
Se paz a mais doce me deres gozar,
Se dor a mais forte sofrer,
Oh! Seja o que for, tu me fazes saber
Que Feliz com Jesus sempre sou!

Sou feliz com Jesus,
Sou feliz com Jesus, meu Senhor!

Embora me assalte o cruel satanás,
E ataque com vis tentações;
Oh! Certo eu estou, apesar de aflições,
Que feliz eu serei com Jesus!

Meu triste pecado, por meu salvador
Foi pago de um modo cabal!
Valeu-me o Senhor! Oh! Mercê sem igual!
Sou feliz, graças dou a Jesus!

A vinda eu anseio do meu Salvador,
Em breve virá me levar
Ao céu, onde eu vou para sempre morar
Com remidos na luz do Senhor!
(H. G. Spafford – Wm E. Entzminger)



[1] Nº 108 do Hinário Novo Cântico

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Débora, a profetisa

Esta é a única mulher descrita como sendo juíza no livro de Juízes. O fato dela ser relacionada entre as personagens contadas aqui coloca-a em grau de destaque.
Depois da opressão imposta por Eglom nas tribos sulistas e após o ato triunfante de Eúde que, agindo sob a autoridade e poder do Espírito de YHWH, matou o rei moabita Eglom, o foco muda e a história passa a narrar as opressões impostas nas tribos nortistas. Nesse novo contexto, surgem novos inimigos com ainda mais ganância e o prelúdio de uma nova e ainda mais sangrenta batalha surge no horizonte. Os inimigos são ainda mais poderosos e a nação estava novamente “fazendo o que era mau perante o SENHOR, depois de falecer Eúde” (Jz 4.1). Nesse momento as batalhas tornam-se ainda mais violentas pois o rei Jabim e o seu comandante Sísera se envolvem nessa batalha contra os Israelitas. Cundall, comentando este fato, nos diz que “a ameaça de Jabim e Sísera, longe de relacionar-se a pequenas porções de território, envolvia seis tribos nesse novo conflito. Foi o primeiro grande perigo da época dos juízes.[1]”.
Não é a primeira vez que o nome de Jabim aparece nos relatos bíblicos. Cerca de um século antes, quando Josué conduzia a nação de Israel, ele também batalhou com um rei de Hazor, chamado de Jabim (Js 11.1-11). É evidente que este Jabim não é o mesmo Jabim de Juízes. É possível que este nome de Jabim não fosse um nome próprio, mas sim um título dado a dinastia dos reis de Hazor, tal como no novo testamento temos o nome de Herodes que não se trata de nome próprio, mas sim de uma dinastia de governantes que adotam estes títulos. Se observarmos bem o relato de Josué veremos que a cidade de Hazor fora queimada e destruída pelos exércitos Israelitas e, possivelmente, não tenha sido conquistada, dando a oportunidade dos cananeus de reconstruírem a cidade e recuperarem sua hegemonia[2]. Possivelmente os relatos sobre o triunfo israelita tenha se espalhado naquele reino, fazendo com que os cananeus da região de Hazor alimentassem sua revolta contra a nação hebréia.
Após vinte anos de opressão por sob Israel e após os constantes clamores deste povo por socorro, aparece Débora, a profetisa, e é levantada por YHWH como uma libertadora desse povo. Sua história é notória, pois no período do Antigo Testamento a mulher desenvolvia um papel secundário e subalterno. Entretanto essa mulher tem importância tal para a história israelita que até seu marido tem um papel secundário na história. A única vez que ouvimos falar de seu marido, Lapidote, é quando mencionado que Débora é sua esposa. Mesmo Baraque tem um papel secundário na história comparado ao papel que Ela exerce. Baraque, cujo significado é “relâmpago”, foi encorajado a agir por conta dessa talentosa e valorosa mulher.
Diante do temor apresentado por Baraque, YHWH levanta Débora e a faz falar a este lembrando-lhe das promessas que Deus havia feito de que entregaria os inimigos nas mãos dele. Este, por sua vez, teme ir só e pede à Débora para segui-lo e esta promete ir, mas profere uma profecia dizendo que Deus entregaria Sísera e seus soldados nas mãos dos israelitas, mas para humilhar Baraque, o faria pelas mãos de uma mulher.
Embora muitos leiam este texto com a finalidade de exaltar o papel feminino nessa luta, a verdade primária é que Deus queria humilhar aos homens, principalmente a Baraque, fazendo com que a vitória sobre os inimigos viesse por meio daquela a quem os israelitas menos esperavam e daquela por meio de quem a vergonha para os homens perduraria. Deus a exaltou e humilhou os homens de Israel fazendo com que o triunfo fosse por meio de mais uma humilhação pela falta de fé e confiança que tais homens tiveram.
Entretanto, não podemos negar que a vitória não veio por meio das mãos de Débora e sim pelas mãos de Jael. Ela matou a Sísera, depois que este confiou na falsa sensação de segurança que lhe fora proporcionado e ficou a mercê de seus inimigos, dormindo, dentro da tenda de Jael. Depois deste episódio, Débora e Baraque entoaram um cântico relembrando os feitos de YHWH por Israel. Depois desta triunfante vitória, é dito que “cada vez mais a mão dos filhos de Israel prevalecia contra Jabim, rei de Canaã, até que o exterminaram” (Jz 4.24).
Para nós, que vivemos séculos à sua frente desse episódio, torna-se importante lê-lo para aprendermos que Deus independe de nós ou da nossa fé para agir. Temos a errônea ideia de que se nós não nos movermos a fazer, Deus não poderá estabelecer a sua vontade e agir, uma vez que Ele torna-se coadjuvante e dependente de nossa vontade. Na história dessa valorosa e corajosa mulher, aprendemos que Deus usou, usa e usará até mesmos aqueles que nós não valorizamos e utilizará dos meios que nós menos esperarmos para cumprir Seu propósito em Honrar sua própria Aliança.




[1] CUNDALL, Arthur E. MORRIS, Leon. Juízes e Rute: Introdução e Comentário. Série Cultura Bíblica, volume 7. 1986. São Paulo: Editora Mundo Cristão. Pp. 80
[2] Ibid.

sábado, 26 de abril de 2014

COMPROMISSO COM TUDO O QUE LHE INTERESSA, SIM! E COM DEUS?

As pessoas recebem cobranças por compromisso em seu trabalho. Resposta: Vou ser responsável, afinal “eles” me pagam. Ok – Certo.

Outros recebem a cobrança por compromisso na faculdade. Resposta: Vou ser um aluno responsável, afinal preciso pensar no  meu futuro. Ok- Certo.

Alguns recebem cobranças da sociedade para ser uma pessoa responsável e de caráter. Resposta: Serei! 

Afinal, preciso conviver bem em sociedade. Ok- Certo.

Pergunto: Por que quando somos chamados a ter compromisso com a casa do Senhor, como o Seu reino prontamente mudamos o semblante, ficamos irritados, reclamamos do nosso líder e ainda fazemos chantagem emocional... “vou sair dessa igreja, ninguém me ama mais”.

Será que Cristo não pagou um preço pela nossa vida e por isso devemos total compromisso com o seu reino?

Será que Cristo por meio da sua obra não tem preparado para cada um dos seus escolhidos um futuro glorioso?

Será que Cristo, sendo o cabeça, e nós membros do seu corpo, não devemos viver em comunhão com os irmãos?

E você o que pensa? Ou o que diz quando se fala de compromisso com o reino de Deus?


O problema é seu com Deus, porém trate de resolvê-lo para que isso seja evidenciado no seio da igreja. 

Texto em forma de diálogo enviado por: Sem. Rosentino Ferreira de Souza

quarta-feira, 19 de março de 2014

Porque estudar os livros chamados "Históricos"?

Sem sobra de dúvidas, muitos cristãos tem aversão à leitura dos livros bíblicos que compõe a literatura dos Históricos (Josué, Juízes, Rute, I e II Samuel, I e II Crônicas, Esdras, Nemias e Ester). Essa aversão se dá por vário fatores que envolvem desde o problema natural do homem que insistentemente luta para não dar ouvidos à voz de Deus, às diferenças geográficas, literárias e culturais entre outros. Além do mais, num mundo em que a veracidade dos fatos bíblicos tem sido amplamente discutida, as pessoas são levadas a crer que as histórias[1] de Israel não passam de estórias[2] a respeito duma divindade nacional e colocam os relatos bíblicos como sendo lendas israelitas para promoverem heróis e explicar os desastres ocorridos, como o exílio babilônico.
Por causa de concepções errôneas e entendimentos fraudulentos sobre a condução de Deus na história, e de Sua ação nela e através dela, que teorias como o “Teísmo aberto[3]” tem surgido e levado muitos crentes a crerem nessa heresia que torna Deus um mero coadjuvante na história da humanidade. É nesse contexto que temos a necessidade de ler, meditar e ouvir a voz de Deus nas Escrituras Sagradas. Por essa razão, alguns motivos auxiliam-nos para vermos a necessidade de lermos com afinco este trecho específico da palavra de Deus.
Partindo do pressuposto de que toda a Escritura (e ela toda, em todos os seus mínimos detalhes) é inspirada por Deus (2Tm 3.16) e, portanto, deve ser lida e estudada pelo seu povo, não deveria haver outros argumentos mais fortes do que este para que o povo da Aliança de Deus, os eleitos em Cristo desde antes da fundação do mundo (Rm 8.29-30), tivessem o prazer de meditar na Lei do Senhor. Ouvir Deus falar deve ser o motivo principal pelo qual lemos todos os trechos bíblicos. Contudo, infelizmente, nem todos aqueles que denominam-se herdeiros de Deus em Cristo, conseguem ver dessa forma. Encaram como algo enfadonho, pesaroso e, por vezes, até chato a leitura e a meditação em qualquer trecho Bíblico, sobretudo dos assim chamados históricos que fazem referências, algumas vezes, à genealogias, o que gera um desconforto com o leitor ocidental que não aplica o mesmo peso à essas informações, quanto os leitores originais. Mas este, embora o principal, não é o único motivo. Elencamos outros quatro motivos que podem nos ajudar a entender a importância de lermos os livros Históricos.
Primeiro, precisamos estudar os livros Históricos porque tratam a respeito da nossa história também. Embora não sejamos Judeus, somos o Israel espiritual de Deus. Esse é o entendimento a partir do Novo Testamento, quando aprendemos que Deus tem os Seus de toda tribo, povo, língua e nação, em todas as partes da terra e que, num primeiro momento, a nação dos hebreus era um modelo a ser observado por outros para que aprendessem a viver pela graça de Deus. Observando este fato, a história do povo hebreu não é uma história aleatória, mas um retrato sobre a natureza humana levado aos seus pormenores, seja enquanto aproxima-se de Deus, seja afastando-se Dele. Embora não vivamos na mesma cultura e nem sob as mesmas leis civis, todos os eventos, bênçãos e maldições recaídas sobre eles servem como modelo e exemplo do que devemos ou não fazer, de como devemos ou não viver. Estudar os Históricos ajuda-nos a entender como Deus trata com seriedade a Aliança firmada com seu povo e como devemos fazê-lo também, para não incorrermos nos mesmos erros que eles. Dessa forma, trata da nossa história também.
Segundo, o estudo dos Históricos ajuda-nos a perceber a história dum Deus que ama o Seu povo, mas que é igualmente justo e corrige seus filhos quando estes desonram sua Aliança e desobedecem Sua palavra. Interessantemente, somos levados a crer num Deus que é apenas amor e que todos os seus outros atributos estão submetidos a este. Contudo, através dos históricos nós aprendemos que o amor de Deus caminha lado a lado com sua justiça e que, jamais, Deus deixa de satisfazer sua justiça por causa do amor. Antes, em amor, satisfaz sua justiça[4]. Um exemplo disso é o rei Davi que, ao pecar com Bate-Seba contra Urias, sofreu a justa – dentro da ótica de Deus – punição por seus pecados, enfrentando a espada e a violência em sua casa (2Sm 12.10). Mesmo assim, seu pecado fora perdoado (2Sm 12.13). Através dos históricos aprendemos que Deus perdoa nossos erros, mas, como Pai que é, não nos livra da justa consequência de nossos atos.
Terceira, aprendemos que mesmo que nossos olhos não vejam claramente a ação de Deus, ele sempre está agindo (Cf. Ester). Houve claros momentos em Israel em que parecia que Deus não estava vendo a situação dos israelitas. Principalmente quando os reis faziam o que era mau perante o Senhor e fazia o povo sofrer imensamente por isso. Contudo, somos convidados por Deus a entender que nós não podemos nos conduzir por aquilo que vemos ou por aquilo que sentimos, uma vez que nosso coração é enganoso (Jr 17.9). Há momentos em que, em nossa própria vida, parece que provamos o distanciamento de Deus. Mas somos convidados por Ele, através da história de Israel, a ver que Ele sempre está conduzindo todas as coisas para a glória do Seu santo nome e não, necessariamente, para aquilo que queremos ou imaginamos ser o melhor. Através desses livros, somos convidados a crer que os pensamentos e caminhos de Deus são diferentes e melhores que os nossos (Is 55.8-9). Muitos são os momentos em que, como no caso de Davi, nos dizem – e até pensamos – “não há em Deus salvação para ele” (Sl3.2), mas somos convidados pelo mesmo Deus a testemunhar o mesmo que Davi ao concluir que se “O SENHOR é a minha luz e a minha salvação; de quem terei medo? O SENHOR é a fortaleza da minha vida; a quem temerei? (...) Porque, se meu pai e minha mãe me desampararem, o Senhor me acolherá.” (Sl 27.1,10) Desse modo, somos levados a crer na promessa de que Deus está conosco por onde quer que andemos (Js 1.9) até o fim dos tempos (Mt 28.20). Se não o vemos, por meio dos Históricos, cremos (Hb 11.1).
Quarto, aprendemos que Deus independe de nós para cumprir seus propósitos. Mesmo nos momentos em que tudo parecia perdido, e que nada parecia que daria certo, Deus conduziu, soberanamente, cada evento para o estabelecimento de Sua vontade e para a Sua glória. Reis fizeram o que era mau, o povo desprezou ao SENHOR e cultuaram outros deuses, as tribos se dividiram entre Reino do Norte e Reino do Sul, mas, ainda assim, Deus estabeleceu e cumpriu Seu propósito em tudo. Dessa forma, somos levados a perceber que Deus não depende de circunstâncias para agir. Ele age nelas, por elas, para elas e independente delas. Quando Deus tem um propósito na vida do seu povo, seja coletiva ou individualmente, nada está perdido. Ele pode fazer a estéril ter filhos (1Sm 2.21), um pequeno grupo vencer um exercito gigantesco (Jz 7), ressuscita mortos (2Rs 4.8-36) e faz muitas outras coisas desde que Ele queira. Gloriosamente somos informados de que Deus não muda (Tg 1.17), portanto, continua sendo o Deus soberano em nossos dias e cumpre seus propósitos, independente de nós. Somos apenas convidados a fazermos como Jó, e testemunhar: “Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado” (Jó 42.2).
Mesmo num mundo em que meditar na Lei do Senhor é visto como perda de tempo e que o importante, para os cristãos, é experiência com Deus[5], precisamos nos levantar para ouvir a voz Dele por meio de Sua palavra. Deus continua nos falando e nos ensinando de maneira pedagógica através dos exemplos dos nossos irmãos do passado.  Meditar nos livros Históricos não é meramente aprender sobre histórias de heróis empoeirados que pouco ou nada tem a ver conosco. Meditar nesses doze livros é obedecer a Deus e aceitar o Seu convite para conhecer a Sua história e não incorrermos nos mesmos erros do passado.
Nosso trabalho é nos ajuntarmos aos corajosos irmãos do passado para, juntos, erguemos a bandeira da palavra de Deus, extrair dela alimento e vida, como ela gera. Ouçamos a voz do Senhor ecoar através de cada exemplo e aprendamos que Deus sempre guiou, guia e guiará a história como seu Autor, Criador e preservador. Firmemos nossa fé consciente no Senhor, nos juntemos ao poeta e confessemos nossa confiança no nosso Deus, que é o Deus dos Antigos:
Deus dos Antigos, cuja forte mão
Rege e sustém os astros na amplidão!
Ó soberano, excelso Criador,
Com gratidão cantamos teu louvor!

Desde o passado foste nossa luz,
Sol que até hoje com fulgor reluz!
Sê nosso Esteio, guia e Proteção,
Tua Palavra, lei e direção.

Da guerra atroz, do crime e assolação,
Dos tempos maus de um mundo em confusão,
Seja teu braço o nosso defensor,
Pois confiamos sempre em ti, Senhor!

Teu povo, ó Deus, assiste em seu labor,
No testemunho do teu grande amor.
As nossas vidas vem fortalecer
Para o teu nome sempre engrandecer. Amém.
(D. C. Roberts – trad. J. W. Faustini)


[1] História: são registro de fatos reais.
[2] Estória: são os contos e lendas inventadas por um povo e transmitida como verdade, geração após geração.
[3] Teísmo Aberto: “Segundo o Rev. Dr. Augustus Nicodemus Lopes, o teísmo aberto, ou teologia relacional, diz respeito a um novo deus posto no mercado evangélico por aqueles que colocam Deus apenas como um Deus de amor, cujo outros atributos estão todos subordinados a este (Cf. LOPES, Augustos Nicodemus. Teologia Relacional: Um novo deus no mercado. Disponível em: http://www.monergismo.com/textos/presciencia/augustus_teologia_relacional.htm acessado em 12/04/12). O problema dessa corrente é que ela coloca Deus em atitude de parceria com o homem e não como seu Senhor. Alguns extremistas desse ponto de vista afirmam que Deus até pode saber o futuro, mas abre mão de tal conhecimento por amor ao homem e age no campo das probabilidades. Ele não sabe ao certo o que pode ou não ocorrera e vai agindo na história conforme esta vai seguindo seu curso. Em outras palavras, coloca o Deus da criação, aquele cujo poder faz com que Ele chame seu exercito de estrelas e nenhuma delas vem faltar por ser Ele grande em poder (Is 40.26), em lugar de uma de Suas criaturas, limitadas, e que divide sua “grandeza” com o homem a quem criara, esquecendo-se de que Deus não divide sua glória com ninguém (Is 42.8).” (REIS, Michel dos Santos. Capacitando para melhor servir. Históricos. Instituto Teológico Rev. Luiz Gonzaga de Medeiros. Carapicuíba, maio de 2012. Pp. 16)
[4] LIMA, Leandro Antônio de. Jesus precisava mesmo morrer? Brasil Presbiteriano. São Paulo, dezembro de 2013. Pp 18-19
[5][5] Experiência com Deus: Ignorância ou conhecimento? REIS, Michel dos Santos. Disponivel em: http://refletindoparaavida.blogspot.com.br/2013/12/experiencia-com-deus-ignorancia-ou.html Acessado em: 19/03/14

sexta-feira, 14 de março de 2014

Profetas de Deus ou de si mesmos?


Os nossos dias são marcados por homens que se denominam grandes diante de Deus e se auto-denominam de profetas da atualidade. Suas profecias atraem milhares de pessoas que estão em busca de “ouvirem” a voz de Deus por meio de outros homens e que buscam respostas às suas inquietações, mas fazem esta busca de maneira totalmente errônea, não querendo, de fato, ouvir o que Deus tem a dizer quanto às reais necessidades humanas, e sim quanto aos desejos humanos que estão em busca de satisfação e conforto nessa vida.
Por outro lado, temos uma enorme dificuldade quanto ao nosso entendimento cristão sobre “profeta”. Chamamos de profeta todos aqueles que supostamente falam em nome de Deus, mas não nos atemos a entender o que a Bíblia diz a respeito de profetas e profecias. Mas vejamos o que Deus nos diz a respeito de profetas que viriam em nome Dele e que, verdadeiramente, falam da parte dele.
O capítulo 18 de Deuteronômio, nos versos 15-22, Moisés faz uma profecia a respeito de outro grande Profeta que viria em Israel. Há duas profecias presentes aqui. Moisés está dizendo que haveria mais profetas em Israel que iriam profetizar no meio do povo. Mas que profetas seriam esses?
Primeiro Moisés fala a despeito de um grande profeta que iria se levantar no meio do povo e diz ao povo que eles deveriam ouvir a voz desse profeta sob pena de prestar contas a Deus caso não O ouvissem. Analisando este texto sob a perspectiva cristológica, fica evidente que a profecia de Moisés, nesse tocante, refere-se a Cristo, uma vez que cumpre o ofício profético de maneira perfeita. Esse papel era desenvolvido perfeitamente pelo fato de Cristo ser O profeta que falava com base em sua própria autoridade e todas as suas palavras eram divinas. Os profetas anteriores diziam “A mim me veio a palavra do Senhor” (Vide o livro dos profetas), porém, Jesus, dizia “Em verdade, em verdade eu vos digo”. Jesus fala da parte de Deus com base em sua própria autoridade, sabendo a respeito do que está falando e todas as suas profecias se cumprem.
Já os demais profetas veterotestamentários, quando falavam da parte de Deus, com base na autoridade conferida pelo próprio YHWH, nem sempre entendiam o teor da mensagem. Muitas vezes esperavam o cumprimento imediato da profecia. Em muitos casos havia um duplo cumprimento da profecia, um tão logo fosse proferida, outro num futuro estipulado por Deus. É o caso da profecia de Dt 18 que trata a respeito de profetas com funções diferentes. Outro exemplo desse aspecto do duplo cumprimento da profecia encontra-se em Is 7. Deus prometera a Acaz, rei de Judá, um sinal da presença de Deus com Judá com a finalidade de fazê-lo ver que Deus estava agindo no seu povo. O sinal era que uma virgem daria a luz um filho a quem o povo e o rei veriam, e o rei entenderia que este era o Emanuel (Deus conosco). Isso aconteceu tão logo Isaías profetizou e Acaz viu o sinal de que Deus estava com ele e com Israel. Porém, esta mesma profecia se referia a Cristo. Em Mt 1 temos o anjo falando a Maria estas mesmas palavras e aplicando-as a Jesus. Isso demonstra que nem sempre o profeta sabia exatamente sobre o que se tratava a profecia.
Outro aspecto da profecia de Moisés sobre os profetas que viriam a Israel demonstra que Deus suscitaria profetas além do grande Profeta. A profecia desses homens estaria sujeita ao cumprimento de maneira que se fossem profetas falando da parte de YHWH, a profecia se cumpriria, caso contrário, o profeta não era da parte de Deus, falava com base em seu próprio coração e vaidade e seria, ele mesmo, punido por Deus. O povo deveria se atentar para essa realidade, pois, caso contrário, iriam cometer pecados e torpezas a exemplo do que já havia acontecido em Israel quando Balaão (Ap 2.14; Nm 25.1-3; Nm 31.16) profetizou contra Israel.
Desse modo, a profecia de Moisés apresentam essas duas realidades: Havia de vir profetas que falariam à Israel, mas viria também O Profeta que viria e falaria de maneira definitiva à Israel, mas agora não necessariamente ao Israel físico, i.e., Israel enquanto nação, mas ao Israel Espiritual de Deus, que somos nós.
        Os profetas de nossos dias, ou seja, aqueles que falam da Palavra de Deus, também devem ser experimentados nesse sentido. Não falam de si mesmos, mas somente da Palavra de Deus. Outro tipo de profecia, não sendo baseada na autoridade da palavra de Deus, e não apresentando o seu cumprimento, deve ser entendida como palavra de homens, motivadas pela vaidade do coração e não merece crédito da parte dos crentes. Precisamos aprender a buscar o entendimento em Deus e esperar nele. Profetas surgiram em Israel que, ao falarem o que o povo queria ouvir, fizeram com que se afastassem de Deus. Outros, falando o que Deus ordenara e não sendo o que o povo gostaria de ouvir, foram atacados e desacreditados pelo povo, mas não diante de Deus. Nossos profetas precisam aprender a transmitir a mensagem de Deus, por mais dura que seja, de maneira fiel, afinal de contas, se é Deus falando, e sendo os ouvintes dedicados em ouvir a voz de Deus, que transtorno haverá? A menos que o profeta ou o ouvinte não estejam, verdadeiramente, querendo ouvir Deus falar.