sexta-feira, 14 de março de 2014

Profetas de Deus ou de si mesmos?


Os nossos dias são marcados por homens que se denominam grandes diante de Deus e se auto-denominam de profetas da atualidade. Suas profecias atraem milhares de pessoas que estão em busca de “ouvirem” a voz de Deus por meio de outros homens e que buscam respostas às suas inquietações, mas fazem esta busca de maneira totalmente errônea, não querendo, de fato, ouvir o que Deus tem a dizer quanto às reais necessidades humanas, e sim quanto aos desejos humanos que estão em busca de satisfação e conforto nessa vida.
Por outro lado, temos uma enorme dificuldade quanto ao nosso entendimento cristão sobre “profeta”. Chamamos de profeta todos aqueles que supostamente falam em nome de Deus, mas não nos atemos a entender o que a Bíblia diz a respeito de profetas e profecias. Mas vejamos o que Deus nos diz a respeito de profetas que viriam em nome Dele e que, verdadeiramente, falam da parte dele.
O capítulo 18 de Deuteronômio, nos versos 15-22, Moisés faz uma profecia a respeito de outro grande Profeta que viria em Israel. Há duas profecias presentes aqui. Moisés está dizendo que haveria mais profetas em Israel que iriam profetizar no meio do povo. Mas que profetas seriam esses?
Primeiro Moisés fala a despeito de um grande profeta que iria se levantar no meio do povo e diz ao povo que eles deveriam ouvir a voz desse profeta sob pena de prestar contas a Deus caso não O ouvissem. Analisando este texto sob a perspectiva cristológica, fica evidente que a profecia de Moisés, nesse tocante, refere-se a Cristo, uma vez que cumpre o ofício profético de maneira perfeita. Esse papel era desenvolvido perfeitamente pelo fato de Cristo ser O profeta que falava com base em sua própria autoridade e todas as suas palavras eram divinas. Os profetas anteriores diziam “A mim me veio a palavra do Senhor” (Vide o livro dos profetas), porém, Jesus, dizia “Em verdade, em verdade eu vos digo”. Jesus fala da parte de Deus com base em sua própria autoridade, sabendo a respeito do que está falando e todas as suas profecias se cumprem.
Já os demais profetas veterotestamentários, quando falavam da parte de Deus, com base na autoridade conferida pelo próprio YHWH, nem sempre entendiam o teor da mensagem. Muitas vezes esperavam o cumprimento imediato da profecia. Em muitos casos havia um duplo cumprimento da profecia, um tão logo fosse proferida, outro num futuro estipulado por Deus. É o caso da profecia de Dt 18 que trata a respeito de profetas com funções diferentes. Outro exemplo desse aspecto do duplo cumprimento da profecia encontra-se em Is 7. Deus prometera a Acaz, rei de Judá, um sinal da presença de Deus com Judá com a finalidade de fazê-lo ver que Deus estava agindo no seu povo. O sinal era que uma virgem daria a luz um filho a quem o povo e o rei veriam, e o rei entenderia que este era o Emanuel (Deus conosco). Isso aconteceu tão logo Isaías profetizou e Acaz viu o sinal de que Deus estava com ele e com Israel. Porém, esta mesma profecia se referia a Cristo. Em Mt 1 temos o anjo falando a Maria estas mesmas palavras e aplicando-as a Jesus. Isso demonstra que nem sempre o profeta sabia exatamente sobre o que se tratava a profecia.
Outro aspecto da profecia de Moisés sobre os profetas que viriam a Israel demonstra que Deus suscitaria profetas além do grande Profeta. A profecia desses homens estaria sujeita ao cumprimento de maneira que se fossem profetas falando da parte de YHWH, a profecia se cumpriria, caso contrário, o profeta não era da parte de Deus, falava com base em seu próprio coração e vaidade e seria, ele mesmo, punido por Deus. O povo deveria se atentar para essa realidade, pois, caso contrário, iriam cometer pecados e torpezas a exemplo do que já havia acontecido em Israel quando Balaão (Ap 2.14; Nm 25.1-3; Nm 31.16) profetizou contra Israel.
Desse modo, a profecia de Moisés apresentam essas duas realidades: Havia de vir profetas que falariam à Israel, mas viria também O Profeta que viria e falaria de maneira definitiva à Israel, mas agora não necessariamente ao Israel físico, i.e., Israel enquanto nação, mas ao Israel Espiritual de Deus, que somos nós.
        Os profetas de nossos dias, ou seja, aqueles que falam da Palavra de Deus, também devem ser experimentados nesse sentido. Não falam de si mesmos, mas somente da Palavra de Deus. Outro tipo de profecia, não sendo baseada na autoridade da palavra de Deus, e não apresentando o seu cumprimento, deve ser entendida como palavra de homens, motivadas pela vaidade do coração e não merece crédito da parte dos crentes. Precisamos aprender a buscar o entendimento em Deus e esperar nele. Profetas surgiram em Israel que, ao falarem o que o povo queria ouvir, fizeram com que se afastassem de Deus. Outros, falando o que Deus ordenara e não sendo o que o povo gostaria de ouvir, foram atacados e desacreditados pelo povo, mas não diante de Deus. Nossos profetas precisam aprender a transmitir a mensagem de Deus, por mais dura que seja, de maneira fiel, afinal de contas, se é Deus falando, e sendo os ouvintes dedicados em ouvir a voz de Deus, que transtorno haverá? A menos que o profeta ou o ouvinte não estejam, verdadeiramente, querendo ouvir Deus falar.

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