terça-feira, 1 de setembro de 2015

Santa Ceia

O relato dos evangelhos, quanto a ministração da Santa Ceia, é fantástico (Mt 26.20-30; Mc 14.17-26; Lc 22.14-23; Jo 13.21-30). Este foi um dos momentos mais sublimes do ministério de Jesus e uma das lições mais preciosas que Ele ensinou àqueles que lá estavam e, por graça e inspiração do Espírito Santo, os relatos desse evento, ensina-nos até aos dias de hoje. Durante a preparação da Ceia, a indicação do traidor – Judas – e o momento da instituição da Ceia como sacramento à Igreja, o Senhor nos mostra a seriedade e a santidade desse momento.
Judas não havia sido excluído de nada até aquele instante. Todos os milagres que o Senhor fizera ao grupo dos doze, nenhum deles foi na ausência de Judas (exceto os milagres que ele fez apenas na presença de Pedro, André, Tiago e João). Nenhuma das lições ensinadas, fora feito longe da presença de Judas. Até mesmo ao lavar os pés dos discípulos, Jesus o fez na presença desse algoz e lavou seu pé com o mesmo amor com o qual lavou os pés dos demais (Jo 13.1), mesmo sabendo que ele não estava limpo de coração (13.10-11).
Contudo, aquele momento era sublime. A santidade daquele evento era real e, por isso, alguém que não fosse santo e que fosse, na verdade, hipócrita, não poderia participar desse evento. Por esse motivo, Jesus tira Judas daquele local antes de instituir e sacramentar aquele evento. O Senhor não poderia manifestar algo tão sublime na presença de satanás ou na presença de alguém cujo o coração fora tomado por ele. O Senhor não poderia fazer com que a santidade daquele momento, que também significava sua vitória e triunfo sobre o mal, sobre o príncipe das trevas e sobre o pecado, se manchasse e se perdesse diante de presenças tão vis.
Aquele momento era único! Porém, Judas, não estava como os demais discípulos, cujo coração já fora trabalhado pelo Mestre. Não se tratava de serem pecadores, pois todos o eram e iriam se escandalizar nele e até mesmo negá-lo. A questão é que Judas, diferente dos demais que estavam ali por crer e amar à Jesus, embora sem entender, ainda, a dimensão do que estava por ocorrer nos momentos posteriores, estava resoluto, decidido e obstinado a trair à Jesus. Ele já o havia vendido. Ele já o odiava há muito tempo. Ele já havia selado o pacto da traição. Agora, ele se retira desse momento, por ordem e determinação de Cristo, para efetivar a traição[1], culminando, por meio do beijo, à sua prisão, tortura e crucificação.
Por entender a seriedade desse momento e a incapacidade de ser realizado na presença de homens vis e diabólicos, é que Paulo ordena ao homem o “examinar a si mesmo”, antes de tomar assento à mesa do Senhor (1Co 11.23-30). Pessoas cujo coração esteja manchado, dominado pelo pecado e decididamente servindo ao diabo não podem participar desse momento. Isso não tem a ver apenas com possessões demoníacas. Isso diz respeito à hipocrisia do homem diante da santidade desse momento. Quando o homem não entende a seriedade, santidade, sublimidade e majestade desse momento, ele se torna hipócrita e, ao participar da Santa Ceia, está trazendo juízo para si, tornando-se réu do corpo e sangue de Jesus. Por isso, a necessidade, segundo Paulo, do homem fazer um autoexame antes de participar desse baquete. Mas, ao fazê-lo, não deve apenas identificar seus erros e participar da Mesa. Deve-se, primeiro, confessá-los diante do Senhor, abandoná-los e, então, participar desse momento sublime.
Muitas vezes, nós, Igreja do Senhor na atualidade, não entendemos a preciosidade e a seriedade desse momento e, assim como nos dias de Malaquias (Ml 1.6-14), ou Jesus (em relação à Judas), profanamos a Mesa do Senhor, nos apresentando diante Dele hipocritamente. Ao fazê-lo, estão em pecado maior ainda e não o podem fazer enquanto estiverem nesse estado. Por isso, declara a Confissão de Fé:
Ainda que os ignorantes e os ímpios recebam os elementos visíveis deste sacramento, não recebem a coisa por eles significada, mas, pela sua indigna participação, tornam-se réus do corpo e do sangue do Senhor para a sua própria condenação; portanto eles como são indignos de gozar comunhão com o Senhor, são também indignos da sua mesa, e não podem, sem grande pecado contra Cristo, participar destes santos mistérios nem a eles ser admitidos, enquanto permanecerem nesse estado[2].
Irmãos, quando somos chamados à “Mesa Do Senhor”, não podemos fazê-lo como Judas. Sejamos sinceros diante Dele, atendendo à exortação de Paulo, fazendo um autoexame, nos arrependendo e abandonando nossas práticas pecaminosas. Esse momento é festivo, comemorativo[3], crucial para nossa comunhão com Ele por meio do que lembramos nesse evento. Mas o deve ser em santidade, para que recebamos os benefícios dessa instituição[4] e não a condenação por participarmos sem consciência do seu significado e manchados pelo pecado. Supliquemos, ao Senhor, vivificação[5], para que possamos participar desse momento sublime:

Tu, que sobre a amarga cruz
Revelaste teu amor;
Tu, que vives, ó Jesus,
Vivifica-nos, Senhor!

Vem! Oh! Vem, Jesus Senhor,
Nossas almas despertar!
Com teu santo e puro amor,
Vem, Senhor, nos inflamar!
Oh! Vem! Oh! Vem Nossas almas inflamar!

Eis o mundo tentador
A querer nos atrair;
Sem teu fogo abrasador,
Não podemos resistir.

Quantos que corriam bem,
De ti longe agora vão!
Outros seguem, mas, também,
Sem fervor vivendo estão.

Vem agora consumir
Tudo quanto, ó Salvador,
Quer altivo resistir
Ao teu brando e santo amor.
(Letra: Henry Maxwell Wright, 1914 - inspirado em: Charles William Fry, 1837 – 1882 Música: da coleção "Salvation Army Music")






[1] MACARTHUR, John. Doze homens comuns. A experiência das primeiras pessoas chamadas por Cristo ao discipulado. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2011 (2ª ed.). Pp.181-184.
[2] Confissão de Fé de Westminster. DA CEIA DO SENHOR. Cap. XXIX.VIII
[3] Ibid. XXIX.II
[4] Ibid. XXIX.I
[5] Hino nº 132 do Hinário Novo Cântico (Igreja Presbiteriana do Brasil)

Nenhum comentário:

Postar um comentário