sexta-feira, 4 de maio de 2012

Proto-Evangelho: Maria ou Cristo, Sobre quem é a promessa?

Uma das marcas da verdadeira pregação evangélica é encontrar no texto o seu sentido cristológico. Para um pregador da palavra é impossível enxergar o texto sacro sobre outra perspectiva a não ser a perspectiva de Cristo, no que diz respeito a sua pessoa e obra.
Quando falamos sobre pregação cristocentrica no novo testamento parece-nos algo fácil de identificar, uma vez que é no novo testamento, a partir dos evangelhos, que temos a imagem de Cristo presente de maneira clara. Essa é a concepção comum sobre Cristo entre os cristãos atuais.
Entretanto, não podemos concordar com a visão de que Cristo é revelado somente no Novo testamento, como se as páginas do Antigo testamento para nada mais valessem nesse sentido. Desde as épocas dos primeiros pregadores da Igreja, i.e., o próprio Jesus e os apóstolos, o AT tem sido utilizado como base das pregações cristológicas, por ser ele quem dá a base daquilo que vimos se cumprir na pessoa de Jesus. Sem olharmos para o AT e vermos todas as promessas feitas sobre a vida e obra do messias na Cruz, não teríamos como compreender a validade daquilo que ele mesmo realizou na cruz do calvário, pois todas e cada uma das promessas demonstram aspectos de sua obra, desde a encarnação sobre a forma de homem, até seu sofrimento e morte (Is 53) para que pudesse trazer paz (Is 7) e justiça (Ml 4) da parte de Deus.
Dentre os vários textos utilizados como promessas a cerca do messias no o AT temos aquele que, atualmente, é considerado o primeiro, chamado de proto-evangelho, que é Gn 3.15. Com base nesse texto, os cristãos defendem que ali está descrito em rápidas palavras como se daria o resgate providenciado pelo pecado do homem original, Adão, após a desobediência contra a ordem divina. Ao proferir palavras de juízo contra a serpente por ter induzido a mulher ao erro e esta, por sua vez, levar o homem ao pecado, Deus faz a seguinte afirmação à serpente: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.[1]”.
No cristianismo, de um modo geral, esta passagem tem sido aceita como a primeira referência ao plano de salvação e redenção que o Criador propiciou para que o homem pudesse retornar ao seu estado anterior a queda, quando este tinha plena comunhão com o seu criador. Porém, no catolicismo romano há referências a outra pessoa além de Cristo. Para a igreja católica romana, como doutrina da Igreja, é visto que em Gn 3.15 há uma referência quanto à vida e obra[2] de Maria, que segundo a tradição católica, é a nova Eva que veio, a semelhança de seu filho, cumprir de maneira perfeita o que Eva não pôde fazer quanto à obediência plena e total aos mandamentos de Deus. Segundo a corrente católica, assim como há referências de Cristo no AT, há também referências quanto a Maria em todas e em cada uma das partes do AT. Mas, ao nos ater especificamente ao proto-evangelho, precisamos nos perguntar: de quem o texto realmente fala? Quem de fato está prometido no nas palavras de sentença contra a serpente, mas de redenção ao homem caído em adão?

Maria ou Cristo?

Como dito anteriormente, a interpretação católica concorda com a interpretação cristocentrica de Gênesis 3.15, pelo menos num primeiro aspecto. Segundo o catecismo deles, não há dúvidas de que Cristo está prometido ali para que viesse esmagar a cabeça da serpente e restabelecer o que outrora fora perdido no ato de desobediência de Adão. Isso fica claro ao lermos:
Depois da queda, o homem não foi abandonado por Deus. Ao contrário, Deus o chama e lhe anuncia de modo misterioso a vitória sobre o mal e o soerguimento da queda. Esta passagem do Gênesis foi chamada de ‘proto-evangelho’, por ser o primeiro anuncio do Messias redentor, a do combate entre a serpente e a Mulher e a vitória final de um descendente desta ultima.
A tradição cristã vê nesta passagem um anúncio do “novo Adão”, que, por sua “obediência até a morte de Cruz” (Fl 2.8), repara com superabundância a desobediência de Adão.[3]
Dentro da perspectiva cristã de que o a sentença/profecia contida ali fala sobre Cristo, não há, aparentemente, nenhuma disparidade entre o texto da confissão católica e a crença evangélica de que ali é uma referencia direta da pessoa de Jesus. Entretanto, o próprio texto já demonstra um pressuposto sobre a importância de Maria quando declara que a profecia é sobre o “Messias redentor” e “do combate entre a serpente e a Mulher” e quando acrescenta de que esta é uma profecia acerca da “vitória final de um descendente desta ultima”. Percebam que na própria escrita do texto, a Mulher é posta num pé de igualdade com o Messias quando é descrito ambos com a primeira letra maiúscula. Mas a continuação demonstra a importância da Mulher ao dizer:
De resto, numerosos Padres e Doutores da Igreja vêem na mulher anunciada no ‘proto-evangelho’ a mãe de Cristo, Maria, como ‘nova Eva’. Foi ela que, primeiro, de uma forma única, se beneficiou da vitória sobre o pecado conquistada por Cristo: ela foi preservada de toda mancha do pecado original e durante toda a vida terrestre, por uma graça especial de Deus, não cometeu nenhuma espécie de pecado.[4]
Fica evidente que na visão católico romana ali está prometido não apenas um redentor para a humanidade que outrora caiu no pecado, mas uma nova “mãe de todos os homens” que é o meio pelo qual Deus enviaria seu redentor ao mundo para estabelecer uma retomada da ordem perdida com o pecado do homem. O Texto da confissão deixa claro que Maria se beneficiou da obra de seu filho sobre aquela cruz, mas ela era diferente de todas as mulheres por ser ela aquela de quem o messias viria. Mas de quem o texto, de fato, fala? De Cristo ou de Maria, a “nova Eva”?
Em um documento da Igreja Católica, escrito pelo Papa Bento XVI temos a seguinte declaração quanto ao Proto evangelho, que corrobora para a afirmação de que, dentro da comunidade católica, Maria é superior a Cristo:
11. O Livro do Gênesis atesta o pecado, que é o mal do « princípio » do homem, as suas consequências que desde então pesam sobre todo o gênero humano, e juntamente contém oprimeiro anúncio da vitória sobre o mal, sobre o pecado. Provam-no as palavras que lemos emGênesis 3, 15, habitualmente ditas « Proto-Evangelho »: « Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a dela; esta te esmagará a cabeça enquanto tu te lanças contra o seu calcanhar ». É significativo que o anúncio do redentor, do salvador do mundo, contido nestas palavras, se refira à « mulher ». Esta é nomeada em primeiro lugar no Proto-Evangelho como progenitora daquele que será o redentor do homem. (34) E se a redenção deve realizar-se mediante a luta contra o mal, por meio da « inimizade » entre a estirpe da mulher e a estirpe daquele que, como « pai da mentira » (Jo 8, 44), é o primeiro autor do pecado na história do homem, esta será também a inimizade entre ele e a mulher.[5]
Como já asseverado anteriormente, não há dúvidas de que este texto seja uma referência direta ao messias. Comentando este verso, o comentário Bíblico Moody  torna claro o real sentido do texto e a mudança que causou a interpretação católica de que o texto trata sobre Maria:
[...] A promessa de Deus de que a cabeça da serpente seria esmagada apontava para a vinda do Messias e a vitória garantida. Esta incerteza entrou pelos ouvidos das primeiras criaturas de Deus como uma bendita esperança de redenção. Uma tradução infeliz da Vulgata muda o pronome lhe (dele, v. 15c) para o feminino, fornecendo apoio espúrio para as reivindicações infundadas relativas à ‘Bendita Virgem Maria’[6].
Desse modo, é evidente que o texto está tratando sobre a semente que viria da mulher, i.e., o messias redentor e não sobre a mulher que seria instrumento para que o redentor chegasse até a humanidade. Mas surge então uma pergunta a esta altura. Como que os católicos conseguem ver Maria no texto em questão?

O problema do pressuposto

Um dos problemas que levam os romanistas a enxergarem Maria na revelação do proto-evangelho, bem como procurar tipos de Maria no AT são os pressupostos de que Jesus não seria quem foi, se não viesse por meio de Maria.
Mas uma pergunta que podemos fazer é: O que são pressupostos? Talvez uma resposta bem simples, e que nos cabe para o momento, seria dizer que os pressupostos são as lentes pelas quais nós enxergamos o mundo ao nosso redor e tudo o que nele há. Com base nisso, ao nos aproximarmos dos textos bíblicos também carregamos essas lentes com as quais, inicialmente, fazemos leituras com elas e enxergamos o que elas nos possibilitam enxergar.
Quando defendemos que o evangelho todo fala sobre Cristo, seja o AT ou o NT, fazemo-lo por causa de nossos pressupostos cristocentricos que nos ajudam a perceber que Cristo está descrito em todas e em cada uma das páginas das Escrituras. Por essa razão, quando nos aproximamos do AT, vemos o plano de Deus sendo traçado na história. Esse é o que chamamos de pressuposto cristológico. Nesse sentido, ANGLADA nos ajuda ao afirmar:
O princípio cristológico ou cristocentrico reformado de interpretação das Escrituras afirma que Cristo é a chave para a interpretação da Bíblia, porquanto toda ela, inclusive o Antigo Testamento, se refere a ele, se concentra nele e dá testemunho dele. O Antigo e o Novo Testamento apresentam dois atos de uma mesma história escrita por Deus, que tem Cristo como principal protagonista. Dificilmente se pode compreender o significado de uma cena dessa história ou o lugar de outros protagonistas ou antagonistas, interpretando-os a parte dos seus lugares e papéis no enredo e das suas relações com o protagonista principal.[7]
Assim sendo, ele define que todos os outros personagens da narrativa bíblica têm valor, mas somente quando corroboram com a história da redenção definida pelo próprio Deus que é quem escreve essa história ao longo do tempo.
Se partirmos dessa verdade e a usarmos como nossa chave hermenêutica, ao nos aproximarmos do texto de Gn 3.15 veremos claramente o Filho sendo revelado ali. Porém, se ao lugar de cristo nós atribuirmos Maria e nos aproximarmos do texto procurando o sentido Mariano, vamos enxergar apenas a “nova Eva” sendo prometida ali. Tudo depende das lentes que utilizarmos para tal leitura.

Maria, Mãe de Deus

A grande maioria das pessoas, sendo elas de tradição católica ou não, conhecem ou já ouviram a reza que fala sobre Maria. Ela traz a seguinte expressão: Avé Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco. Bendita sois vós entre as mulheres; bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amém”[grifo nosso][8]. No seu teor a reza chama Maria de “mãe de Deus”. Interessantemente essa expressão é verdadeira em suas palavras, mas não no mesmo sentido que a igreja romana lhe aplica.
A primeira vez que expressão “mãe de Deus” foi utilizada foi por ocasião do concilio que respondeu às heresias de Nestório que afirmava que, uma vez que Jesus não era Deus em sua essência, Maria não poderia ser “theotokos” e sim “Christotokos”[9], i.e., não poderia ser “mãe de Deus”, mas sim “mãe de Cristo”, sendo este ultimo apenas um homem. Quando o concílio responde utilizando o termo Theotokos, o faz não para afirmar a superioridade de Maria, pois este não era o motivo de discussão naquele momento, mas o faz para estabelecer a divindade superior de Cristo enquanto Deus.
Por causa dessas terminologias, temos alguns problemas tanto para cristãos católicos quanto protestantes[10]. Os católicos afirmam que Maria é Theotokos por ser mãe de Deus, no que diz respeito à Jesus em sua divindade e não da trindade como um todo. Mas, ao fazê-lo, confere a Maria uma divindade que não lhe pertence. Entretanto, quando um protestante confere a Maria o título de “Theotokos”, por causa de seus pressupostos cristocentricos, o faz para afirmar a divindade de Cristo, ao recorrer à definições dos antigos concílios quando estes estavam sofrendo penosos e danosos ataque no que diz respeito á natureza de Cristo.
Ao recorrerem aos pais da Igreja para defender a expressão “mãe de Deus” dando honras à Maria, os católicos cometem um erro cabal ao desassociar a expressão de seu contexto histórico, pois, ao ser analisado, faz com que o argumento católico caia por terra.

Gn 3.15: A mensagem do proto-evangelho

Uma vez já tratado sobre as lentes que fomentam a nossa visão sobre o texto e uma vez estabelecido o sentido da expressão “Mãe de Deus”, precisamos entender qual, de fato, é a mensagem contida na profecia em questão. Vamos ao que ele diz: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.[11]” [grifo nosso]. Comentando este texto, o comentário bíblico Moody diz:
[...] temos nesta famosa passagem, chamada protoevangelium, “primeiro evangelho”, o anúncio de uma luta prolongada, antagonismo perpétuo, feridas de ambos os lados, e vitória final para a semente da Mulher. A promessa de Deus de que a cabeça da serpente seria esmagada, apontava para a vinda do messias e a vitória garantida. Esta certeza entrou pelos ouvidos das primeiras criaturas de Deus como uma bendita esperança de redenção.[12]
Já Derek Kidner, comentando este mesmo versículo, nos diz:
O novo testamento dá boa autorização para ver-se aqui o protoevangelium, o primeiro vislumbre do evangelho. O notável é que faz sua estréia em termos de uma sentença passada ao inimigo (cf. Cl 2.15), não de uma direta promessa ao homem, pois a redenção tem que ver com o governo de Deus bem como com a necessidade do homem (Cf. Ez 36.22, “Não é por amor de vós...”). a perspectiva de luta, sofrimento e triunfo humano é evidente, mas somente o novo testamento desmascarará o vulto de satanás por trás da serpente.(Rm 16.20; Ap 12.9; 20.2) e mostrará quão significativa foi a transferência de Adão para a mulher e sua semente (Cf. Mt 1.23; Gl 4.4; 1 Tm 2.15). A semente da mulher, como a de Abraão, é tanto coletiva (Cf. Rm 16.20) como individual, na luta decisiva, (Cf. Gl 3.16), desde que Jesus, como o ultimo adão, sintetizou em Si próprio a humanidade. O pronome pessoal “ele”, permitido mas não exigido pelo hebraico, tem um precedente pré-cristão na LXX aqui.[13]
De acordo com Kidner, podemos concluir, então, que a luz do NT, o verso 15 de Gênesis 3 fala exclusivamente de Jesus e de sua obra. Vamos, então, ver quais as afirmações estabelecidas em Gn 3.15.
Nesse verso nós temos o primeiro anuncio do plano de redenção que Deus estabeleceu para salvar o homem. Se observarmos atentamente o contexto, veremos que esta promessa, num primeiro instante, é uma ameaça direta a satanás que estava na forma de serpente. Embora Deus esteja prometendo redimir o homem, Ele está afirmando sua autoridade e supremacia e mostrando a satanás aquilo que Jó reconhece ao fim de seu sofrimento: “Bem sei que tudo podes e nenhum dos teus planos pode ser frustrados” (Jó 42.2). Nas palavras divinas é o poder e o trono de satanás que está sendo ameaçado. Mas observemos os pontos em destaque
1.      Deus é quem está conduzindo e determinando tudo: Vemos aqui que é Deus quem diz à serpente que ele mesmo colocará uma inimizade entre o descendente da mulher e ela. Não seria uma coisa do acaso. Não seria uma tendência “natural”. Seria algo que já estava previsto nos planos de Deus. A Confissão de Fé de Westminster nos diz:
I.               Desde toda a eternidade, Deus, pelo muito sábio e santo conselho da sua própria vontade, ordenou livre e inalteravelmente tudo quanto acontece, porém de modo que nem Deus é o autor do pecado, nem violentada é a vontade da criatura, nem é tirada a liberdade ou contingência das causas secundárias, antes estabelecidas.[14]

Desse modo, fica claro e evidente que Deus foi quem estabeleceu todas as coisas e, por esta razão, o envio do redentor foi estabelecido pelo próprio Deus.e a CFW completa esta linha dizendo:
II. Ainda que Deus sabe tudo quanto pode ou há de acontecer em todas as circunstâncias imagináveis, ele não decreta coisa alguma por havê-la previsto como futura, ou como coisa que havia de acontecer em tais e tais condições. [15]
Assim sendo, fica evidente que Deus não previu o que iria acontecer e por isso prometera o redentor, mas ele mesmo é quem decide fazer todas as coisas da maneira como são, i.e., ele decide estabelecer um redentor para refazer aquilo que o primeiro homem rompera com sua desobediência. Neste trecho não há espaço para Maria, já que até a concepção de Jesus por meio dela, fora estabelecido pelo próprio Deus.
2.      Da mulher nasceria aquele que iria representar a humanidade: uma vez que a estipulação do primeiro pacto foi transgredido pelo homem[16], do próprio homem deveria vir àquele que restabeleceria a ordem natural criada por Deus, de obediência e vida. Paulo expande esta visão quando, em Romanos 5, demonstra claramente a visão de restauração da ordem da humanidade no segundo Adão que trouxe-nos a vida, no mesmo molde que o primeiro Adão perdeu. O Primeiro perdeu por falta de obediência, o segundo, vindo da mulher, restaurou por causa dessa obediência. É inegável que é neste ponto que temos a profecia de que o Redentor viria. É na pessoa desse Redentor que todos nós seríamos, como de fato somos, representados para dar a paga a Deus pela desobediência de nosso primeiro representante. É impossível entender este ponto sem observar as nuanças cristológicas e sem lançar mão de Romanos 5.
Entretanto, como visto anteriormente, Deus escolhe a mulher para que dela venha o messias. É aqui que residem os problemas com os católicos pois é neste trecho que vemos eles inserindo Maria, como sendo superior ao próprio Cristo, uma vez que é por meio dela que o Redentor viria a este mundo com a finalidade de trazer ordem ao mundo que estava em caos.
3.      Este descendente feriria definitivamente o inimigo do homem: o texto é claro ao utilizar o pronome demonstrativo “este” falando sobre quem feriria a serpente. O texto hebraico costuma utilizar pronomes separados das palavras. Mas sempre que utiliza um pronome demonstrativo, isto significa que o que vem a seguir merece destaque, ênfase[17]. Sendo assim, elimina-se a possibilidade de qualquer outro substitutivo para ferir e destruir completamente o inimigo do homem e ser seu redentor, pagando pelos seus pecados. A esta altura, alguém poderia pensar “mas então, o que significou o sacrifício por expiação praticado durante o período do AT?”. A resposta é simples, apenas apontava para esse descendente que é o único capaz de destruir as forças desse inimigo.
Ao falar sobre “ferir definitivamente”, entendemos que aqui Deus, o providenciador do necessário para que o homem voltasse a ter comunhão com Ele, está descrevendo a morte da morte na morte de Cristo, como bem escreveu John Owen[18], ou seja, está descrevendo a morte do inimigo que outrora fora o causador de todo este problema. Nessa batalha épica não há espaço para Maria, já que nem mesmo ela poderia se auto-salvar, quanto mais salvar os demais homens.
4.      Este descendente do homem pagaria um preço para restabelecer essa ordem: Uma vez que era o próprio Deus quem estava estabelecendo essa inimizade natural entre o homem e a serpente, ele também prediz que o descendente do homem que iria ferir a serpente não iria vencer de maneira fácil do ponto de vista humano. A serpente lhe feriria o calcanhar. Ali também estava sendo predito o modo como este descendente venceria a serpente. Ele feriria a serpente de maneira definitiva, mas seria ferido de morte pela serpente. Isso fica claro quando olhamos os demais textos sacros que nos dizem que “sem derramamento de sangue não há remissão de pecados” (Hb 9.22) e que “o salário do pecado é a morte” (Rm 6.23). Embora Cristo não tivesse e não tenha pecado, ele fez-se maldito em nosso lugar (Gl 3.13). Portanto, teria de morrer em nosso lugar para que pudéssemos receber o perdão. Um preço precisava ser pago e ele pagou. Mas, diferente do que a serpente esperava, ele não foi vencido pela morte, mas ressuscitou e é porque ele venceu a serpente que nele nós podemos vencer também. Não há como crer que Maria pagaria um preço para que estabelecer essa ordem, excetuando sua dor como mãe, descrita em Lc 2.35 quando esta leva o menino Jesus ao templo e lá ouve a profecia e o testemunho de Simeão. Porém, mesmo com essa dor descrita ali, em nada se compara com a dor do messias para pagar o preço dos nossos pecados.

Conclusão: Maria ou Cristo?

De acordo com o que vimos ao longo deste trabalho, precisamos retornar à pergunta feita no início: De quem estas profecias estão falando? De Maria ou de Cristo? Fica evidente que o texto trata a respeito das profecias que se cumpriram na obra do Redentor, que definitivamente não foi Maria.
O grande problema dos católicos é que, ao utilizarem lentes erradas para visualizar o mundo, não se propõem a observar o que de fato é dito nas escrituras, mas apenas procuram enxergar no texto aquilo que querem. Por se aproximarem do texto com pressupostos marianos, não conseguem observar as verdades estabelecidas pelos textos e vêem apenas Maria, já que segundo a tradição, ela é a mais importante das pessoas presentes em toda a história da revelação bíblica.
Entretanto, de acordo com o texto analisado, não há como enxergarmos outra pessoa se não o messias prometido, sua obra e seu sofrimento. Já que entendemos que o evangelho é cristocentrico e, portanto, fala somente do redentor em todas as suas páginas. De acordo com esse princípio hermenêutico, ao nos aproximarmos do texto, seja ele neo ou veterotestamentário precisamos encontrar Cristo e a história da redenção. Ao nos aproximarmos do texto com esses pressupostos, não há como não ver Cristo e sua obra na sentença contra satanás, a Antiga serpente (Ap 12) e a batalha épica entre esses dois, mas com a vitória certa do Messias, o Cristo da parte de Deus. Definitivamente, este texto fala exclusivamente de Cristo.

[1] Versão ARA
[2] Por obra queremos dizer o ato de ser a progenitora do messias prometido.
[3] (Edições Loyola, 2000, p. 117)
[4] (Edições Loyola, 2000, p. 117)
[5] (Bento XVI, 2006)
[6] (Imprensa Batista Regular, 1984)
[7] (Anglada, 2006, p. 179)
[8] (Mary of God)
[9] (WebArtigos)
[10] (Blog do Seino, 2010)
[11] Versão ARA
[12] (Imprensa Batista Regular, 1984, p. 11)
[13] (Mundo Cristão, 1981)
[14] (Monergismo)
[15] (Monergismo)
[16] Por homem, entenda humanidade
[17]  (Kelley, 2009)
[18] (d'Eçá, 2011)

Bibliografia

Anglada, P. R. (2006). Introdução à hermenêutica reformada:Correntes Históricas, Pressuposições, Princípios e Métodos Lingüísticos. Ananindeua: Pará.
Bento XVI. (04 de Julho de 2006). Homilia 2011. Acesso em 08 de Novembro de 2011, disponível em Vaticano: Santa Sé: www.vatican.va/.../apost_letters/documents/hf_jp-ii_apl_15081988_mulieris-dignitatem_po.html - 152k - 2006-07-04
Blog do Seino. (01 de Janeiro de 2010). Blog do Seino: Theotokos ou Christotokos? Acesso em 04 de Novembro de 2011, disponível em Blog do Seino: http://blogdoseino.blogspot.com/2010/01/theotokos-ou-christotokos.html
d'Eçá, j. (22 de Abril de 2011). A morte da Morte na morte de Cristo. Arpud John Owen Obra homónima. Acesso em 08 de Novembro de 2011, disponível em João d'Eçá: http://joaodeca.blogspot.com/2011/04/morte-da-morte-na-morte-de-cristo.html
Edições Loyola. (2000). Catecismo da Igreja Católica: Edição Típica Vaticana. São Paulo: Edições Loyola.
Imprensa Batista Regular. (1984). Comentário Bíblico Moody: Gênesis à Apocalipse. São Paulo: Imprensa Batista Regular.
Kelley, P. A. (2009). Hebraico Bíblico: Uma gramática Introdutória. São Paulo: Sinodal.
Mary of God. (s.d.). Ave Maria in LanguagesAcesso em 08 de Novembro de 2011, disponível em Mary   of god: http://www.ourladyweb.com/mary-avemaria.html
Monergismo. (s.d.). Confissão de Fé de Westminster. Acesso em 04 de Novembro de 2011, disponível em   Monergismo.com: http://www.monergismo.com/textos/credos/cfw.htm
Mundo Cristão. (1981). Série Cultura Bíblica (Vol. 1). São Paulo: Mundo Cristão.
WebArtigos. (s.d.). A Heresia do Nestorianismo no século V. Acesso em 08 de Novembro de 2011, disponível em WebArtigos: http://www.webartigos.com/artigos/a-heresia-do-nestorianismo-no-seculo-v/9196/



Um comentário:

  1. Ao dizer que "É aqui que residem os problemas com os católicos pois é neste trecho que vemos eles inserindo Maria, como sendo superior ao próprio Cristo", você incorre na falácia do espantalho.
    A fé Católica em momento algum coloca Nossa Senhora acima de Cristo. Essa interpretação, amigo, é a que os protestantes erroneamente atribuem à Igreja. Sugiro que você busque verdadeiramente estudar o que afirma o Credo Apostólico (sugiro, para tanto, os cursos do Padre Paulo).
    É uma oportunidade para sair do erro que você está (ainda que de boa-fé).

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