sábado, 3 de setembro de 2016

André - O Apóstolo das pequenas coisas.

(Texto Base: Jo 1.40-42)[1] [2]
André, o irmão de Pedro, era excepcional em todos os sentidos. Diferente de seu irmão, não era falastrão – nunca lemos relatos diretos de suas palavras em nenhum dos evangelhos nem no livro de Atos – nem agia de forma precipitada como àquele.
Ele era um membro do grupo mais íntimo entre os doze, pertencendo ao mesmo grupo que seu Pedro. Contudo, mesmo pertencendo a este grupo, ele não é incluído nos relatos de acontecimentos cruciais, como alguns dos quais são citadas as presenças de Pedro, Tiago e João (Mt 17.1; Mc 5.37; 14.33). Ainda assim, ele possuía um relacionamento íntimo com Jesus e apresentou muitas pessoas diretamente ao Mestre.
Pedro e André eram naturais de Betsaida (Jo 1.44), vila próxima de Cafarnaum, para onde foram quando já eram pescadores profissionais a fim de conduzirem seu próprio negócio[3]. Lá, moravam próximos de Tiago e João, seus possíveis amigos de infância e que também eram pescadores. Os quatro, apesar de ainda não terem encontrado a Jesus pessoalmente, eram já altamente interessados em manter uma regularidade na vida Espiritual. Prova disso é que eles viram a Jesus pessoalmente quando ainda eram discípulos de João Batista (Jo 1.35-42), no deserto. Esse, provavelmente foi o momento em que eles haviam tirado o ano sabático, previsto na Lei de Moisés, para finalidade de dedicarem-se integralmente à YHWH[4]. Apesar disso, André, era extremamente diferente de seu irmão em seus atos e em suas características pessoais.

1 – O DISCÍPULO “MENOS CONHECIDO” DE SEU GRUPO

Desse grupo mais íntimo e pessoal do Senhor Jesus, André, sem sombra de dúvidas, era o menos conhecido deles. As poucas vezes em que seu nome é citado é procedido da informação de que ele era irmão de Pedro, como se essa informação fosse a importância ou destaque que lhe era conferido.
Enquanto os demais de seu grupo tinham um destaque maior, o seu nome aparece apenas nove vezes no novo testamento (afora a listagem com o nome dos doze) e a maioria dessas vezes ele é apenas mencionado. Ele estava pronto para exercer um ministério nos bastidores, pois nenhum texto o destaca diretamente em atos e feitos que, diríamos, ter sido extraordinários. Mas isso não fê-lo menor, embora ele seja bem menos conhecido do que seu irmão. Enquanto Pedro era eloquente e falava demais, André era mais calado e apenas testemunhava. Enquanto Pedro era cheio de atitudes, André era mais quieto e seus atos eram menos chamativos aos olhos dos demais, mas era igualmente útil ao Senhor, principalmente quando, junto dos demais, herdou a missão de propalar as boas novas de salvação (At 1.8).

2 – ELE ENXERGAVA O VALOR DAS PESSOAS COMO INDÍVIDUOS.

O primeiro relato que as Escrituras fazem de André definem bem suas características pessoais, como também as características de seu ministério. Ao ouvir falar de Jesus e conhecê-lo, ele foi imediatamente à Simão, seu irmão, a fim de que este conhecesse a Jesus pessoalmente.
O evangelho de João nos mostra como foi sua conversão. Ele, junto o discípulo não identificado – a Igreja, desde os dias “dos pais da Igreja”, aceita a identificação de que o autor do evangelho e o discípulo apenas identificado como “aquele a quem Jesus amava” eram a mesma pessoa[5]. Logo, o discípulo que estava com André era o próprio João – estavam ouvindo os ensinos de João Batista, primo de Jesus a respeito do verdadeiro Messias, quando viram-no apontar ao Mestre e lhes dizer: “Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29). No dia seguinte, João repete seu testemunho e eles vão atrás de Jesus para aprenderem Dele. Quando passam a tarde e a noite em comunhão e aprendizado com Jesus, reconhecem ser ele o verdadeiro Messias (Jo 1.29-39). A partir daquele instante, a primeira coisa que Ele fez não foi terminar as coisas de sua vida, não foi aproveitar ao máximo suas forças e apenas frequentar as reuniões onde Jesus ensinava, muito menos foi primeiro preparado teologicamente para poder ensinar. Muito menos esperou que colocassem sobre ele as mãos ou que lhe dessem algum cargo de importância entre o grupo de seguidores do Messias[6]. O texto deixa claro que, ao reconhecer que aquele homem era verdadeiramente Jesus, ele foi imediatamente chamar a Pedro e apresentou o Cristo primeiramente a seu irmão para que ele também conhecesse, reconhecesse e seguisse àquele que era o cumprimento das profecias veterotestamentárias. Essa era a marca do ministério pessoal de André.
André, a semelhança de Pedro, Tiago e João, também fora chamado por Jesus para ser pescador de homens (Lc 5.1-11). E ele dedicou-se integralmente para cumprir com esse chamado longe dos holofotes. Ele não levou grandes multidões duma vez ao pleno conhecimento de Cristo, como Pedro em suas pregações registradas em Atos (At 2.14-41; 3.11-26). Mas “apreciava plenamente o valor de uma alma[7]”, fosse para conhecer pessoalmente a Jesus, fosse para explorar a ajuda que cada indivíduo tinha para contribuir com a obra. Lembremos de que fora André quem apresentou um menino a Jesus com a finalidade de alimentar a multidão quando da multiplicação de pães e peixes (Jo 6.9).
André não pensava duas vezes antes de apresentar alguém a Jesus. João 12.20-22 no fala que alguns gregos ouviram falar do Mestre e quiseram conhece-lo, indo até Filipe. Isso era significativo. Mas o fato de Filipe conduzi-los até André era tão importante e surpreendente quanto. André era a pessoa certa para levar “desconhecidos” à presença de Jesus. Ele sabia como fazê-lo de modo natural e sabia que Jesus nutria interesse pessoal nessa situação específica. Ele não ficava confuso ou perdido nessas situações. Ele foi o primeiro missionário em sua casa, ao levar Pedro até Jesus e foi o primeiro missionário transcultural, pois levou os gregos, i.é., gentios ao Senhor.
Tanto Pedro quanto ele tinham ardor pela pregação da palavra e anuncio sobre o reino de Cristo. Contudo, enquanto Pedro fora chamado para as multidões, André fora chamado aos indivíduos. E isso não era menos importante. Lembremos de que foi André quem apresentou Jesus a Pedro. Portanto, todo e qualquer fruto do ministério Petrino, arrastando multidões, era, indiretamente, frutos do ardor de André. O pregador de multidões, que foi instrumento na conversão de quase 5 mil pessoas em dois discursos apenas, foi evangelizado individualmente pelo simples pregador de pequenas quantidades: André.

3 – ELE ENXERGAVA O VALOR DAS DÁDIVAS INSIGNIFICANTES.

Muitas pessoas se perdem por não conseguirem apreciar os pequenos detalhes e de não saber administrar os poucos recursos como sendo os mais preciosos nas mãos do Senhor. André era o oposto desta descrição por ser o homem que via não apenas o valor das pessoas individualmente, mas, também, por explorar os parcos recursos sabendo que, nas mãos de Cristo, se tornariam exatamente aquilo que precisavam.
No relato da multiplicação de pães e peixes registrada por João (Jo 6.1-15) temos exatamente uma situação como esta. Jesus havia se retirado para um monte a fim de orar e descansar da multidão aflita que o seguia para aprenderem de suas palavras. De algum modo não descrito nos relatos dos evangelistas, uma multidão descobriu onde ele estava e foram até ele a fim de ouvirem-no novamente. Jesus, que iria usar “pão” como ilustração do seu sermão sobre si mesmo e, também, alimentar a multidão de forma física, ordenou aos discípulos que comprassem pão. Os discípulos estavam apenas com duzentos denários, que não dava para alimentar toda aquela imensa multidão de quase cinco mil pessoas. Sabedores de que aquilo seria impossível, começam a indagar como e onde iriam, aquela altura, arrumar os pães que Jesus pedira. André foi aquele que anunciou, apesar de saber dos parcos recursos em mãos, que havia um menino de posse de cinco pães e dois peixinhos.
A ordem era clara: Eles tinham de alimentar aquela multidão. André sabia que Jesus jamais daria uma ordem daquelas sem que fosse possível torna-la real. Por isso, fez o que sabia fazer: levou o menino aos pés de Jesus para que este o conhecesse e operasse seu poder com os recursos que havia. Este discípulo havia compreendido mui claramente que poucos recursos podem tornar-se todo suficiente nas mãos do Senhor. Com aqueles cinco pães e dois peixes, a multidão fora alimentara e ainda sobraram. Ele aprendeu que não importa a quantidade existente, mas sim o desejo de servir ao Senhor com o melhor do que se possui e o Senhor opera maravilhas com esses recursos. Nenhuma dádiva é insignificante nas mãos de Deus.
Jesus ensinou essa realidade aos discípulos quando falou da oferta da viúva pobre. Jesus não necessitava de nenhum daqueles elementos para manifestar seu poder ou para alimentar aquela multidão. No Antigo testamento[8], o Senhor já havia manifesto tal ação e poder quando fez cair maná do céu para alimentar o povo de forma que, durante a peregrinação no deserto, jamais faltou pão (Dt 2.7), ou quando alimentou o profeta Elias e a viúva de sarepta com pouquíssimos recursos (1Rs 17.8-16). Fazê-lo naquele instante o mesmo feito, lhe era fácil. Mas o Senhor “toma as dádivas sacrificiais e insignificantes das pessoas que contribuem fielmente e as multiplica[9]” e delas ou com elas faz coisas extraordinárias.

4 – ELE ENXERGAVA O VALOR DO SERVIÇO DISCRETO.

Como já dito, André não ficava em evidência, nos holofotes, como seu irmão Pedro. Diferente deste e de seus amigos Tiago e João, André não fazia questão de estar em evidência e nem ficava preso em discussões vazias como quem seria o primeiro, mais importante ou quem se assentaria ao lodo de Jesus quando da manifestação de Seu Reino. As passagens neotestamentárias que o destacam, sempre dizem que ele estava levando alguém até Jesus. E, para ele, isso era o mais importante.
Longe de qualquer pretensão de sua parte, ele nunca quis ficar em evidência. Atos, que conta a história dos apóstolos depois da ascensão de Jesus, não o cita, exceto quando antes do pentecostes. Não há nenhuma carta escrita por ele, nenhuma igreja diretamente fundada por ele da qual tenhamos ciência. Mas isso não diminuiu o Seu valor diante de Deus.
Tanto quanto seu irmão Pedro, foi um homem usado por Deus e um privilegiado: Foi o primeiro a ouvir o testemunho de João Batista sobre Jesus; foi o primeiro a seguir o Cristo; foi o primeiro a levar alguém até Jesus; fez parte do grupo mais íntimo do Salvador; seu nome, assim como os demais, será gravado nas fundações da cidade santa. Seu serviço pouco visto o tornou o que, de fato, ele era: um instrumento usado pelo Senhor.

5 – SUA MORTE.

Conta-nos a história de que ele morreu, como os seus companheiros, perseguido por causa do nome do Senhor. A Tradição nos conta que ele foi pregar o evangelho no norte (por isso é o padroeiro da Escócia e esse país leva a cruz que recebeu seu nome, como símbolo de sua bandeira). Lá, pregou para a esposa de um governador provincial romano que exigiu o abandono fé que, agora, ela professava. Ao recusar fazê-lo, seu esposo ordenou a morte de André.
Como prêmio por sua fidelidade ao Senhor, teve o privilégio de padecer e morrer por Cristo. Conta-nos a história de que ele foi levado a uma cruz em forma de “x” e lá ficou pendurado durante dois dias, pois não foi pregado e sim amarrado a ela para que sofresse mais, como castigo do imperador por pregar a fé em Jesus.
Seus seguidores da época, segundo Eusébio, grande historiador cristão da antiguidade, relataram que ele não temeu a morte, nem titubeou diante dela. Ao contrário, contaram que quando ele a viu, disse: “Muito desejei e esperei por esta hora. A cruz foi consagrada pelo corpo de Cristo pendurado nela[10]”. Preso a ela, enquanto ainda não havia expirado, continuou pregando o arrependimento e a fé em Jesus para a salvação, aos seus algozes e a todos quantos o viram e ouviram. Como em vida, sendo participante das ações de Cristo, na morte foi participante de seu sofrimento para, na ressurreição, ser participante de Sua glória.

CONCLUSÃO

André foi um discípulo peculiar. Não estava preocupado em arrastar grandes multidões ou em fazer coisas grandiosas. Sua preocupação era levar pessoas, o máximo que pudesse pregando individualmente, ao conhecimento do Redentor. Tinha plena consciência daquilo que Paulo exortara, anos depois, a Igreja de Corinto ao lembrar que “no Senhor, o vosso trabalho não é vão” (1Co 15.58). Ele não precisava aparecer, desde que a glória de Cristo aparecesse.
Ele também não se preocupava com os recursos. Aprendeu que não poderia se guiar pelas probabilidades ou pelo o que seus olhos podiam ver. Na prática, fez o mesmo que Habacuque ao confiar em Deus mesmo contra as possibilidades diante de seus olhos (Hc 3.17-19). Se Deus manifestasse o Seu poder, tudo seria possível (Lc 1.37).

APLICAÇÃO.

Existem pessoas que não gostam de estar na linha de frente e agem muito bem pelos bastidores. Porém, existem pessoas que ainda são guiadas pelo – maligno – desejo pelos holofotes e que só dedicam-se ao trabalho se seus nomes estiverem em evidência e se forem destacadas de alguma forma. A lição de hoje nos ensina que a importância está no trabalho e não na quantidade ou no destaque dele.
Existem pessoas que não ficam em evidência nunca e que, talvez, jamais ouçamos falar a seu respeito. Existem pregadores que são fiéis ao Senhor e não ganham fama nacional ou mesmo local. E esses são tão importantes quanto os que estão diante da multidão. Tão importante quanto pregar à quase cinco mil pessoas, foi pregar apenas para uma que se tornou um grande instrumento para a conversão de muitos.
Também aprendemos que pessoas de visão são aquelas que enxergam o poder de Deus em tudo e que não limitam a ação de Deus às circunstâncias. Talvez Deus não o (a) tenha chamado para uma obra de destaque. Talvez nem você o queira. Mas Deus pode usá-lo para grandes coisas, sem que você ganhe os louros da vitória. Como André, preocupe-se em levar pessoas a Jesus, ao invés de preocupar-se em aparecer diante das pessoas a quem Jesus coloca em sua frente.
Seja missionário de almas e não de multidões. Ore para que Deus lhe dê este ardor e dedicação para ocupar esta função. Talvez você não se veja pregando diante da Igreja para dezenas de pessoas, mas pode levar um amigo ou familiar a conhecer e reconhecer a necessidade que tem de Jesus. Dificilmente, hoje em dia, encontraremos pessoas que entram na Igreja e se convertem diretamente por pregações a multidões. Na maioria das vezes as pessoas vão à igreja por indicação ou convite de amigos e são, por elas, apresentadas a Jesus. Que tal lançar o desafio de apresentar um de seus amigos ou familiares ao Senhor do Universo? Que Deus lhe use tanto quanto usou a André nesse mister. Medite na letra do poeta e torne as palavras deste as suas, clamando para que participes da “Colheita Bendita[11]” e coloque-se à disposição do Senhor em Sua seara:

1 Ceifeiros somos nós, fiéis,
Ceifando para o Rei dos reis
Os frutos prontos a colher
Que em derredor se estão a ver.
Assim, a Cristo, o Salvador,
Rendemos preito de louvor,
Ao nosso Mestre lá no céu,
Que sobre a cruz por nós morreu.

Vamos nós obedecer! Vamos à colheita
Para quando anoitecer ver a obra feita.
Pouco tempo restará,
Breve o prazo acabará;
Breve, breve, breve acabará!

2 Nós trabalhamos por Jesus
Que para os campos nos conduz
E na seara imensa quer
Obreiros novos receber.
Ainda há muito o que fazer
E tanto fruto que colher!
Não ouves Cristo perguntar:
“Quem quer por mim ir trabalhar?”

3 Estão as horas a fugir;
O teu Senhor não tarda em vir.
Tu queres fruto ao céu levar
Ou folhas só apresentar?
Oh! não demores a atender,
A noite em breve vai descer.
Conosco toma o teu lugar
E por Jesus vem trabalhar!
                                       (C. H. Gabriel – A. Watson)


[1] Extraído e adaptado de MACARTHUR, John. Doze homens comuns. A experiência das primeiras pessoas chamadas por Cristo para o discipulado. São Paulo: Editora Cultura Cristã. 2011, 2ª Ed.
[2] Leituras complementares: D – Jo 1.35-42 André é o primeiro a seguir Jesus; S – Jr 1.4-10 Deus escolhe seus servos e os capacita; T – At 1.1-14 André obedece a ordem de Jesus sem relutar; Q – Lc 5.11 Chamado para ser pescador de homens; Q – 1Co 2.1-5 A simplicidade da pregação; S – Mt 5.11-12 Bem-aventurança na Perseguição; S – Mt 10.34-39 Quem perder a vida por Cristo, encontrá-la-á.
[3] Ibid. Pp 69.
[4] Leia-se Iavé
[5] CARSON, D. A.; MOO, Douglas J.; MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Editora Vida Nova, 1997.
[7] MACARTHUR, John. Doze homens comuns. A experiência das primeiras pessoas chamadas por Cristo para o discipulado. São Paulo: Editora Cultura Cristã. 2011, 2ª Ed. Pp 74.
[8] Doravante denominado de AT
[9] MACARTHUR, John. Doze homens comuns. A experiência das primeiras pessoas chamadas por Cristo para o discipulado. São Paulo: Editora Cultura Cristã. 2011, 2ª Ed. Pp 79.
[10] Disponível em: http://www.gotquestions.org/Portugues/morte-apostolos.html. Acessado em: 24/06/2015
[11] Nº 286 do Hinário Novo Cântico.

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