sábado, 17 de junho de 2017

Vencendo o Pecado

O que encobre as suas transgressões nunca prosperará, mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia. (Pv 28.13)

Nossa relação com Deus e a busca pela santidade perpassa pela realidade de nossa luta pelo pecado. Infelizmente, vivemos em dias como viveu Israel em muitos momentos, nos quais queria continuar cultuando ao Senhor, mas de forma meramente ritualística, de modo que não prezavam pela sinceridade (Is 1.10-17; Zc 1.2-6; Ml 1.6-14). Essa realidade continuou nos dias no NT e Jesus combateu fortemente a hipocrisia da religiosidade judaica, principalmente no sermão da montanha (Mt 5-7). O problema é que nós nos habituamos com o pecado e, conquanto condenamos alguns, praticamente cultuamos outros, principalmente aqueles que nós somos mais suscetíveis. Nossos momentos de confissão não passam de mera atitude de descargo de consciência para nos enganar a nós mesmos dizendo que “pelo menos somos sinceros diante de Deus” e reconhecemos nossas falhas. A bem da verdade, nós construímos muralhas ao redor dos pecados domésticos e nem sequer consideramos a necessidade de abandoná-los, embora sejamos ávidos para condenar os pecados alheios. Vivemos, como nos dias de Jesus, em que os religiosos foram tratados como hipócritas! O texto de Provérbios nos ensina que aquele que encobre seus pecados, continuará igual. Basta lembrar que enquanto Davi encobriu seus pecados, viveu sobre a tortura deste (Sl 32.3), mas apenas libertou-se ao confessá-lo e reconhecer-se pecador em essência (Sl 51.1-5), suplicando ao Senhor que trouxesse de volta a alegria que outrora havia na presença de Deus, que fora tirada pelo pecado (Sl 51.12), causando alívio após a confissão (Sl 32). O problema é quando estamos tão acostumados ao pecado que já não sofremos mais por cometê-lo e o tratamos como algo comum, normal, por vezes até como ato cultural e socialmente aceitáveis e nos escondemos atrás de nossa humanidade decaída para justificar nossa prática pecaminosa. O poeta sacro diz que só alcança misericórdia, da parte de Deus, aquele que confessa E DEIXA o pecado. Nosso problema é que na maioria das vezes não nos dispomos a deixá-lo e negligenciamos a tentação, subestimando o uso que satanás pode promover de tais situações para nos induzir ao erro, considerando a tendência natural do nosso coração para o mal. Jhon Owen, teólogo puritano do séc. XVII, diz:
O tipo de tentação usada pelo diabo é sempre uma tentativa de persuadir uma pessoa a pecar. Tal tentação visa a persuadir a pessoa a pecar de alguma, ou em todas as maneiras que se seguem: negligenciando os deveres que Deus lhe deu; alimentando o mal no seu coração; permitindo que satanás extraia o mal do seu coração; permitindo que de alguma maneira satanás o atraia afastando-o da comunhão com Deus; deixando de dar a Deus a obediência constante, plena e universal que Ele exige (incluindo a maneira como esta obediência é prestada)[1]
Mesmo que nós não enxerguemos dolo em alguns de nossos atos, mesmo tendo consciência de que é pecado, o propósito de satanás neles e com ele é o exposto pelas palavras de Owen. Contudo, Infelizmente, nossa vontade de estar bem com Deus é menor do que a vontade de estar bem com nosso coração enganoso (Jr 17.9), que deve ser bem guardado (Pv. 4.23), e de estar bem conosco mesmo e com nossas vontades. Sempre que temos de optar por um ou outro bem estar, optaremos por negligenciar Deus e por satisfazer nossas vontades. Essa realidade somente pode ser diferente se nós nos submetermos a Deus (Tg 4.7). Mas, para mudar essa situação, precisamos: 1) tratar pecado como pecado, ato de rebeldia contra Deus. Precisamos parar de diminuir os nossos atos e classificá-los apenas como erro de/no percurso e viver como se isso, de fato, fosse atenuar nossa falta. Diante de Deus, todos os pecados causam separação entre nós e o nosso Deus (Is 59.2) e levam-nos a morte eterna (Ez 18.4; Rm 6.23). Podemos enfeitar, podemos apelar para questões morais como mais ou menos desastrosas para a sociedade, mas a vara que mede esta questão é a de Deus, não da sociedade. Podemos encontrar conseqüências maiores ou menores entre a sociedade, mas estamos tratando da questão diante de Deus. Todo ato pecaminoso é, decidida e resolutamente se rebelar contra Deus. Lembremos que nem tudo pode ser pecado em si. Mas precisamos lembrar que, se nossos atos escandalizam nossos irmãos ou os incrédulos, é preciso que abandonemos, pois o “causar escândalo” e o ser “pedra de tropeço” é pecado (1Co 10.23-33; Mt 18.6-11). Essas questões precisam ser tratadas com a devida seriedade; 2) Pedir ao Senhor que não nos deixe normalizar a prática e a ter horror aos pecados, mesmo os de estimação. Evidentemente que existem pecados que não conseguimos nem sequer querer abandonar, pois está tão entranhado em nós que constitui parte de quem somos, em nossa antiga natureza. Além disso, a verdade e que o pecado traz, momentaneamente, um prazer. Gostamos de pecar e, naturalmente, não conseguimos superar isso. O Cristão recebe do Senhor liberdade para poder lutar contra o pecado e não cair por naturalidade, além de sermos entristecidos pelo pecado (Sl 51). Não podemos viver sem horror ao pecado. Precisamos ter asco dele e nos ressentir ao cometê-lo. Se já o tratamos como natural, não nos ressentimos e, pior, gostamos de gostar do pecado, é sinal de que o Espírito não age em nós, já q é Ele quem convence do pecado e vive em constante tensão com nossa velha natureza (Gl 5.17); 3) parar de dar desculpas para continuar praticando-os. Pare de querer justificar-se ao pecar. Deus, que conhece todas as coisas, sabe muito melhor do que nós as razões que nos levam ao tropeço. Como já salientado, o pecado não está medido na nossa consciência, mas na de Deus. Apontar outros erros como maiores que os teus, apelar para a existência de pessoas que erram mais que tu, dizer que seus erros são moralmente melhores do que outros ou qualquer outra desculpa. É preciso que olhemos para nossos erros como erros de fato e nos humilharmos, não nos exaltarmos, neles, com eles, por causa deles ou por abandonarmos eles. O pecado nos traz humilhação e não exaltação; 4) confessá-los ao Senhor e abandoná-los. Não adianta confessar e nem sequer lutar para abandonar o erro. Isso é hipocrisia! Precisamos lutar para deixar de errar e nos constranger quando cometermos qualquer pecado que seja. Evidentemente que a situação não é simples e não será fácil. É possível que lutemos a vida inteira. Mas o que não podemos fazer é deixar de lutar, com todas as nossas forças e com todas as armas que Deus nos concede, por Seu Espírito, para nos preparar para essa árdua tarefa que é vencer a nós mesmos e abandonar nossos pecados. Façamos como o poeta e supliquemos a Deus que, a cada dia, torne-nos santos até alcançarmos a perfeição[2].
1 Mais pureza dá-me, mais horror ao mal,
Mais calma em pesares, mais alto ideal;
Mais fé no meu Mestre, mais consagração,
Mais gozo em servi-lo, mais grata oração
2 Mais prudência dá-me, mais paz, meu Senhor,
Mais firmeza em Cristo, mais força na dor;
Mais reto me torna, mais triste ao pecar,
Mais humilde filho, mais pronto em te amar.
3 Mais confiança dá-me, mais força em Jesus,
Mais do seu domínio, mais da sua luz;
Mais rica esperança, mais obras aqui,
Mais ânsias da Glória, mais vida em ti. Amém.
(Ph. P. Bliss – A. F. de Campos)





[1] OWEN, John. Tentação e mortificação do pecado. O que todo cristão precisa saber. São Paulo: Pes - Publicações Evangélicas Selecionadas. Pp 14
[2] Nº 121 do Hinário Novo Cântico, da Igreja Presbiteriana do Brasil

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